Imagem de drone mostra a redução do nível de água – Foto: André Zumak e Débora Hymans
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Setembro de 2023 registrou a menor extensão coberta por água no estado do Amazonas desde 2018. É o que mostra uma nota técnica inédita do MapBiomas, com dados obtidos a partir de imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel
Os 3,56 milhões de hectares de superfície de água no Amazonas em setembro passado representam uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares registrados em setembro de 2022 – que foi um patamar acima da média histórica acompanhada pelo MapBiomas, com início em 1985, e que marca também o pico de superfície de água desde 2018.
Um grupo de 25 municípios do estado tiveram uma queda na superfície de água superior a 10 mil hectares. O ranking é liderado por Barcelos, no centro do Amazonas, com perda de 69 mil hectares entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Em seguida vem Codajás (47 mil hectares), Beruri (43 mil hectares) e Coari (40 mil hectares) – todos com perdas superiores a 40 mil hectares de água. Parintins (36 mil hectares), Maraã (36 mil hectares), Manacapuru (29 mil hectares), Itacoatiara (25 mil hectares), Anori (24 mil hectares) e Autazes (23 mil hectares) formam o grupo com perdas superiores a 20 mil hectares de superfície de água entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Outros dez municípios perderam entre 10 mil e 20 mil hectares. Todos esses vinte municípios que mais perderam superfície de água no Amazonas estão em estado de emergência ou de alerta, afetando comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, indígenas e áreas urbanas.
Os pesquisadores também mapearam alguns pontos afetados de forma aguda pela redução da superfície de água. Além da seca no Lago Tefé, que culminou na morte de mais de 100 botos, imagens de satélite mostram que lagos inteiros secaram em áreas de várzea na RESEX Auatí-Paraná. O mesmo aconteceu com a seca no Lago de Coari, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o calendário escolar. Entre Tefé e Alvarães, a seca forma bancos de areia extensos.
Carlos Souza, coordenador do MapBiomas Água e principal autor da nota técnica, explica que a redução de água foi detectada em rios, lagos e em áreas de úmidas: “o impacto na biodiversidade aquática tem sido reportado em várias localidades, mas ainda não foi estimado, podendo atingir proporções alarmantes. Além disso, o Amazonas encontra-se com alta vulnerabilidade a queimadas, o que aumenta o risco às populações e à economia. Os efeitos do El Niño severo de 2023 e do aquecimento do Atlântico Norte têm sido considerados, por especialistas, como os principais fatores que estão contribuindo com a seca severa na região, o que pode ser de maior intensidade do que a seca de 2010. As mudanças climáticas e o desmatamento, por sua vez, são considerados a principal causa das secas, cada vez mais frequentes e severas na Amazônia”.
O mapeamento da redução da superfície de água no Amazonas no mês passado foi feito combinando imagens Landsat com imagens Sentinel-1 (radar) para poder mapear áreas cobertas por nuvens. Com o Landsat, por sua vez, é possível detectar água em área de várzea o que ainda não foi desenvolvido pelo MapBiomas Água para as imagens Sentinel 2. Os dados, porém, resultam de uma análise mais conservadora, o que significa que a extensão de perda de água pode ser mais crítica. As análises foram realizadas por Bruno Pereira e Carlos Souza Jr., pesquisadores do Imazon que integram o MapBiomas. A nota técnica pode ser conferida neste link.