Vista aérea do Pantanal – Foto: Gustavo Figueroa
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Expedição ‘Águas que Falam’ percorrerá municípios de Mato Grosso do Sul
Instituído pela ONU em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, o Dia Mundial da Água é celebrado em 22 de março. No evento, que ficou conhecido como Rio 92, também foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos da Água, composta de dez artigos que, três décadas atrás, advertiam sobre necessidades de conscientização que, sucessivamente ignoradas, culminaram na emergência climática, como alertava o artigo 4º:- “O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos”.
Na comemoração do Dia Mundial da Água em 2023, o SOS Pantanal, uma das instituições decisivas para a preservação do bioma sul-mato-grossense, com especial atuação no combate às queimadas e na promoção de advocacy para políticas públicas, anuncia um novo programa, desta vez voltado para o monitoramento da qualidade dos recursos hídricos, o programa Águas do Pantanal.
Com apoio da Fundação Toyota e realizada em parceria com a organização Chalana Esperança, a expedição ‘Águas que Falam’ percorrerá municípios do chamado Pantanal Sul, como Campo Grande, Aquidauana, Miranda e Corumbá.
“A ideia é aprofundarmos a compreensão de que o Pantanal depende da água, assim como é moldado pelo fogo. A gente já trabalha com o fogo, por meio das Brigadas Pantaneiras, e decidimos dar esse passo a mais. Precisamos entender a qualidade da água que está chegando ao Pantanal e se o volume, que está diminuindo, é suficiente para sua preservação. A ideia desta primeira expedição é investigar essas questões porque ainda não há muitos trabalhos perenes sobre essa pesquisa. A expedição “Águas que Falam” terá essa função de entender qual é o cenário, para que a gente possa montar as melhores estratégias, agir e reverter os quadros atuais e fazer previsões sobre o futuro do Pantanal”, explica o biólogo e diretor de Comunicação e Engajamento do Instituto SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa.
Além da medição da qualidade da água em diversos pontos do Pantanal Sul, o projeto também contará com uma importante frente de interlocução com as comunidades locais, em que o objetivo é registrar depoimentos de moradores que vivem próximos aos rios, para dar voz a quem tem que lidar com os problemas acarretados pela poluição e diminuição do volume de águas no Pantanal.
“A ação será feita em parceria com o projeto Chalana Esperança, uma instituição que é nossa parceira e tem um papel importantíssimo no Pantanal. Nosso foco será nas comunidades. A gente vai conversar com as pessoas que vivem e dependem dos rios para entender qual é a visão delas sobre a água e o que mudou nos últimos anos: se diminuiu o estoque pesqueiro e a quantidade de água ou se aumentou a poluição e como isso tem afetado a vida deles”, esclarece Figueirôa.
Outra característica importante deste projeto é que será possível contar com décadas de experiência da SOS Mata Atlântica, que, por meio do programa Observando Rios, faz o monitoramento da qualidade da água em diferentes bacias de domínio da Mata Atlântica. Esta transferência de tecnologia e experiência tem sido crucial, trazendo mais segurança para esta empreitada.
“Entendemos que não existe conservação sem participação popular. Por isso, é de extrema importância a decisão de envolvermos as comunidades em todo o processo e de utilizarmos da ciência cidadã para entender o que acontece no bioma. O projeto inclui a distribuição de materiais educativos, a capacitação de diferentes comunidades para que elas possam protagonizar o monitoramento e momentos de troca de saberes, em que a visão para o futuro e a conservação das águas do Pantanal poderá ser construída em conjunto”, diz a coordenadora de Educação para Conservação e cofundadora da Chalana Esperança, Daniella França.
Ainda de acordo com ela, ao unir conhecimento científico e tradicional e, sobretudo, ao convidar as comunidades para protagonizarem este monitoramento, são envolvidas nesse processo não apenas as pessoas que habitam o bioma e são as mais afetadas pelos seus problemas, mas, também, permite-se que sejam traçadas, em conjunto, estratégias de longo prazo para a conservação do Pantanal.
Frentes de atuação
Desde 2009, o Instituto SOS Pantanal tem desenvolvido suas ações em quatro principais frentes de atuação: a promoção de políticas públicas que facilitem o diálogo entre a sociedade e o poder público, de modo a gerar ações que beneficiem tanto o meio ambiente quanto o desenvolvimento econômico da região; o combate a incêndios, por meio do programa Brigadas Pantaneiras, que estrutura operações incisivas contra queimadas naturais ou decorrentes de ações criminosas; a produção de informações sobre o Pantanal, por meio de monitoramentos remotos e territoriais, agregando e divulgando conhecimentos relevantes sobre o bioma; a restauração socioambiental, com ações desenvolvidas em áreas degradadas e em locais de segurança, com incentivo a pesquisas e projetos locais.
Para Figueirôa, a experiência acumulada ao longo de quase 15 anos pela equipe do SOS Pantanal tornará a missão do programa Águas do Pantanal algo menos desafiador. “Este projeto difere de nossas outras ações, mas envolve o que a gente faz estruturalmente: a compreensão de um problema a fundo. Da mesma forma que a gente fez com a questão do fogo, quando estruturamos um programa de brigadas para ser uma das soluções para o problema, vamos agora fazer o mesmo com o projeto de águas, para, em campo, entender o que está acontecendo e podermos propor junto à sociedade civil melhores propostas de gestão para políticas públicas”, conclui.