Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Pará. – Foto: Helder Lana
POR – OSCAR LOPES*, PUBLISHER DE NEO MONDO
Em uma imersão inédita em Altamira (PA), o jornalista Oscar Lopes revela o que está por trás das polêmicas sobre a Usina de Belo Monte — direto da fonte, com dados, entrevistas e perspectivas locais que desafiam os discursos distantes
Falar sobre Belo Monte é como abrir um livro de múltiplas camadas: há fatos, disputas, silêncios, estatísticas — e muitas interpretações. Para além das manchetes e das ideologias, o que falta, muitas vezes, é presença. E foi exatamente isso que fiz entre os dias 23 e 25 de abril, quando estive em Altamira, no sudoeste do Pará, para uma imersão jornalística na realidade da Usina Hidrelétrica de Belo Monte — um dos maiores empreendimentos de infraestrutura da América Latina e, também, um dos mais polêmicos.
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Fui a campo com espírito investigativo e mente aberta. Queria olhar de perto, conversar com quem está à frente da operação e ouvir o que muitas vezes não chega aos grandes centros urbanos. A convite da Norte Energia, percorri a usina, visitei áreas de reflorestamento, reassentamentos urbanos, escolas, postos de saúde, estações de saneamento — e, principalmente, escutei.
Entre as conversas mais reveladoras, destaco a entrevista que realizei com dois porta-vozes estratégicos da companhia: Bruno Bahiana, superintendente Socioambiental e do Componente Indígena, e Maria Mazzei, gerente de Comunicação e Imprensa. Com franqueza e dados na ponta da língua, eles responderam a questões delicadas, como a sazonalidade da geração, os impactos ambientais na Volta Grande do Xingu, a relação com os povos indígenas e o esforço para reposicionar a imagem pública de Belo Monte.
Bruno Bahiana reconhece a complexidade do projeto, mas faz questão de enfatizar a evolução técnica e ambiental desde sua concepção. “As previsões iniciais dos estudos de impacto apontavam para riscos de alta magnitude. Hoje, passados 14 anos, oito dos dez indicadores monitorados apresentam riscos baixos ou impactos positivos. São dados consolidados por cientistas de universidades públicas que compõem o nosso board de monitoramento.”
Ele também ressaltou iniciativas como o programa de reflorestamento com mais de 2,2 milhões de mudas plantadas, a meta de alcançar 5,5 milhões até 2045 e a constatação — feita pela COPPE/UFRJ — de que Belo Monte é a hidrelétrica com menor emissão de gases de efeito estufa no bioma amazônico.
No plano energético, os números impressionam: 11.233 MW de potência instalada, o equivalente a 18 usinas nucleares como Angra I, e 6% de toda a energia consumida no Brasil no primeiro semestre de 2024. Segundo Bahiana, Belo Monte funciona como uma “bateria estratégica do sistema nacional”, permitindo que outras regiões poupem água em seus reservatórios.
Mas não foi só de dados técnicos que a visita se fez. Em Altamira, onde antes se via um cenário de exclusão e precariedade urbana, hoje há reassentamentos com infraestrutura completa, escolas bem equipadas, redes de esgoto que atendem 92% da cidade, hospitais e uma queda de 99% nos casos de malária. São transformações reais, perceptíveis — e confirmadas por pesquisas de campo.
Maria Mazzei, por sua vez, enfatiza a mudança na percepção local. “Levantamentos mostram que 75% da população reconhece Belo Monte como uma presença positiva. A maioria associa essa mudança ao acesso ao emprego formal, à infraestrutura urbana e aos investimentos em saúde e educação. Esse é o legado que queremos consolidar: desenvolvimento com responsabilidade.”
Com olhar pragmático e crítica serena, ela também aponta o que ainda precisa melhorar: “Nosso maior desafio hoje é superar a desinformação, muitas vezes reproduzida por quem nunca pisou aqui. Você veio, viu, perguntou. E tenho certeza de que voltou com uma leitura mais ampla sobre o que Belo Monte representa — para o país e para a região.”
E é verdade. Voltei com muito mais perguntas, mas também com mais perspectiva. Se há lições em Belo Monte, uma delas talvez seja esta: a complexidade exige nuance. A floresta, o rio, as comunidades e a engenharia não cabem em verdades absolutas. Há impactos, há avanços, há contradições — e há histórias que só se conhecem de perto.
A seguir, convido você a acompanhar, na íntegra, minha entrevista com Bruno Bahiana e Maria Mazzei. Uma oportunidade rara de ouvir, direto da fonte, como Belo Monte se defende, se transforma e se projeta para o futuro.
Bruno Bahiana, superintendente Socioambiental e do Componente Indígena
Desde o início, Belo Monte foi alvo de críticas sobre sua viabilidade energética e impactos socioambientais. Na visão da Norte Energia, o projeto foi corretamente planejado? O que teria sido feito diferente, com o aprendizado atual?
É importante ressaltar que o projeto do Complexo Hidrelétrico Belo Monte foi concebido com base em estudos ambientais criteriosos, conduzidos por entidades de reconhecimento nacional, tendo como premissa o equilíbrio entre não alagar Terras Indígenas, preservar a biodiversidade e os modos de vida na Volta Grande do Xingu sob os aspectos socioambientais, e gerar para o país grande capacidade de produção de energia durante o inverno amazônico, entre dezembro e maio. Da mesma forma, a geração de energia nos demais meses do ano acompanha e respeita a sazonalidade do rio. Hoje, por exemplo, a usina está operando com sua capacidade total, 11.000 MW, especialmente no horário de pico de consumo entre 17h e 22h, e a vazão afluente no rio está na ordem de 17.500 m³/s.
O projeto passou por alterações desde a primeira proposta, elaborada pelo Estado brasileiro entre 1975 e 1980. Em outubro de 2007, foi finalizada uma atualização dos estudos de Inventário Hidrelétrico da bacia do rio Xingu e definidos novos locais para o aproveitamento hidrelétrico. Em atenção às comunidades ribeirinhas e indígenas e ao ecossistema da Volta Grande do Xingu, a área total efetivamente alagável foi reduzida de 3% para 0,04% da bacia, se comparada com o primeiro inventário.
Vale ressaltar que todas as previsões feitas no Estudo de Impacto Ambiental, na ocasião da construção de Belo Monte, há 14 anos, tinham um panorama de alta magnitude. No entanto, o impacto real causado até o momento nos dez indicativos (velocidade da água, transporte de sedimentos, floresta aluvial inundada, peixes, pesca, rendimento da pesca, condição de vida dos pescadores, mustelídeos e quelônios) apresenta outro cenário. Para a velocidade da água e rendimento da pesca, por exemplo, o indicativo apresentado é de médio risco; para os outros oito, a realidade atual é de baixo risco e/ou impactos positivos. Esses são dados de cientistas renomados de universidades públicas do Brasil, integrantes do board de monitoramento constituído pela Norte Energia.
Além disso, a companhia promove iniciativas voltadas ao reflorestamento na região da usina. A Norte Energia, por meio de seus programas de Conservação da Flora e Recomposição da Cobertura Vegetal, utilizando mão de obra local, plantou até hoje um total de 2.295.509 mudas de 164 espécies diferentes de plantas, o que representa mais de 3 mil campos de futebol. O objetivo é ajudar na recomposição da área e mitigar as emissões de CO₂ na atmosfera. A meta da companhia é plantar 5,5 milhões de mudas, recuperando 7,6 mil hectares até 2045.
Esses resultados foram alcançados por meio dos programas de reflorestamento da empresa no Médio Xingu, executados desde 2011. Um deles é o Programa de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), que tem como objetivo o planejamento, a execução e o monitoramento de ações voltadas à recuperação ambiental das áreas impactadas durante e após a implantação das obras civis da Usina Hidrelétrica Belo Monte. Além disso, o licenciamento ambiental do empreendimento compreende o Programa de Recomposição da Cobertura Vegetal, executado nas Áreas de Preservação Permanente (APP) dos reservatórios da hidrelétrica. Soma-se a esse montante o número de mudas doadas pela empresa. As APPs são áreas legalmente protegidas, que desempenham um papel vital na manutenção do equilíbrio ecológico ao promover a qualidade do ar, regular o ciclo da água e proteger o solo.
Vale informar também que Belo Monte é, ainda, a hidrelétrica que menos emite gases de efeito estufa no bioma amazônico, segundo pesquisa do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo constatou que a usina é a quinta mais eficiente do Brasil em termos de taxa de intensidade de gases poluentes e calcula que, entre 5 e 10 anos, a área alagada do empreendimento apresentará, progressivamente, emissões ainda menores.
Como a Norte Energia responde à crítica de que o desempenho da usina é sazonal e abaixo da capacidade instalada? Existe uma narrativa técnica que justifique esse modelo?
Belo Monte é hoje a maior hidrelétrica 100% brasileira e a quinta maior do mundo. Gera energia limpa e renovável suficiente para atender 60 milhões de pessoas. Sua potência instalada se aproxima da de 18 usinas termonucleares como Angra I e tem capacidade de atender, sozinha, 25% da população brasileira, com capacidade instalada de 11.233,1 MW e garantia física média de 4.571 MW de geração de energia limpa.
Além de gerar grande quantidade de energia limpa e renovável, é relevante explicar que Belo Monte atua como uma espécie de bateria do sistema energético, ajudando na reserva do país. Isso porque, no período em que a hidrelétrica está gerando alta quantidade de energia, permite a recuperação dos reservatórios das regiões Centro-Oeste e Sudeste, reduzindo a pressão sobre eles e diminuindo a necessidade de acionamento de fontes de energia poluentes. Essa energia começa a ser liberada pelo Sudeste quando a Usina Hidrelétrica Belo Monte, por consequência da diminuição da vazão do rio Xingu, devido à sazonalidade da região amazônica, precisa reduzir sua geração.
No primeiro trimestre deste ano, Belo Monte foi a hidrelétrica 100% brasileira que mais gerou energia para o país, respondendo por 9% de toda a demanda nacional. A produção da usina, de janeiro a março, foi de 15.842.794 MWh, o equivalente ao consumo de 40 milhões de residências. Essa quantidade de energia elétrica corresponde ao atendimento de todos os domicílios da região Sudeste durante o mesmo período. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Com uma produção média de 7.334 MWmed no trimestre, a usina reforçou seu papel fundamental de garantir segurança para o sistema elétrico brasileiro. No dia 21 de janeiro, por exemplo, Belo Monte chegou a fornecer, sozinha, 12% da energia consumida no Brasil no horário entre 17h e 22h, que é quando ocorre o pico de consumo no país.
O resultado da geração de Belo Monte acontece em um período marcado por ondas de calor que levaram o Brasil a registrar sucessivos recordes de consumo de energia. O último deles foi em 26 de fevereiro, às 14h24, quando o país atingiu a marca de 106.536 MW de demanda instantânea no Sistema Interligado Nacional (SIN). Naquele dia, Belo Monte foi a hidrelétrica que mais contribuiu para o atendimento nacional, gerando, sozinha, 8.325 MW, aproximadamente 8% do que o país precisava. O percentual equivale à demanda de 45,4 milhões de pessoas.
Em 2024, considerando o primeiro semestre do ano, Belo Monte foi a hidrelétrica 100% brasileira que mais gerou energia renovável e limpa para o Brasil, apesar dos efeitos do El Niño, que reduziram as chuvas na região Norte. A usina produziu 6% (20.414 GWh) de toda a energia utilizada no país, o equivalente ao consumo de 20 milhões de residências. Essa quantidade gerada por Belo Monte entre janeiro e junho deste ano é suficiente para abastecer todos os domicílios das regiões Norte e Centro-Oeste e mais o estado do Rio de Janeiro, durante o mesmo período.
A produção de Belo Monte também se mostra fundamental ao evitar o acionamento de fontes de energia poluentes e mais caras para a população, principalmente em momentos de pico de consumo nacional. Somente em 2025, a geração da usina evitou que 5,3 milhões de toneladas de CO₂ fossem lançadas na atmosfera, quando comparada às emissões de uma usina termelétrica a gás, no mesmo período. O cálculo considerou a geração até 17 de março e foi feito com base no Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), maior autoridade mundial sobre aquecimento global.
Esses resultados demonstram que a usina vem contribuindo significativamente para a segurança energética nacional, colabora para a manutenção dos níveis dos reservatórios do país e sua produção diminui a necessidade do acionamento de fontes de energia poluentes e mais caras para a população, principalmente em momentos de pico de consumo.
Diversos especialistas afirmam que o Rio Xingu está em processo de colapso ecológico. A Norte Energia reconhece esses impactos? Há planos para mitigar os danos ambientais que já ocorreram?
Cabe esclarecer que estudo disponível ao público no site do ONS demonstra que Belo Monte não promove a seca no rio Xingu, jogando por terra a narrativa de que a usina é responsável pelas secas durante o verão amazônico, entre junho e novembro, quando, na verdade, elas já ocorrem naturalmente.
De acordo com dados do ONS, entre 1931 e 2007 houve 17 ocorrências de vazões médias mensais abaixo de 700 m³/s, sendo que a menor vazão mensal já registrada no Xingu foi de 380 m³/s, em outubro de 1969. Os estudos mostram, portanto, que o rio possui grande variação natural de vazões ao longo do ano. Em seus períodos de cheia, por exemplo, pode atingir valores acima de 20.000 m³/s mensais e chegar abaixo de 700 m³/s nos períodos de seca. A título de referência, a vazão média histórica do Xingu é de 10.921 m³/s.
Sobre a quantidade de água (hidrograma) destinada à região da Volta Grande do Xingu, vale destacar que foi estudada e estabelecida pelo Estado brasileiro no âmbito do leilão de concessão da hidrelétrica e é parte integrante do licenciamento ambiental da usina. Na ocasião, foram estabelecidos dois hidrogramas que se alternariam anualmente, com vazões previstas para cada mês do ano, baseadas em estudos técnicos e etnoecológicos, visando assegurar a manutenção da qualidade da água, da conservação da ictiofauna, da vegetação aluvial, dos quelônios, da pesca e da navegação, além dos modos de vida da população na região.
Quanto à alegação de redução da pesca, os resultados de monitoramentos do Projeto Básico Ambiental (PBA) da Usina Belo Monte, conduzidos pela Universidade Federal do Pará (UFPA), demonstram que a maioria das espécies manteve a proporção de peixes maduros ao longo de 12 anos de estudo na região da Volta Grande do Xingu. Algumas espécies tiveram mudanças no padrão de reprodução, cenário previsto no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do empreendimento. Contudo, não ocorreu a extinção de qualquer espécie de peixe nas áreas de influência do empreendimento.
Adicionalmente, ações de mitigação e compensação vêm sendo implementadas no âmbito do PBA, como: destinação de recursos à compensação ambiental para proteção e manutenção de sítios reprodutivos e de alimentação da fauna; projeto experimental com desenvolvimento de protocolos de reprodução de espécies de peixes nativas do Xingu e de interesse social; implantação de laboratórios de ecologia e de reprodução de peixes na UFPA; recomposição da vegetação na Área de Preservação Permanente (APP), de modo a manter os ambientes de reprodução e alimentação; fortalecimento das ações produtivas de subsistência com famílias ribeirinhas e pescadores; ações de saneamento por meio da melhoria de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário; implantação de antenas satelitais e manutenção do sinal de internet, entre outras ações visando ao desenvolvimento local das populações da Volta Grande do Xingu.
Durante a construção, Belo Monte gerou milhares de empregos diretos e indiretos. Quais foram os principais resultados para a economia local e como a empresa avalia esse impacto hoje?
Cabe ressaltar que, na Norte Energia, temos consciência do nosso papel como agente de desenvolvimento social, econômico e sustentável, realizando de forma contínua ações em prol do meio ambiente e da população local.
Geramos cerca de 330 empregos diretos e 1.020 indiretos. Em nossas contratações, privilegiamos a mão de obra local.
É importante destacar que, somente em ações socioambientais, os investimentos da Norte Energia na região da usina ultrapassam R$ 8 bilhões. Para as comunidades indígenas, foram destinados R$ 1,3 bilhão, com a execução de 42 programas e projetos aprovados pela Funai em 2012, com destaque para educação, saúde, preservação do patrimônio cultural, atividades produtivas e proteção territorial. A empresa também estruturou e mantém, desde 2015, o Centro de Monitoramento Remoto da Funai, que vigia 98% das Terras Indígenas do país, onde vivem 868 mil indígenas.
Antes de Belo Monte, a população indígena na região era de aproximadamente 3 mil pessoas, distribuídas em 26 aldeias. Atualmente, são atendidos 5.800 indígenas, sendo 5.132 habitantes de 157 aldeias do Médio Xingu e 664 em contexto urbano/ribeirinho, pertencentes a nove etnias diferentes — o que demonstra o crescimento da população indígena.
Vale ressaltar que, desde que começou a gerar energia, há oito anos, Belo Monte já pagou R$ 1,2 bilhão em royalties de Compensação Financeira pelo Uso dos Recursos Hídricos (CFURH) até 2024. O montante é distribuído pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aos estados e municípios de atuação do empreendimento, ao Governo Federal e a órgãos da administração direta da União. O Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRSX), promovido pela Norte Energia, prevê a destinação de R$ 500 milhões para a localidade.
A Norte Energia desenvolveu mais de 30 programas socioambientais. Quais são os destaques desses programas em termos de resultados efetivos? Há indicadores que possam ser compartilhados?
A construção de Belo Monte teve como contrapartida investimentos da Norte Energia em diferentes áreas de atuação, inclusive em relação às obras estruturantes na cidade de Altamira, a mais populosa do entorno da hidrelétrica, onde já foram investidos mais de R$ 1,5 bilhão em infraestrutura. São ações transformadoras, que vêm proporcionando melhor qualidade de vida e moradia para a população. Destacam-se os investimentos em saneamento básico, habitação, saúde, educação, meio ambiente, melhorias do espaço urbano, capacitação de pessoas, geração de empregos e programas específicos voltados às populações indígenas.
A Norte Energia ampliou o sistema de abastecimento de água potável, construiu 510 km de redes de água e esgoto, conectando 19 mil imóveis, e implantou 92% da rede de saneamento de Altamira. Em 2010, menos de 10% dos moradores da área urbana tinham acesso à água tratada, e não havia tratamento de esgoto na cidade. A melhoria de vida dessas pessoas é uma realidade comprovada por indicadores monitorados periodicamente junto às famílias reassentadas.
Na área de Educação, a Norte Energia reforçou a estrutura deste setor nos cinco municípios vizinhos ao empreendimento, construindo 99 escolas indígenas e não indígenas. Ao todo, foram 99 obras, que representam mais de 492 salas de aula construídas e/ou reformadas, beneficiando diretamente mais de 30 mil alunos. Também foram construídos espaços pedagógicos, como salas de informática e de leitura. O investimento ainda contemplou a doação dos equipamentos e mobiliários necessários para o funcionamento das escolas, como conjuntos de carteiras, quadros, mesas e cadeiras para professores, condicionadores de ar, computadores, armários, bebedouros, refrigeradores e fogões industriais. Além do reforço à estrutura educacional, também houve investimento em ciclos de capacitação que aprimoraram o conhecimento de aproximadamente 1,5 mil profissionais da educação nos municípios de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu.
Já na área de Saúde, a Norte Energia construiu e equipou três grandes hospitais e 63 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), indígenas e não indígenas, nos cinco municípios do entorno da usina. Outro indicador relevante é a queda de 99% nos casos de malária nos cinco municípios de influência da hidrelétrica, resultado do programa conduzido pela companhia para combater a doença.
Na área da Segurança, a empresa construiu o Complexo Penitenciário de Vitória do Xingu, reformou unidades policiais e doou 80 veículos e um helicóptero para a Secretaria de Segurança Pública de Altamira.
Para as famílias da região e as que moravam em palafitas antes do empreendimento, a empresa construiu os Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUCs), dotados de toda a infraestrutura necessária para acomodar, com novas moradias, as famílias que residiam em áreas historicamente suscetíveis a cheias do Rio Xingu e sem acesso a sistema de saneamento básico. Os RUCs se tornaram novos bairros, integrados à cidade de Altamira, e contam com equipamentos públicos definidos conforme as demandas técnicas da população, como escolas, Unidades Básicas de Saúde, quadras poliesportivas, espaços de convivência e um completo sistema de saneamento básico. Além disso, foram implantadas outras modalidades de reassentamento, como o Reassentamento Rural Coletivo (RRC) e o Reassentamento em Áreas Remanescentes (RAR).
A melhoria de vida dessas famílias é uma realidade comprovada por indicadores monitorados periodicamente. Em 2011, antes da realocação, o Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF) dessas famílias era de 0,66; atualmente, esse índice subiu para 0,71. Nesse mesmo contexto, observou-se uma diminuição do percentual de moradores abaixo da linha da pobreza no município de Altamira, de 25% em 2010 (Censo IBGE) para 5% em 2023, conforme dados da Pesquisa de Condições de Vida aplicada pelo Programa de Monitoramento dos Aspectos Socioeconômicos da usina.
Maria Mazzei, gerente de Comunicação e Imprensa
Em termos de infraestrutura urbana, que obras entregues pela Norte Energia você destacaria como transformadoras para a cidade de Altamira e o entorno? Elas permanecem ativas e bem mantidas?
Vou responder sua pergunta com a resposta da própria população da região. Pesquisas feitas pela companhia ao longo do projeto constataram que 75% da população reconhece como positiva a presença do empreendimento na região e dizem que sua vida mudou para melhor. Majoritariamente, as pessoas entendem que as melhorias em suas vidas com a chegada de Belo Monte foram o acesso ao emprego formal e à infraestrutura, como a implantação de toda a rede de saneamento e as construções do aterro sanitário, de três hospitais, de 63 UBSs e de escolas. 65% percebem melhorias nos indicadores econômicos, 91% nas condições de educação, 85% na saúde, 87% na infraestrutura como um todo e 95% na segurança. Essas estruturas permanecem ativas, e boa parte já está sob responsabilidade do poder público.
Qual é o legado que a Norte Energia deseja deixar com Belo Monte? E o que considera ser o maior desafio reputacional hoje?
A Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, entende que atua como desenvolvedora da região, para além de suas obrigações estabelecidas no Termo de Compromisso Ambiental. A empresa compreende sua responsabilidade nesse sentido e executa uma série de projetos sociais, de sustentabilidade e geração de renda, que não estão nas obrigações do licenciamento. O maior legado de Belo Monte é seguir proporcionando desenvolvimento para Altamira e para a população do entorno.
O empreendimento nasceu polêmico e, mesmo após o projeto ter sido modificado com o objetivo de causar o menor impacto ambiental possível, 14 anos depois, ainda há importantes formadores de opinião repetindo informações equivocadas, apesar de terem acesso aos dados atualizados e que são públicos.
A maior parte das matérias veiculadas na imprensa nacional reporta o olhar de fora da realidade local sobre o empreendimento. Você foi até Altamira e Vitória do Xingu conhecer a usina e os projetos, e tenho certeza de que voltou com outro entendimento e com uma visão 360 do que é Belo Monte e quais são os reais impactos.
Como gestora de comunicação de um dos maiores projetos energéticos da América Latina, o que mais a orgulha e o que ainda a inquieta em relação a Belo Monte?
O que mais me orgulha é ter a certeza de que fazemos um trabalho sério na Norte Energia, feito por profissionais altamente capacitados e comprometidos e que, apesar de muita desinformação sobre Belo Monte, sabemos que estamos fazendo a diferença para melhorar a vida da população local. E para além de tudo isso, estamos falando da maior hidrelétrica 100% brasileira e que presta um serviço essencial para o Brasil.
Apesar de importantes avanços, o que me inquieta é perceber que ainda há um gap de informação sobre Belo Monte e a urgência de tirar esse atraso e melhorar a qualidade do diálogo com a sociedade como um todo.
*O jornalista viajou para Altamira (PA) a convite da Norte Energia.