POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Skaf está à frente de importantes instituições empresarias como o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp); Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em São Paulo; Instituto Roberto Simonsen – IRS; e ocupa a vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ainda faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), do Presidente da República e do Conselho Administrativo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES;
Neo Mondo: Quais os fatores que promovem o desenvolvimento de um país?
Paulo Skaf: Democracia, instituições sólidas e respeitadas, educação e saúde de qualidade acessível a todos os habitantes, segurança jurídica e capacidade de promover o crescimento sustentado da economia.
Neo Mondo: Qual o papel de cada segmento (Governo, Empresas e Terceiro Setor) nesse processo?
Paulo Skaf: Ao Estado, cabem as responsabilidades do ensino, saúde, infraestrutura, segurança pública, garantia das instituições e das relações de direitos e deveres, bem como a condução da política econômica. Parece óbvio, mas em nosso país ainda faltam algumas lições de casa para que o governo cumpra adequadamente seu papel. Às empresas, competem, basicamente, a busca do lucro, a geração de empregos e o avanço na área de pesquisa e inovação, sob os parâmetros da legalidade e da ética. Quanto ao Terceiro Setor, sua missão é fundamental, pois sua contribuição é crescente no sentido de complementar ações sociais que o Estado já não consegue suprir sozinho. Independentemente dessa divisão cartesiana de atribuições, é imprescindível a participação de todos na vida nacional. É o que fazemos na Fiesp/Ciesp, criticando construtivamente, cobrando medidas e também realizando e encaminhando estudos às áreas competentes do governo. Para isto, agregamos à entidade o trabalho voluntário de algumas das mais brilhantes mentes deste país. Esta mobilização permanente é decisiva, pois a sociedade tem imensa responsabilidade ante os destinos nacionais.
Neo Mondo: Qual o tempo necessário para atingir o patamar de desenvolvimento?
Paulo Skaf: O processo, em qualquer país, é de longo prazo. No caso brasileiro, considerando nossas potencialidades, como dimensão territorial, população, recursos naturais e clima propício, estamos atrasados. Já poderíamos ter conquistado o desenvolvimento. Creio estarmos a um passo dele. O que falta é justamente solucionar os gargalos estruturais e conjunturais.
Neo Mondo: Quais são esses gargalos?
Paulo Skaf: Os mais graves são de caráter estrutural: a deficiência dos transportes e energia elétrica; o sistema tributário, que é oneroso demais e injusto; o déficit público, incluindo a questão da previdência; os elevados encargos sociais inerentes às relações trabalhistas; e o excesso de burocracia no Estado. Esperamos que esses gargalos possam ser solucionados pelos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no tocante à infra-estrutura, e com as reformas constitucionais, que já deveriam ter sido realizadas há muito tempo. Há, ainda, os gargalos conjunturais, como os juros muito elevados e o câmbio sobrevalorizado, que poderiam ser solucionados no âmbito da política econômica do Governo Federal, cuja visão, contudo, continua excessivamente monetarista.
Neo Mondo: Como o senhor avalia as políticas econômicas e sociais existentes hoje no Brasil?
Paulo Skaf: A política econômica ainda é excessivamente monetarista. Seria necessário um olhar mais estratégico para as imensas oportunidades de ingresso num ciclo duradouro de crescimento sustentado que o momento histórico e econômico do mundo têm nos oferecido. Quanto às políticas sociais do governo, a sua grande marca, há décadas, tem sido a ineficácia, má gestão, péssimos serviços e desperdício do dinheiro público. Nem mesmo as prioridades da educação e da saúde são atendidas a contento. A falência dessas políticas sociais talvez seja o mais grave problema brasileiro.
Neo Mondo: O processo de desenvolvimento de um país hoje é diferente, sobretudo no tocante ao meio ambiente. Como crescer, preservar os recursos naturais e garantir a sustentabilidade?
Paulo Skaf: Numa era de mudanças climáticas e necessidade de prover a sustentabilidade pelo acréscimo de fontes renováveis e menos poluentes à matriz energética, é muito confortável ao Brasil ter a maior área agricultável disponível em todo o mundo, petróleo, a maior reserva hídrica, essencial à geração de eletricidade, e elevada capacidade de produção de biocombustíveis. Tudo está a favor do País e dos diferenciais competitivos que lhe proporciona a sua exuberante e rica natureza. Por isto, além de tirar dela os alimentos e os biocombustíveis de que o mundo precisa, devemos preservá-la, recuperá-la nos pontos em que está ferida e utilizar — de modo sustentável —, os recursos hídricos, minerais e geológicos. Esta tem sido uma das bandeiras da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), em defesa de investimentos na produção mais limpa. Trata-se de um trabalho focado na viabilização do desenvolvimento sustentável.
Neo Mondo: Qual a perspectiva em relação aos caminhos adotados para o desenvolvimento do país?
Paulo Skaf: As possibilidades do Brasil são imensas, a começar por nossa elevada capacidade de produção de alimentos e combustíveis de fontes renováveis. Temos um povo talentoso e trabalhador, uma indústria avançada, um agronegócio eficaz e um mercado interno respeitável. Precisamos, apenas, fazer as lições de casa às quais já me referi para carimbar o passaporte ao primeiro mundo.