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ARTIGO
POR – HANNAH MACHADO*, PARA NEO MONDO
Mais de 90% da população mundial respira ar insalubre. A poluição do ar é responsável por cerca de 12% das mortes a cada ano, principalmente por doenças cardíacas e respiratórias crônicas, tornando-se o quarto principal fator de risco para a saúde global. As doenças e mortes relacionadas à poluição do ar não são igualmente distribuídas — mulheres, crianças e pessoas de baixa renda geralmente têm uma exposição desproporcional à poluição e são particularmente vulneráveis devido às condições de saúde subjacentes ou ao acesso limitado a cuidados apropriados.
A Organização Mundial da Saúde acaba de lançar as novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar, que fornecem recomendações sobre a qualidade do ar para os seis principais poluentes, estabelecendo padrões mais ambiciosos e rigorosos de qualidade do ar. As diretrizes revisadas foram informadas por uma revisão abrangente das novas evidências publicadas desde que a última versão foi lançada em 2005 e enfatizam que não há um nível seguro de poluição do ar. As diretrizes mostram que melhorar a qualidade do ar pode trazer benefícios substanciais para a saúde das pessoas em todos os lugares.
Se cada país alcançasse o novo, e mais rigoroso nível de PM2,5 (material particulado fino), que é o indicador mais utilizado para relacionar qualidade do ar à saúde, 80% das mais de 5 milhões de mortes globais anuais atribuídas a esse poluente nocivo poderiam ser evitadas.
Embora as novas metas sejam ambiciosas, os governos não devem se desencorajar. Mesmo melhorias incrementais na qualidade do ar terão benefícios significativos para a saúde em áreas com altos níveis de poluição, bem como em locais onde já foram feitos progressos.
A poluição do ar tem causado amplas consequências negativas sociais e para a saúde que são ainda mais agravadas pela crise climática global. À medida que trabalhamos para alcançar essas novas metas, os resultados podem ser um ganha-ganha — melhorando a saúde e a qualidade do ar e reduzindo as emissões de carbono. A poluição do ar é uma emergência global e uma prioridade de saúde pública. Ações governamentais possibilitarão o progresso global. E as Diretrizes de Qualidade do Ar devem se tornar a base dos padrões de qualidade do ar de cada país.
No Brasil, tendo em vista que mais de 85% da população vive em cidades e o transporte é a principal fonte de emissão de poluentes nas áreas urbanas, precisamos avançar urgentemente em políticas de transporte de emissão zero. Em 2019, mais de 60 mil brasileiros morreram devido à má qualidade do ar. No mês em que é celebrado o Dia Mundial sem Carro (22 de setembro), é um excelente momento para inserir esse tema na agenda. Prefeitos precisam priorizar investimentos na mobilidade ativa (a pé e bicicleta) e coletiva (ônibus e metrô). Esse é um dos passos para tornar as nossas cidades mais saudáveis e salvar vidas.
*Hannah Machado – Gerente de Projetos de Saúde Urbana da Vital Strategies.