Escrito por Neo Mondo | 22 de março de 2025
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POR - OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
O paradoxo da abundância e da escassez em um planeta sedento
A água não é apenas um recurso natural. É o sangue do planeta, a substância primordial da vida, o elo invisível que une todas as formas de existência. Desde os primórdios da humanidade, rios foram berços de civilizações, oceanos moldaram rotas e histórias, e cada gota carrega em si o peso da sobrevivência. No entanto, ironicamente, aquilo que parece infinito se torna cada vez mais escasso. Um planeta coberto por água se vê à beira de uma crise hídrica sem precedentes.
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Desde tempos imemoriais, povos ancestrais reverenciavam a água como uma dádiva divina. Não apenas um meio de sobrevivência, mas um símbolo de pureza, renascimento e equilíbrio. Hoje, essa conexão sagrada foi substituída por estatísticas frias e consumo desenfreado.
Cerca de 70% da superfície terrestre é coberta por água, um oceano de possibilidades que, paradoxalmente, não pode ser bebido. Apenas 2,5% desse imenso volume é doce, e uma fração ainda menor está disponível para saciar a sede da humanidade. Enquanto a ilusão de abundância persiste, a realidade da escassez se agrava, transformando a água em um bem cada vez mais precioso e disputado. Desses, menos de 1% está acessível para consumo humano. E, enquanto bilhões de pessoas sofrem com a escassez hídrica, seguimos desperdiçando e contaminando as reservas que ainda nos restam.
A crise global da água não é apenas um reflexo da falta de chuvas. É um problema estrutural, impulsionado por escolhas equivocadas, má gestão e mudanças climáticas que agravam a situação.
O Brasil, dono de 12% da água doce do mundo, deveria ser referência em gestão hídrica. No entanto, enfrenta uma dura realidade: desperdício, desigualdade na distribuição e rios cada vez mais poluídos.
Se a água é a essência da vida, protegê-la é um ato de sobrevivência coletiva. Cada ação conta, e o momento de agir é agora: preservar nascentes, reduzir desperdícios e exigir políticas públicas responsáveis. O destino da água é o nosso próprio destino. Não há mais espaço para negligência ou adiamento de soluções. O futuro das sociedades depende de novos modelos de gestão hídrica, incentivos à economia circular da água, avanços na dessalinização e investimentos em infraestrutura sustentável.
Mas também depende de um novo olhar. A água não é um produto, uma mercadoria, uma estatística. É tempo de resgatar a reverência que povos antigos tinham por esse elemento. É tempo de tratá-la como aquilo que realmente é: um pacto sagrado entre a Terra e a humanidade.
Neste Dia Mundial da Água, que possamos enxergar além do reflexo dos rios, lagos e oceanos. Que possamos ver, neles, o próprio reflexo do nosso futuro. E que, ao invés de deixar esse recurso escoar entre os dedos, possamos segurá-lo com o respeito e a responsabilidade que ele merece.
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