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POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Ao se tornar o primeiro país a incluir oficialmente a cultura oceânica no currículo escolar, o Brasil inaugura uma nova era na educação ambiental global — onde consciência, ciência e pertencimento formam a bússola de uma cidadania planetária
Num tempo em que o planeta clama por respostas, o Brasil oferece um gesto de rara grandeza: transforma o oceano em conhecimento e o conhecimento em política pública. Com a assinatura do Protocolo de Intenções do Currículo Azul, o país tornou-se o primeiro do mundo a oficializar a inclusão da cultura oceânica nos currículos escolares nacionais — uma decisão histórica que reverbera como farol em meio às turbulências da crise climática global.
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Mais que um compromisso educacional, trata-se de um ato civilizatório, uma declaração de que o futuro sustentável começa com aquilo que ensinamos às nossas crianças sobre o mundo — e sobre a imensidão azul que o sustenta.
Uma virada de maré no coração da educação
O anúncio foi feito durante o Fórum Internacional Currículo Azul, realizado em Brasília, com a presença de representantes da UNESCO, ministérios, cientistas, educadores e jovens de todo o Brasil. A partir desse marco, a cultura oceânica passa a integrar os currículos escolares, adaptada às realidades regionais, como elemento estruturante de uma formação que valoriza ciência, ética ambiental e senso de pertencimento.
“O lançamento do Currículo Azul não é um ponto de partida, mas a consolidação de um processo vivo, coletivo e comprometido com o amanhã. É um gesto de soberania e de visão estratégica: um país que compreende a importância do oceano está mais preparado para os desafios do século XXI”, afirmou a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
Cultura oceânica: consciência que brota das marés
O conceito de cultura oceânica ultrapassa os limites da geografia. Ele propõe um novo imaginário sobre o oceano: não mais como cenário distante ou recurso a ser explorado, mas como regulador do clima, fonte de vida, guardiã da biodiversidade e catalisadora de soluções sustentáveis. Trata-se de formar cidadãos que reconheçam o oceano como parte de si, da sua história e do seu destino coletivo.
“A liderança do Brasil reflete a missão da UNESCO: unir governos e comunidades científicas na construção do oceano que precisamos para o futuro que queremos. E esse futuro só será possível por meio da educação”, celebrou Vidar Helgesen, secretário-executivo da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO.
Santos iniciou a travessia, o Brasil leva o mundo adiante
O que hoje se consagra como política nacional começou em 2021, em Santos (SP), a primeira cidade do mundo a incluir oficialmente a cultura oceânica nos currículos escolares. De lá para cá, o Brasil construiu uma rede viva: mais de 100 mil estudantes engajados, 22 estados mobilizados, clubes de ciência, olimpíadas do oceano e um ecossistema de inovação educativa em pleno florescimento.
Agora, com a assinatura do Currículo Azul em âmbito federal, essa experiência se transforma em referência internacional — exemplo de como escuta social, ciência e vontade política podem se unir para transformar o presente e moldar um futuro resiliente.
“O Currículo Azul é a materialização de um desejo coletivo. É dar vida à aspiração de formar cidadãos que compreendam a importância do oceano para o Brasil e para a resiliência climática global”, declarou Ronaldo Christofoletti, da Universidade Federal de São Paulo e copresidente do Grupo de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO.
Educação como alicerce da justiça climática
Num cenário de colapso climático, em que o oceano aquece, sobe e adoece, incluir sua centralidade no currículo é uma resposta urgente. É reconhecer que não há justiça climática sem consciência oceânica, e que só haverá desenvolvimento sustentável se as futuras gerações forem preparadas para cuidar do mundo com empatia, ciência e imaginação.
Mais que formar alunos, o Currículo Azul busca formar guardadores do futuro — jovens que compreendam os ciclos da água, as dinâmicas da vida marinha, os impactos da poluição e as conexões entre o oceano e a saúde, a economia, a cultura e a paz.
Um país oceânico assume seu papel no mundo
O Brasil — por história, geografia e alma — é um país oceânico. E agora, ao colocar o mar no centro da educação, retoma sua identidade mais profunda. Faz do oceano não um limite, mas um horizonte pedagógico. Um lugar de pertencimento e de esperança.
Com iniciativas como a formação de professores em cultura oceânica, a criação de clubes científicos para meninas, expansão da Olimpíada Brasileira do Oceano para mais de 15 países e eventos como a SP OCEAN WEEK e RIO OCEAN WEEK, o país demonstra que está não apenas aderindo a uma agenda internacional — mas liderando um movimento global pela transformação da consciência planetária.
A travessia começa aqui
O oceano começa onde começa a consciência. E o Brasil, agora, ensina ao mundo que essa consciência deve ser cultivada desde cedo — nas salas de aula, nos livros, nas vivências, nas margens da curiosidade infantil.
Ao lançar o Currículo Azul, o país ergue sua voz como um convite coletivo à reinvenção da nossa relação com o planeta. Um gesto político, poético e pedagógico. Uma travessia rumo a uma nova maré.