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POR – FABIO ALPEROWITCH
Ao longo das últimas edições da Conferência das Partes (COP), as florestas tropicais — com razão — ocuparam o centro das discussões climáticas. A Amazônia, em especial, tornou-se símbolo da luta pela preservação ambiental. No entanto, há um protagonista silencioso, muitas vezes ignorado, cuja capacidade de absorver carbono e regular o clima global é tão vital quanto as florestas: os oceanos.
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Cerca de 71% da superfície da Terra é coberta por água, e os oceanos absorvem aproximadamente 25% de todo o CO₂ emitido pela atividade humana a cada ano. Além disso, retiram mais de 90% do excesso de calor gerado pelo efeito estufa. Ainda assim, permanecem sub-representados na governança climática global. Isso precisa mudar — e a COP 30, que acontecerá no Brasil, país com mais de 8.500 km de costa atlântica, tem a oportunidade histórica de corrigir esse desequilíbrio.
O conceito de carbono azul, que abrange os ecossistemas costeiros como manguezais, marismas e pradarias marinhas, ainda é pouco debatido nos círculos diplomáticos e técnicos da ONU. Esses ambientes têm capacidade de sequestro de carbono por hectare até quatro vezes superior às florestas tropicais terrestres, além de exercerem funções cruciais na proteção das comunidades costeiras frente ao aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos.
No Brasil, os manguezais, por exemplo, ocupam cerca de 13% da costa nacional e estão entre os mais extensos e bem preservados do mundo. No entanto, sua degradação segue em curso silencioso, muitas vezes em nome da especulação imobiliária e da expansão portuária. A falta de atenção a esses ecossistemas não é apenas uma omissão ambiental — é uma oportunidade perdida de combater as mudanças climáticas com eficácia baseada na natureza.
Como disse a oceanógrafa Sylvia Earle, “sem azul, não há verde”. Não há Amazônia que sobreviva a um colapso do ciclo hídrico. Não há planeta habitável sem oceanos saudáveis. Não haverá futuro climático justo sem integrar a costa, o mar e seus povos na construção de soluções.
A próxima COP será realizada no Pará, um estado com extensa costa e influência direta da zona costeira amazônica. Não se pode falar em justiça climática, preservação da biodiversidade ou desenvolvimento sustentável sem integrar os oceanos à equação. É preciso ir além da retórica da floresta e reconhecer que o Brasil é uma potência marinha, com vasto capital natural subvalorizado.
Defender os oceanos não é apenas uma questão ecológica, mas estratégica. Trata-se de incorporar à política climática uma visão mais ampla e sistêmica da biosfera. A ciência já deixou claro que não haverá solução climática duradoura sem a regeneração dos ecossistemas oceânicos.
A COP 30 oferece uma oportunidade inédita para o Brasil liderar uma nova agenda: uma que reconheça o oceano como protagonista da luta climática. Não se trata de competir com a floresta, mas de ampliar o campo de visão. Trazer o oceano para o centro do debate é, antes de tudo, um ato de lucidez científica e de responsabilidade com a agenda climática.
É hora de incluir o mar nas mesas de negociação. A COP 30 deve ser lembrada como a edição que finalmente compreendeu que descarbonizar a economia exige também descarbonizar a nossa relação com os oceanos — reconhecendo-os como sumidouros naturais, berços de biodiversidade e guardiões invisíveis do equilíbrio planetário.
Investidor, ambientalista e ativista, comprometido em causar impacto positivo no mundo através de investimentos sustentáveis. Casado e pai de cinco filhos, fundei a fama re.capital em 1993, quando tinha apenas 21 anos, estabelecendo um caminho pioneiro no campo dos investimentos responsáveis. Além da minha carreira na fama re.capital, fundei quatro ONGs dedicadas a diversas causas sociais e ambientais. Atualmente, tenho o privilégio de servir no conselho de várias organizações proeminentes, incluindo a WWF Brasil, Instituto Ethos e o Pacto pela Equidade Racial, onde continuo a promover a sustentabilidade e a equidade. Fui honrado ao ser selecionado entre os 99 melhores investidores do mundo na publicação “The World’s 99 Greatest Investors”.