Foto – Rene Poccard
ARTIGO
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Por – Adriano Venturieri*, especial para Neo Mondo
Em diversas fases da humanidade sempre houve a necessidade de expansão de espaços com objetivos diversos, mas sempre orbitando em torno da exploração de recursos naturais – não raramente essas necessidades acabaram gerando conflitos bélicos. Nesses confrontos, são consequentes os processos de consolidação de dominação e imposição de novas regras.
Na Região Amazônica, considerando-se uma história recente, passamos pela fase em que era exortado “integrar para não entregar”, quando famílias que foram convocadas para expandir a presença humana na região possuíam a obrigação de desflorestar 50% da área para consolidar seu território. Da mesma forma, politicas oficiais apoiaram a expansão de grandes empreendimentos agrícolas na região, especialmente a pecuária.
Em comum entre todas as políticas públicas pensadas para a Amazônia, observamos a pouca, ou quase inexistente, utilização de informações científicas para apoiar o planejamento estratégico. Devido a esta falta de diretrizes específicas, temos, hoje, um território ocupado por um grande mosaico de atividades desconexas, dominado por áreas de pastagens, que necessitam ser percebidos com novos olhares, à luz do conhecimento científico, ainda que insuficiente, existente.
Os 50 anos de história da Embrapa nos mostram alguns caminhos. Mas, para utilizarmos uma linguagem mais atualizada, precisamos pensar “fora da caixinha” e deixar convicções históricas (baseadas em experiências pontuais ou de afinidades eletivas), em detrimento à realidade que uma comunidade necessita: soluções urgentes para sua vida diária, notadamente nossos produtores familiares.
Diante dos cenários internacional, nacional e regional, precisamos urgentemente levar soluções viáveis e factíveis ao campo amazônico. Como diria Renato Russo, “não temos tempo a perder”, pois hoje não temos mais todo o tempo do mundo. Temos que assumir, e aceitar, que “nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia”, como diz outro cantor, Lulu Santos. No entanto, precisamos avançar na reconstrução da paisagem florestal amazônica.
As perguntas são: qual a paisagem que queremos? Voltar à época dos desbravadores ou construir uma nova natureza, uma nova paisagem, produtiva, que contemple parte do que já foi, parte do que é e parte do que precisamos ser? Decisões e suas consequências são escolhas que devem ser amparadas em princípios e ativos tecnológicos verificados. Aqui, situa-se nossa necessidade e urgência.
Ao pensar “fora da caixinha”, necessitamos falar não para a expansão horizontal, com novos territórios desflorestados. Não podemos fazer ações de restauração do ambiente sem deixar de considerar que o homem deve estar no meio.
Precisamos consolidar sim uma agricultura 3D, em áreas alteradas, onde a expansão ocorra em uma mesma paisagem, de forma sobreposta, integrativa, regenerativa e sinérgica. Precisamos sim de mudanças nos modelos de produção de agricultores e pecuaristas que ainda fazem suas atividades de modo tradicional e ineficiente.
Necessitamos reproduzir, em grande escala, modelos tecnificados, integrados, de muito sucesso que já são realidades em diversas regiões, mesmo na Amazônia.
Precisamos muito reconstruir uma paisagem produtiva também com predomínio de espécies nativas, com elevado valor econômico, e socioambiental, agregado. Sim, precisamos plantar árvores. Sim, precisamos produzir.
Precisamos reconstruir uma paisagem que possa restaurar grande parte dos serviços ecossistêmicos, e também a dignidade no campo, com a geração de emprego e renda para as populações da Amazônia, para que possam ter direito aos mesmos benefícios que as comunidades urbanas usufruem como energia, conectividade, transporte, saúde e educação.
Este é desafio do futuro, mas principalmente do presente.