As três principais petroleiras poluidoras são as empresas Aramco, da Arábia Saudita, a Gazprom, propriedade do governo russo, e a National Iranian Oil Company, do Irã – Imagem: Freepik
POR – INSTITUTO CLIMAINFO, PARA NEO MONDO
Novo estudo estima que as 25 maiores petroleiras do mundo poderiam cobrir custos ambientais e ainda permanecerem lucrativas
Os danos climáticos globais causados pelas emissões associadas às 25 principais empresas de petróleo e gás do mundo (petroleiras), entre 1985 e 2018, estão estimados em US$ 20 trilhões, afirma o novo relatório “Carbon majors’ trillion dollar damages”, publicado nesta quinta-feira (16/11) pela organização internacional Climate Analytics. No mesmo período, essas empresas registraram lucros de US$ 30 trilhões, mostrando que elas poderiam ter pago pelos danos associados às suas atividades e produtos e ainda assim se manterem lucrativas.
Os três principais emissores são as empresas Aramco, da Arábia Saudita, a Gazprom, propriedade do governo russo, e a National Iranian Oil Company, do Irã, e as principais empresas detidas por investidores são a ExxonMobil, a Shell, a BP e a Chevron. A lista inclui ainda a empresa Abu Dhabi National Oil Company, liderada pelo homem escolhido pelos Emirados Árabes Unidos para presidir a COP28.
A Petrobras também é incluída na análise do relatório. Segundo o estudo, os ganhos da empresa no período chegaram a US$ 700 bilhões, enquanto os danos climáticos causados por sua atividade e seus produtos foram estimados em US$ 500 bilhões.
“Há décadas que estas grandes empresas petroleiras têm conhecimento das mudanças climáticas e, no entanto, têm apostado em manter seu modelo de negócio. Obtiveram enormes ganhos financeiros enquanto o aquecimento global se intensificou, e deixaram a conta para as populações vulneráveis, em especial para os países em desenvolvimento”, afirmou o principal autor do relatório, Dr. Carl-Friedrich Schleussner.
Os cálculos foram feitos a partir de uma estimativa intermédia do custo social do carbono (US$ 185 por tonelada de CO2) para calcular as estimativas dos danos. Um terço dos danos foi atribuído às grandes companhias petrolíferas, que partilham a responsabilidade em partes iguais com os governos e os consumidores.
Dados parciais de 2022
Em 2022, os ganhos financeiros das empresas petrolíferas e de gás atingiram níveis recorde. A Aramco, por exemplo, anunciou aquilo a que o seu CEO chamou “provavelmente o maior rendimento líquido alguma vez registado no mundo empresarial”. Já a Petrobras teve o maior lucro de sua história, com lucro líquido de R$ 188,3 bilhões.
Para 2022, os autores conseguiram reunir dados para um subconjunto de sete grandes empresas de carbono, incluindo a Aramco, a Exxon Mobil e a Shell, mostrando que os ganhos financeiros foram quase o dobro dos danos estimados causados pelas suas emissões nesse ano – US$ 497 bilhões em comparação com US$ 260 bilhões.
“Riqueza fóssil”
O relatório também compara os danos causados aos fundos soberanos, que foram em grande parte criados com os lucros da extração de combustíveis fósseis.
Os Emirados Árabes Unidos, anfitriões das negociações internacionais sobre o clima deste ano, possuem os maiores fundos soberanos combinados. Metade dos seus fundos poderia pagar os danos causados pelas emissões associadas à sua indústria petrolífera e de gás entre 1985 e 2018, e ainda teria US$ 700 bilhões em riqueza.
“Desde a sua criação, estes fundos cresceram de tal forma que é evidente que a ‘riqueza fóssil’ está agora a perpetuar-se a si própria. Mas o outro legado desta riqueza é a devastação climática”, afirmou a autora do relatório, Marina Andrijevic.
No ano passado, na COP27, todos os governos reconheceram a necessidade de novas fontes de financiamento para perdas e danos. A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, defendeu especificamente a aplicação de um imposto de 10% sobre os lucros das empresas petrolíferas e de gás para financiar um fundo de perdas e danos.
“Depois dos superlucros do ano passado, algumas dessas empresas estão recuando em seus compromissos climáticos, mostrando que não podemos contar que elas paguem por conta própria pelos danos climáticos causados – e certamente não na velocidade que precisamos. Os governos devem intervir e tributar os poluidores para que paguem pelos prejuízos que estão causando. Também precisamos de um compromisso firme na COP28 para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis de modo a mantermos vivo o objetivo de 1,5°C”, concluiu Schleussner.