Imagem – Divulgação
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Novo estudo da Proteção Animal Mundial faz alerta global sobre o uso excessivo de antibióticos na pecuária industrial intensiva
Nesta quinta-feira (3), a Proteção Animal Mundial promoverá o seminário “Enfrentando a resistência antimicrobiana: evidências para avançar em uma saúde única”. O evento, além de reunir especialistas e profissionais da área da saúde para discutir os conceitos e desafios relacionados à resistência antimicrobiana (RAM), contará com o lançamento do novo estudo desenvolvido em parceria com a Universidade de Bolonha sobre o uso excessivo de antibióticos na pecuária industrial intensiva e os efeitos devastadores da RAM na saúde humana, meio ambiente e sociedade.
De acordo com a pesquisa, realizada em sete regiões geográficas*, o uso indiscriminado de antimicrobianos em animais de criação tem ultrapassado em grande medida o consumo na medicina humana, representando entre 60% e cerca de 75% do uso global de antibióticos. Isso é motivo de preocupação para a saúde pública, uma vez que a RAM torna-se cada vez mais difícil de tratar, causando um aumento significativo do custo global de saúde e, em muitos casos, em fatalidades evitáveis. O levantamento se concentrou nas três principais espécies terrestres (bovinos, suínos e aves) e nas seis principais espécies aquáticas (carpa, bagre, salmão, camarão, tilápia e truta) criadas em fazendas industriais, com base nas estatísticas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
*Leste Asiático e Pacífico, Europa e Ásia Central, América Latina e Caribe, Oriente Médio e o Norte da África, América do Norte, Sul Asiático e África Subsaariana.
“Os resultados desse estudo são um alerta urgente para a problemática do uso de antibióticos na pecuária industrial intensiva. A resistência antimicrobiana é uma ameaça à saúde pública e precisa ser enfrentada com ações concretas e imediatas”, enfatiza Karina Ishida, coordenadora de Campanhas de Sistemas Alimentares da Proteção Animal Mundial.
O material aponta que a grande maioria (90%) dos antibióticos utilizados em animais de criação é administrado em concentrações não terapêuticas. “A disseminação da RAM pode ser diretamente atribuída ao uso não terapêutico de antibióticos em animais, como promotores de crescimento e de forma preventiva. Isso coloca em risco não apenas a saúde humana, mas também o bem-estar animal e o meio ambiente”, completa a executiva.
O levantamento revelou ainda que, entre 2018 e 2020, as fazendas industriais foram responsáveis pela produção global de aves (74,4%), suínos (66,9%) e bovinos (41,9%), com consumo anual de 80.541 toneladas de antibióticos, sendo que 58,5% (47.156 toneladas) foram utilizadas nessas fazendas.
“Os resultados desse estudo são alarmantes e devem servir como um chamado urgente para uma ação efetiva. O uso excessivo de antibióticos na pecuária industrial intensiva representa uma ameaça crescente à saúde humana e animal, e exige uma resposta coordenada e abrangente de todas as partes interessadas. É essencial que o governo, a indústria e a sociedade como um todo trabalhem juntos para adotar práticas sustentáveis e responsáveis na produção animal, a fim de garantir a preservação da eficácia dos antibióticos e proteger a saúde de todos”, completa Karina.
A RAM causou em 2019, a nível global, 403 mil mortes atribuíveis e 1,6 milhão de mortes associadas, gerando uma carga de 13,65 milhões de DALYs (número de mortes e anos de vida ajustados à deficiência (Disability-Adjusted Life Years)) atribuíveis e 56,84 milhões de DALYs associados. A pecuária industrial foi quantificada como principal contribuinte, associada a 975 mil mortes e 33,5 milhões de DALYs.
O estudo conclui que é possível reduzir significativamente o uso excessivo de antibióticos em fazendas industriais globalmente nas próximas décadas, mesmo após o crescimento populacional e do comércio internacional de produtos de origem animal. A experiência europeia demonstra que essa redução é viável, e o cenário mais racional de uso de antibióticos pode levar a economias globais de até 17,7 trilhões de dólares entre 2019 e 2050 em perdas de produtividade e custos associados à resistência antimicrobiana (RAM).
Para combater o uso excessivo de antibióticos na produção animal, as medidas recomendadas pelo Plano de Ação Global podem trazer resultados efetivos. É essencial investir em novos antimicrobianos e explorar alternativas aos antibióticos em risco de obsolescência devido à RAM nas fazendas, como vacinas, prebióticos, probióticos e outras soluções inovadoras. O uso de antibióticos como promotores de crescimento e tratamentos preventivos devem ser gradualmente eliminados globalmente, enquanto a restrição estrita deve ser imposta ao uso de antibióticos de importância críticae antibióticos altamente importantes.
A melhoria do bem-estar animal, a biossegurança pecuária e outras práticas de prevenção de doenças são fundamentais para reduzir o uso excessivo de antibióticos na pecuária industrial, e experiências de países que adotaram medidas mais rigorosas indicam que isso é possível sem sintomas negativos. Além disso, é importante estabelecer regulamentações e métricas harmonizadas para monitorar e rastrear o uso de antibióticos nas fazendas, garantindo a transparência da cadeia de abastecimento de alimentos em relação a essa questão. Isso permitirá que os consumidores façam escolhas conscientes ao adquirir produtos de origem animal. A cooperação entre o governo, a indústria farmacêutica e o pesquisador é fundamental para combater a resistência antimicrobiana e proteger a saúde humana, animal e ambiental a longo prazo.