Da esquerda para a direita: Oliver Philips (Barclays), Ana Luci Grazzi (ALG sustentabilidade), Suelma Rosa (Pepsico) e Fábio Kono (BNDES), painelistas do evento Finanças Sustentáveis e Investimentos Responsáveis: O Futuro do Capital no Brasil – Foto: Divulgação
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Barclays Investment Bank reúne líderes do setor para debater inovação financeira e mobilização de capital sustentável
O Barclays Investment Bank, uma das instituições financeiras mais influentes do mundo, reafirmou seu compromisso com a sustentabilidade ao sediar, na segunda semana de março, a segunda edição do evento Finanças Sustentáveis e Investimentos Responsáveis. Em parceria com a green4T, empresa líder em gestão e operação de ambientes de missão crítica, o encontro reuniu especialistas, investidores e representantes do setor público e privado para discutir o papel do mercado financeiro na aceleração da transição verde no Brasil.
Para Glauco Marques, Head of Barclays Brazil Distribution, “Eventos como este são fundamentais para conectar capital, conhecimento e propósito em torno de um desafio comum: acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. Ao reunir diferentes setores, criamos pontes entre ideias e investimentos, transformando diálogo em ação concreta. O Brasil tem tudo para liderar essa transformação global — e o mercado financeiro tem um papel decisivo, não apenas como financiador, mas como protagonista de soluções com impacto real e duradouro.”
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Com a proximidade da COP30, que será realizada no Brasil, a urgência de novas estratégias para mobilização de capital e mitigação dos impactos climáticos nunca foi tão evidente. O evento revelou não apenas os desafios, mas também as oportunidades e inovações que podem transformar a economia sustentável em uma força motriz para o desenvolvimento do país.
O risco de não fazer nada
A abertura do evento trouxe uma reflexão crucial: ignorar a urgência climática já custa caro. Entre 2013 e 2023, eventos climáticos extremos no Brasil causaram perdas econômicas superiores a R$ 520 bilhões, impactando cadeias produtivas, infraestrutura e comunidades vulneráveis.
Diante desse cenário, a pergunta-chave que norteou o primeiro painel foi: como o mercado financeiro pode acelerar a mobilização de capital sustentável para fortalecer a resiliência climática no Brasil?
Mobilização de capital e oportunidades para o Brasil
Fábio Kono, representante do BNDES, destacou o papel estratégico do banco no financiamento de iniciativas sustentáveis, ressaltando que o Brasil, ao contrário de muitas economias do G20, possui uma matriz energética majoritariamente limpa. Essa vantagem competitiva deve ser explorada para atrair capital internacional e estimular cadeias produtivas de baixo carbono, como combustíveis sustentáveis e fertilizantes verdes.
No entanto, ele alertou para um problema crítico: o setor público, sozinho, não conseguirá sustentar essa transição. A participação ativa do setor privado é indispensável, e o BNDES se posiciona como um conector entre projetos inovadores, investidores e financiadores.
Ana Luci Grizzi, especialista em sustentabilidade, reforçou a necessidade de inovação financeira. Produtos tradicionais não são suficientes para financiar a transição verde. O mercado precisa desenvolver novos mecanismos para tornar projetos sustentáveis mais atraentes para investidores. Um exemplo? O agronegócio, responsável por 25% das emissões nacionais e 30% do PIB. Estruturar fundos específicos para financiar práticas regenerativas nesse setor pode transformar desafios em oportunidades.
Resiliência climática: o que as empresas precisam fazer?
A vice-presidente de Assuntos Corporativos da PepsiCo, Suelma Rosa, trouxe uma visão prática sobre como grandes corporações podem incorporar estratégias de adaptação e mitigação climática em seus negócios. Segundo ela, é essencial:
1️⃣ Compreender os impactos climáticos na operação – Eventos climáticos extremos podem desestruturar cadeias produtivas, como ocorreu no Rio Grande do Sul com as enchentes de 2023.
2️⃣ Construir cadeias de valor resilientes – A PepsiCo, por exemplo, desenvolve parcerias diretas com agricultores para reduzir riscos e garantir suprimento sustentável.
3️⃣ Apostar no financiamento misto (blended finance) – Combinar capital público e privado para reduzir riscos e viabilizar projetos sustentáveis.
Mercado de carbono: o Brasil na vanguarda global
O painel dedicado ao mercado de carbono mostrou que, com a regulamentação em andamento no Brasil, o setor pode se tornar um dos mais lucrativos e estratégicos para a transição verde. Arthur Gonçalves, do Banco do Brasil, ressaltou que o país tem potencial para gerar até US$ 125 bilhões em créditos de carbono nos próximos anos.
Entre os desafios e soluções discutidos, destacam-se:
📌 Monitoramento e transparência – A credibilidade dos créditos de carbono é fundamental para atrair investidores internacionais.
📌 Precificação eficiente – O Brasil precisa conectar seu mercado ao internacional, onde os créditos chegam a valer US$ 80, enquanto aqui giram em torno de US$ 10 a US$ 15.
📌 Integração com mercados globais – O aprendizado com modelos europeus e norte-americanos pode acelerar a evolução do setor no Brasil.
Soluções tecnológicas para segurança hídrica
A questão da água também teve destaque. Munir Abud, CEO da CESAM, trouxe a experiência do Espírito Santo, que está à frente de projetos de dessalinização e reúso de água. Já Majory Imai, cofundadora da Cian e da ModClima, apresentou uma tecnologia inovadora para indução de chuvas com água potável, que pode ser uma ferramenta fundamental para combater crises hídricas e prevenir incêndios florestais.
“Se adotarmos planos climáticos integrados, envolvendo empresas e financiadores, podemos reduzir significativamente os impactos das mudanças climáticas”, enfatizou Maju.
O caminho para a COP30 e o papel do Brasil
O evento encerrou com um olhar para a COP30 e as expectativas em torno do papel do Brasil na agenda global de sustentabilidade. O professor Carlos Braga, ex-diretor do Banco Mundial, destacou que a saída dos EUA do Acordo de Paris pode criar um vácuo na liderança climática, mas também abre espaço para que o Brasil assuma um protagonismo inédito.
A mensagem final do evento foi clara: sustentabilidade não é apenas uma responsabilidade moral, mas um imperativo econômico. Empresas que investem em práticas sustentáveis não apenas protegem o meio ambiente, mas também geram valor de longo prazo e reduzem riscos financeiros.
O desafio agora é transformar discurso em ação. O futuro das finanças sustentáveis no Brasil depende de inovação, colaboração e, acima de tudo, compromisso com um modelo econômico resiliente e inclusivo.
O evento Finanças Sustentáveis e Investimentos Responsáveis consolidou o Brasil como um dos epicentros do debate global sobre a transição verde. O engajamento de bancos, empresas e governos mostra que há um caminho viável para transformar sustentabilidade em vantagem competitiva.
A COP30 será o próximo grande teste. Resta saber se o Brasil conseguirá traduzir as discussões em políticas concretas e investimentos estratégicos para um futuro mais sustentável.
O momento de agir é agora.