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Temer, na contramão do bom senso

Escrito por Neo Mondo | 16 de novembro de 2017

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POR - SILVIA DIAS, PARA NEO MONDO + GREENPEACE

COP23

Subsídios multibilionários aos combustíveis fósseis rendem ao Brasil o prêmio Fóssil do Dia na COP23

DOLAR

O prêmio mais tradicional das Conferências da ONU sobre Mudanças Climáticas, o Fóssil do Dia, está indo para o Brasil. Não por causa dos seus negociadores, mas por causa do presidente. De acordo com o grande grupo de ONGs ambientais que selecionam os vencedores do prêmio - uma brincadeira para sinalizar aqueles que tornam as negociações climáticas mais difíceis - o Fóssil de hoje vai ao Brasil por causa da Medida Provisória enviada por Temer ao Congresso que pode dar às empresas de petróleo US$ 300 bilhões em subsídios para perfurar suas reservas offshore. O Fóssil do Dia é uma tradição das negociações climáticas que teve início em 1999 – quando a COP também foi realizada em Bonn, na Alemanha. A premiação foi iniciada pela NGO alemã Forum e é conduzido pela Climate Action Network (CAN): seus membros elegem os países que julgaram ter feito o seu "melhor" para bloquear o progresso nas negociações ou na implementação do Acordo de Paris durante as negociações das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Veja abaixo a declaração lida pelas ONGs ao premiar o Brasil com o prêmio fóssil:
FOSSILFoto - Divulgação

Brasil acometido pela febre do petróleo

 O Fóssil para hoje (quarta 15/11) vai para o Brasil, por propor um projeto de lei que poderia dar às companhias de petróleo US $ 300 bilhões em subsídios para perfurar suas reservas offshore.  Você ouviu isso certo, US $ 300 bilhões.  Pensemos sobre isso por um minuto - é aproximadamente o valor de uma Torre Eiffel ou seis torres de Londres. Basicamente, uma quantidade insana de dinheiro. Também é cerca de 360 vezes mais do que o mundo inteiro fornece em apoio anual para financiamento de resiliência climática e desastre nos Pequenos Estados insulares em desenvolvimento, destacando como os fluxos de financiamento do clima atual são diferentes em comparação com os subsídios maciços de combustíveis fósseis.  O Brasil, o gigante verde sul-americano, a terra dos biocombustíveis sustentáveis e o orgulhoso portador de uma mistura de energia com baixa emissão de carbono, é a mais nova vítima da febre do petróleo.  Uma Medida Provisória enviada ao Congresso pelo presidente Michel Temer, que pode ser votada nas próximas semanas, abre o país a um frenesi do petróleo, dando às empresas um pacote de isenções fiscais que podem ascender a US $ 300 trilhões nos próximos 25 anos. O ministro do Meio Ambiente do Brasil chamou o projeto de lei "inaceitável".  A taxa de aprovação pública da Temer é de 3%, aproximadamente a mesma que a margem de erro das pesquisas. Mas certamente, as grandes empresas de petróleo têm uma opinião sobre ele melhor do que os eleitores brasileiros.  O objetivo da medida é acelerar o desenvolvimento da camada de pré-sal ultra-profunda, uma reserva do petróleo offshore que se pensa conter 176 bilhões de barris recuperáveis. Se esse óleo fosse queimado, o Brasil sozinho consumiria 18% do orçamento de carbono restante por 1,5 graus, acabando com nossas chances de afastar o mundo de uma catástrofe climática.  O engraçado é que o governo brasileiro parece estar totalmente ciente de que está cometendo uma falta. Como um funcionário do governo disse com franqueza, "o mundo está indo em direção a uma economia de baixo carbono. Haverá petróleo no chão, e esperamos que não seja nosso ".  O cinismo flagrante da administração Temer está em contraste com a posição bastante progressiva tomada pela delegação brasileira em Fiji-em-Bonn. Enquanto os diplomatas aqui pedem biocombustíveis como uma solução climática e pressionam para a ambição pré-2020, de volta para casa, a atitude é "drill, baby, drill!".  Brasil, você faz uma cara boa, mas abaixo daquela camada de tinta verde encontra-se uma petrocracia em construção. É hora de levar subsídios absurdos e destiná-los a um melhor uso, mais verde.    

GREENPEACE

Projeto irresponsável do Governo Temer de conceder um trilhão de reais em subsídios à indústria do petróleo deu o “prêmio” ao país

Cerimônia de entrega do Fóssil do Dia ao Brasil expõe a contradição do governo em pedir por mais ambição no combate ao aquecimento global ao mesmo tempo em que mina esses esforços dando mais incentivos à indústria do petróleo Foto: Divulgação
Nesta quarta-feira (15), dia em que celebra a Proclamação da República, o Brasil passou por um novo vexame internacional ao receber o “Fóssil do Dia”, na Conferência do Clima da ONU em Bonn, na Alemanha. O motivo foi a Medida Provisória do governo Temer de conceder à indústria do petróleo um trilhão de reais para incentivar a exploração do pré-sal. O consumo dessas reservas aniquilaria a meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5 °C. A MP do trilhão, como está sendo chamada, aguarda aprovação na Câmara dos Deputados, mas expõe a contradição do governo em pregar por mais ambição no combate às mudanças climáticas ao mesmo tempo em que busca incentivar a indústria atrasada do petróleo, além de promover diversos retrocessos ambientais. "Para as negociações do clima, o Brasil é um país decisivo. Porém, para o presidente Temer, os problemas climáticos parecem ser dispensáveis. A MP 795 nos coloca na contramão do que o mundo precisa. As mudanças no clima  atingirão principalmente os mais necessitados, por isso são necessárias ações urgentes e ambiciosas. Porém, sabemos que não temos um presidente à altura de tais atos", afirma Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace. O prêmio “Fóssil do Dia”, uma iniciativa da Climate Action Network, é entregue diariamente por organizações da sociedade civil na COP como forma de denunciar os países que menos contribuíram para o progresso das negociações e mais se afastaram do cumprimento das metas para conter o aquecimento global. Nesta COP já foram contemplados países como Estados Unidos, Japão, Austrália, Alemanha, França e Noruega. decepção1

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