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Por – Roberta Cipoloni Tiso*, especial para Neo Mondo
É inegável que a sustentabilidade está diretamente ligada ao avanço de diferentes aspectos da sociedade – como qualidade de vida, saúde e locomoção. No entanto, ainda há um longo caminho para que o tema possa se desenvolver, ultrapassando problemas como descarte de resíduos e desmatamento. A emissão de gases de efeito estufa (GEE) é um dos principais desafios globais atualmente, tendo em vista que, até 2030, é possível que a temperatura aumente 1,5ºC ao redor do mundo. A previsão foi apontada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês).
Neste cenário, o segmento de transportes – seja ele público ou privado – tem um grande peso. Segundo o instituto de pesquisa WRI Brasil, sozinho, o setor é responsável por 24% das emissões globais de GEE. A fatia é grande, tendo em vista a importância da área para diferentes aspectos da vida das pessoas, indústrias e negócios.
Essa grande participação nas emissões já vem causando impactos globalmente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 7 milhões de pessoas morrem por ano devido à contaminação do ar – uma média aproximada de 19 mil indivíduos por dia. Diante desses fatores, como podemos garantir a diminuição de emissões e o ganho de eficiência por parte dos transportes?
A resposta pode ter diversos caminhos, todos eles com jornadas que exigem conscientização e esforço entre diferentes pontas. Isso porque o setor é complexo, composto por diferentes partes, desafios regionais e necessidades de investimentos. Entretanto, independente da trajetória escolhida, um fator é peça-chave no ganho de sustentabilidade – no segmento de transportes ou em qualquer outro âmbito: a tecnologia.
Disponibilidade de dados para alcançar as melhores estratégias
Ao abordar um setor tão complexo como é o de transportes, alguns fatores podem facilitar as tomadas de decisões e o avanço para a sustentabilidade. Entre eles estão as plataformas que integram informações de diferentes origens em um ambiente simples, de fácil visualização e navegação. Elas são de extrema importância para que os gestores públicos possam compreender as principais lacunas no sistema e, também, o que está dando certo e que pode ser replicado em outras regiões.
Neste caso, falamos de soluções que integram dados em tempo real sobre o transporte coletivo (como quantidade de ônibus em circulação, trajetos e velocidade) que são uma peça-chave no entendimento do que precisa melhorar nessa área da gestão pública.
Diminuir os desafios de um sistema complexo
Além da tecnologia, para impulsionar a sustentabilidade no segmento e, também, torná-lo menos complexo, alguns passos poderão ser seguidos – são eles:
- Mapear os componentes: identificar elementos no setor de transporte público, como passageiros, veículos, infraestrutura, políticas e tecnologias.
- Analisar as integrações entre diferentes partes: examinar as relações e interdependências entre os diversos elementos do sistema e entender como as mudanças em um componente afetam os outros.
Modelagem e simulação: com uso de dados e informações, criar modelos para simular o comportamento do sistema e explorar diferentes cenários, visando prever consequências e identificar soluções eficientes. - Monitoramento e adaptação: implementar sistemas de monitoramento em tempo real – como exemplo a Plataforma Trancity – ajustar estratégias conforme necessário e permitir a adaptação às mudanças nas condições e necessidades dos usuários.
- Aprendizagem e inovação: estimular a colaboração entre as partes interessadas, promover aprendizado contínuo e incentivar a experimentação de novas tecnologias e abordagens no setor de transporte público.
- Resiliência e sustentabilidade: desenvolver sistemas de transporte público resilientes e sustentáveis, capazes de se adaptar a eventos inesperados e a longo prazo, como mudanças climáticas.
- Comunicação e envolvimento: a inovação só ocorre quando a comunicação é possível. Nesse sentido, manter um diálogo aberto e transparente entre todas as partes envolvidas é fundamental para o avanço sustentável.
O Futuro da Mobilidade
É impossível falar em sustentabilidade no segmento de mobilidade urbana sem considerar a visão de futuro, que engloba a sociedade, a tecnologia e a indústria. Existem diferentes direções possíveis que a mobilidade urbana pode seguir, e é fundamental explorar essas possibilidades.
Robin Chase, cofundadora da Zipcar e defensora dos transportes sustentáveis, acredita que o futuro do transporte público está relacionado à mobilidade compartilhada, ao transporte autônomo e à integração de diferentes modais. Por sua vez, Gabe Klein, ex-comissário de transporte de Chicago, destaca a relevância da tecnologia e da inovação no contexto da micromobilidade.
Com todas essas possibilidades, afirmo que o futuro já está acontecendo no agora. Todas as escolhas feitas para o sistema estão ditando o que veremos nos próximos anos.
Por isso, no quesito sustentabilidade, a transparência, integração, compromisso e conscientização entre todos os envolvidos (gestão pública, sociedade e companhias privadas) são fatores cruciais para diminuir os desafios de um sistema complexo como o de transportes. Como consequência, redução significativa das emissões e contribuição direta para a agenda de combate às mudanças climáticas.
*Roberta Cipoloni Tiso, diretora de marketing e sustentabilidade da green4T e coordenadora do Grupo de Sustentabilidade da International Association of Public Transport (UITP).