Imagem – Pixabay
POR – OBSERVATÓRIO DA BRANQUITUDE / NEO MONDO
Afirmação é resultado de evidências e da análise expostas em boletim produzido pelo Observatório da Branquitude
Às vésperas das eleições presidenciais que apresentam um cenário fervoroso de luta entre forças políticas antagônicas, o Observatório da Branquitude (OdB), iniciativa que estuda a branquitude e suas estruturas de poder, divulga o boletim Quem ameaça a democracia é a branquitude: uma leitura racializada da base eleitoral de Bolsonaro em 10 pontos. O material traz uma análise concisa de dados de fontes secundárias sobre a atual situação política do Brasil, onde inflamados eleitores bolsonaristas buscam a perpetuação do poder a todo custo, e compreende ainda uma série de evidências históricas que contextualizam e embasam o comportamento da branquitude hoje.
Focado em fatos e fenômenos relacionados a eleições, democracia e posicionamento de grupos dominantes, o relatório Quem ameaça a democracia é a branquitude: uma leitura racializada da base eleitoral de Bolsonaro em 10 pontos, analisa as Forças Armadas brasileiras (elite, servidores do alto escalão, exército e seus militares) — com apontamento sobre a fiscalização da contagem dos votos nas eleições deste ano, sugerida por militares pela primeira vez na história, e suas implicações — , o agronegócio (proprietários brancos, as desigualdades produzidas pelo agronegócio e o interesse direto do setor na reeleição de Jair Bolsonaro), e o grupo de grandes empresários que compõem a base aliada de Bolsonaro (financiamento da campanha de reeleição e aposta em fake news, denúncias de exploração e violação de leis ambientais e ainda os incentivos e benesses oferecidos pelo governo a empresas aliadas).
Para a pesquisadora do Observatório da Branquitude, Carol Canegal, “é explícito todo o esforço feito por esses grupos que compõem a branquitude brasileira para manter a estrutura de privilégios. Esse relatório chama a atenção não só para a base eleitoral do atual presidente, mas para todo esse sistema feito para que as desigualdades se mantenham. Grupos brancos e candidaturas não bolsonaristas também precisam romper com os pactos narcísicos firmados pela branquitude”.
FORÇAS ARMADAS
O relatório traz dados como a falta de representação negra em cargos do alto escalão das Forças Armadas. Em um universo de 228 militares desse nível na Força Aérea brasileira, apenas 3 integrantes se declaram pretos.
O estudo apurou que a presença de oficiais das Forças Armadas na chefia de nove dos ministérios mais importantes do governo federal desde 2018, início da gestão Bolsonaro, supera a participação de militares nos governos ditatoriais, entre 1964 e 1985.
Há observações sobre colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), categoria que mais tem se beneficiado com os decretos presidenciais que facilitam o acesso a armas no país, mesmo com o Tribunal de Contas da União (TCU) apontando graves falhas de fiscalização do Exército a esse grupo e em clubes de tiro e lojas de armas.
AGRONEGÓCIO
Nos capítulos que compreendem o agronegócio, a publicação reforça a presença da elite branca no campo, onde quanto maior a propriedade rural, maior é a ocupação da terra por brancos. Dados de fontes secundárias revelam que são brancos os donos de 208 milhões de hectares, quase 60% da área total das propriedades rurais registradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que não há nem um único negro dono de estabelecimentos rurais acima de 10 mil hectares nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A estreita relação entre a agropecuária e o atual governo também é um ponto do relatório, que destaca o apoio da bancada ruralista ao impeachment de Dilma Rousseff.
EMPRESÁRIOS
E nas seções que abarcam os grandes dirigentes de empresas atuantes no país, o material faz uma reflexão sobre o escândalo da investigação de oito empresários da base eleitoral de Bolsonaro, que estariam articulando um golpe de Estado no caso de vitória do ex-presidente Lula nestas eleições e os benefícios que este grupo tem usufruído ao longo da atual gestão.
Thales Vieira, coordenador executivo do Observatório, afirma que “faz parte da missão do Observatório discutir democracia, as instituições e o mercado no Brasil sob a lente racial. Precisamos ter essa dimensão para entender os caminhos que nos levaram até aqui e traçar novas perspectivas de futuro. A produção desse tipo de material bibliográfico é essencial para possíveis análises e ações efetivas para mitigar os efeitos devastadores do racismo”.
O documento completo está disponível neste link e também no site da Iniciativa.