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Escrito por Neo Mondo | 15 de janeiro de 2019
Em visita ao primeiro dia do congresso de aves de 2018 em São Paulo, o Avistar, onde eu faria uma apresentação sobre as minhas palestras em escolas sobre meio ambiente e pássaros, temáticas dos meus livros infantojuvenis, minha amiga Maria Luiza e eu somos cativadas por um irresistível convite: participar de uma viagem inaugural do barco Lord do Pantanal pelo rio Paraguai, na região da Serra do Amolar, no Mato Grosso do Sul.
A ideia dos donos do barco e da organização do Instituto Serra do Amolar, instituição que se dedica a pesquisas para a preservação da região, era aproveitar o recesso da pescaria na época do defeso, quando não se pode pescar. Otimizar o barco, prover renda à população local e ainda divulgar a região, incipiente em termos de turismo - com exceção dos aficcionados pela pesca esportiva - a amantes do ecoturismo, como os observadores de aves, os mergulhadores e os fotógrafos de natureza.
Eu, que já tinha ido ao Pantanal Sul duas vezes e uma, rapidamente, ao Norte, logo topei. Luiza, que nunca tinha estado no Mato Grosso do Sul, também se entusiasmou.
A Serra do Amolar, encravada entre o Mato Grosso do Sul, a Bolívia e o Mato Grosso, tendo o rio Paraguai como via de acesso, é uma região atípica do nosso pantanal, por ter montanhas no entorno e por permanecer alagada praticamente o tempo todo. Nessas condições, que favorecem o isolamento, a população, em sua maioria pertencente à etnia de índios Guapó, é de pouco mais de 300 pessoas, que sobrevivem da pesca e da criação de animais para sua subsistência.
Outra característica que torna essa região muito peculiar é poder ali encontrar plantas de diversos biomas, como caatinga (sim, caatinga!), cerrado, amazônia e mata atlântica.
Jacarés e o espetáculo dos tuiuiús
Nas vésperas do feriado de 15 de novembro, que emendaria com o do dia 20, lá fomos nós a Campo Grande, onde nos reunimos com o grupo de cerca de 30 pessoas que viajaria conosco no Lord.
Cadê a onça?
Só faltou a onça-pintada, com quem seis pessoas do grupo tiveram a felicidade de cruzar, e que Liz e Susana, excelentes fotógrafas, registraram em meio a muita emoção. Não é para menos! Nem sei como seria a minha reação ao ver uma onça livre de perto.
Fica para a próxima, não é, Luiza? E uma vez que ganhei nova viagem como prêmio no concurso de fotos promovido pela organização do passeio - com um registro (abaixo) do gado e de mercadorias sendo transportados de balsa pelo Paraguai, cena que presenciava diversas vezes ao dia, e com o contorno da linda serra ao fundo - o encontro com a onça pode não demorar a acontecer.
A bagagem da volta foi engordada pelas boas lembranças dos momentos passados com os novos amigos; as boas dicas e a emoção de avistar (apenas avistar no meu caso...) a choca-da-Bolívia com a experiente observadora de aves e fotógrafa Silvia Linhares; a simpatia e o profissionalismo dos biólogos Thomaz Lippareli e Marcelo Calazans; o carinho da tripulação do Lord; e as inesquecíveis e valiosas prosas com Seu Armando, o antigo dono das terras onde hoje funciona o Instituto Serra do Amolar.
Cuidar é preciso
Com algumas certezas voltei dessa expedição: que é preciso cuidar dessa região; educar para uma prática consciente de pescaria, especialmente porque o dourado (Salminus brasilienses), o cobiçado peixe do Pantanal, encontra-se ameaçado pela pesca predatória; e que a população local é a melhor defensora de sua terra. Mas, para retê-la no lugar, é preciso que tenha renda para viver dignamente e o turismo ecológico pode ser uma solução. Até para transformar caçadores em guias e guardiões da região.E por falar no dourado, quando finalizo este texto leio que o governo do Mato Grosso do Sul suspendeu, por cinco anos, sua pesca - profissional, esportiva ou amadora - a fim de recompor os estoques pesqueiros. Que a medida seja de fato implementada e que o dourado volte a reinar nas águas limpas do Pantanal!
Não apenas a pesca do dourado precisa ser regulamentada e fiscalizada, como toda a pesca em si. Espantada com a quantidade de carcarás (Caracala plancus) em volta do barco sempre que aportávamos, aprendo com Seu Armando que a prática de "limpar" os peixes logo após sua pesca atrai essas aves de rapina. Toda vez que elas veem um barco o associam a comida fácil. O aumento nada natural de sua população afugenta diversas espécies de pássaros menores, normalmente predados pelo gavião.
Assim, faço meu trabalho de comunicação e torço para que a educação e a maior consciência das pessoas para as questões que ameaçam o nosso ambiente contribuam para a população de animais, como as onças-pintadas e os dourados, voltar a crescer.
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