Indivíduos estão recorrendo ao empreendedorismo como uma fonte de sustento – Imagem: Freepik
ARTIGO
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Por – Eder Campos, Diretor de Educação Social da Fundação Dom Cabral, especial para Neo Mondo
O mundo do trabalho está passando por uma metamorfose, impulsionada pelo surgimento da economia compartilhada e das novas tecnologias. Mais do que nunca, indivíduos estão recorrendo ao empreendedorismo como uma fonte de sustento, seja por necessidade ou por escolha. Esse fenômeno, comumente denominado “uberização do trabalho” (empreendedorismo), não apenas redefine a natureza do emprego, mas também levanta questões cruciais sobre os direitos dos trabalhadores e o impacto social das novas formas de organização laboral.
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Na medida que o indivíduo está por si, temos um empreendedor, mesmo que ele não se veja assim.
A crescente adesão ao modelo de trabalho sob demanda traz preocupações acerca da segurança, estabilidade e dignidade no trabalho. Muitos desses empreendedores enfrentam condições laborais duras, jornadas longas, submetidos a uma insegurança financeira constante. Além disso, vivemos em uma sociedade cada vez mais polarizada, onde políticas públicas sociais são partidarizadas, alimentando um debate que muitas vezes opõe trabalho e assistencialismo.
Diante desse cenário desafiador, torna-se imperativo refletir sobre o papel do empreendedorismo na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Ele pode ser encarado como uma escolha de agentes econômicos ou uma resposta à falta de alternativas?
Independentemente da motivação inicial, é essencial reconhecer o potencial transformador do espírito empreendedor, especialmente em um contexto marcado por incertezas econômicas. Mas, o despertar desse estado requer não apenas coragem, mas também formação e capacitação adequadas. É fundamental fornecer aos empreendedores as ferramentas necessárias para precificar serviços, planejar finanças e desenvolver a resiliência necessária para enfrentar os desafios do mundo dos negócios.
Nesse sentido, Emerson de Almeida, co-fundador da FDC, em seu livro “Caminhando contra o Vento” oferece uma perspectiva valiosa, expondo os desafios enfrentados pelos empreendedores brasileiros em um contexto econômico adverso. Nele, o autor salienta a importância da educação e capacitação como contribuição fundamental para o crescimento e perenidade da atividade do empreendedor popular.
O verdadeiro desafio vai além do desenvolvimento individual; ele se estende ao mundo corporativo e à sociedade como um todo. É preciso existir um compromisso social das empresas de apoiar o contexto desse espírito empreendedor, seja da sua cadeia de valor (fornecedores, representantes, clientes), seja de suas comunidades do entorno.
Empresas que adotam uma abordagem ESG (Ambiental, Social e Governança) se comprometem não apenas a gerar lucros para os acionistas, mas também a criar valor para os funcionários, clientes, comunidades e o meio ambiente. Precisam olhar para além do resultado trimestral e idealizar a perenidade dos negócios.
Não faz sentido criticarmos o sistema de proteção social em detrimento dos desafios de recrutamento que alguns setores possuem: precisamos reconhecer que as jornadas ofertadas, em termos custo-benefício, precisam ser mais atrativas e isso requer agregação de valor nos processos produtivos; uma visão de longo prazo.
Há uma necessidade de investir na formação de habilidades para o nosso empreendedor popular – o tal “uberizado”. Para estar por si, mitigando riscos de escolhas ruins, é preciso despertar novos hábitos e novas atitudes. O mesmo empresário que reclama de não achar colaboradores para vagas formais poderia avaliar como criar arranjos informais, com incentivos aderentes e educação que suporte uma rede engajada e duradoura.
Por fim, temos, na “uberização”, os desafios das armadilhas de regulamentações das relações de trabalho. Flexibilização é uma tendência, e a segurança de bem-estar social precisa estar contemplada nas políticas de renda mínima, no acesso à saúde e educação da família, ao invés de reduzir a competitividade via obrigações trabalhistas.
O incentivo da formação empreendedora desse trabalhador que estará “por si” na relação de prestador de serviço é o ingrediente que poder público e empresas precisam apoiar juntos. O “S” do ESG, que almeja uma sociedade mais justa, da diversidade, que promove olhar mais empático para as relações à inclusão produtiva de jovens e competitiva de adultos, precisa ser uma aliança de valor para um futuro mais produtivo e sustentável.