Foto (útero) – Imagem: Maira Kellermann
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Em um cenário onde a relação com os oceanos é mais do que apenas um aspecto da geografia, mas sim uma conexão emocional com nosso planeta, o Redemar Brasil e a recém-inaugurada Escola Estadual de Tempo Integral de Portão em Lauro de Freitas, Bahia, unem esforços e lançam um projeto visionário: a Educação Azul (EA).
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Através de uma equipe multidisciplinar composta por especialistas em biologia marinha, psicopedagogia, pedagogia e educadores ambientais, a EA emerge como uma ferramenta poderosa para integrar conhecimentos sobre os oceanos em diversas disciplinas, desde ciências até literatura, promovendo uma abordagem interdisciplinar e prática.
O programa EA aborda questões fundamentais de conservação marinha, sustentabilidade e a importância vital dos oceanos para o futuro do nosso planeta. Além disso, enfatiza o desenvolvimento de habilidades como pesquisa, pensamento crítico e resolução de problemas, capacitando os alunos a enfrentar os desafios ambientais de forma proativa.
Conversamos com William Freitas, presidente do Redemar Brasil, para entender melhor como a Educação Azul transcende os limites físicos da escola e se conecta com a comunidade, alimentando uma relação emocional com os oceanos. Com base nos padrões da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação, o programa não apenas transmite conhecimento, mas também instiga uma profunda conscientização e senso de responsabilidade ambiental entre os jovens.
Além disso, William nos fala sobre o papel da Redemar Brasil como signatária da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, uma rede engajada na implementação de ações locais alinhadas às metas nacionais e globais da Década do Oceano, promovendo a cultura oceânica para o desenvolvimento sustentável.
Ao explorar exemplos internacionais, como o programa Escola Azul em Portugal, William nos mostra como a EA está alinhada com tendências e padrões globais, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e engajados com a preservação dos oceanos.
Junte-se a nós nessa conversa fascinante sobre como a Educação Azul está moldando o futuro, não apenas das próximas gerações, mas também do nosso planeta.
Neo Mondo – Como surgiu a parceria entre a Escola Estadual de Tempo Integral de Portão e o Instituto Redemar Brasil para implementar o projeto de Educação Azul?
William Freitas – Nós participamos de um vento receptivo, a Expedição Darwin200 com a exposição fotográfica o mar não está para plástico e nesse processo, como fazemos parte da Aliança para Cultura Oceânica do Brasil, recebemos um convite do diretor geral da escola e iniciamos as tratativas.
Quais são os principais objetivos e benefícios esperados do programa de Educação Azul para os alunos e a comunidade escolar em Lauro de Freitas, Bahia?
O programa tem como principais objetivos e benefícios:
1. Conscientização ambiental: promover a conscientização sobre a importância da preservação dos oceanos e ecossistemas costeiros entre os alunos e a comunidade escolar.
2. Educação ambiental: oferecer educação ambiental de qualidade, abordando temas como conservação marinha, biodiversidade marinha, poluição dos oceanos e sustentabilidade.
3. Incentivo a participação ativa: estimular a participação ativa dos alunos em atividades práticas relacionadas à conservação marinha, como limpeza de praias, monitoramento de espécies marinhas e plantio de mudas costeiras.
4. Formação de cidadãos conscientes: capacitar os alunos para se tornarem cidadãos conscientes e responsáveis, aptos a tomarem decisões com relação ao meio ambiente e aos recursos naturais.
5. Promoção do desenvolvimento sustentável: contribuir para o desenvolvimento sustentável da comunidade local, incentivando práticas e comportamentos que promovam a conservação dos recursos marinhos.
Os benefícios esperados incluem a formação de uma geração mais consciente e engajada na preservação do meio ambiente marinho, a redução da poluição costeira, a proteção da biodiversidade marinha e o fortalecimento dos laços entre a escola, os alunos e a comunidade local.
Pode nos falar um pouco sobre a equipe multidisciplinar envolvida no projeto e como ela contribui para a integração de conhecimentos sobre os oceanos em várias disciplinas?
A equipe multidisciplinar envolvida no programa de Educação Azul inclui profissionais de diversas áreas do conhecimento, como biologia marinha, educação ambiental, oceanografia, geografia, ciências sociais, entre outras. Segue uma breve síntese de como essa equipe contribui para a integração de conhecimentos sobre os oceanos em várias disciplinas, tais como:
1. Biologia marinha: especialistas fornecem conhecimento especializado sobre a vida marinha, incluindo, ecossistemas costeiros, cadeias alimentares e espécies e conservação marinha.
2. Educação ambiental: profissionais de educação ambiental desenvolvem atividades educativas e recursos pedagógicos que abordam questões ambientais relacionadas aos oceanos, promovendo a conscientização e a mudança de comportamento.
3. Oceanografia: especialistas contribuem com informações sobre processos oceânicos, como correntes marinhas, marés e fenômenos climáticos, ajudando os alunos a entenderem melhor o funcionamento dos ecossistemas marinhos.
4. Geografia: professores fornecem contexto geográfico, explorando a importância dos oceanos em termos de localização, clima, recursos naturais e impacto humano.
5. Ciências sociais: especialistas abordam questões como políticas de conservação marinha, sustentabilidade socioeconômica das comunidades costeiras e os impactos das atividades humanas nos ecossistemas marinhos. Culturalmente, é essencial abordarmos de que forma os negros foram introduzidos no Brasil e como os índios que eram costeiros, foram deslocados para outras áreas por conta da “colonização”.
A colaboração entre esses profissionais permite uma abordagem holística e interdisciplinar no ensino sobre os oceanos, integrando conhecimentos de diversas áreas do saber e proporcionando aos alunos uma compreensão mais completa e profunda sobre a importância dos oceanos em suas vidas e no mundo em geral.
O conceito de Educação Azul vai além das atividades acadêmicas e busca criar uma conexão emocional dos alunos com os oceanos. Como essa abordagem é implementada no dia a dia da escola?
Se dá da seguinte forma:
1. Experiências práticas: proporcionar aos alunos experiências práticas e imersivas, como visitas a áreas costeiras, observação da vida marinha em aquários locais, participação em expedições de campo e atividades de snorkel ou mergulho, quando possível.
2. Projetos interativos: envolver os alunos em projetos interativos que os desafiem a explorar e compreender melhor os oceanos como projetos de pesquisa sobre espécies marinhas, criação de murais temáticos, produção de vídeos educativos e organização de eventos de conscientização ambiental.
3. Conexão com a comunidade: estabelecer parcerias com organizações locais de conservação marinha, pescadores, empresas e outros membros da comunidade costeira para envolver os alunos em atividades práticas de conservação e preservação dos oceanos.
4. Narrativas e histórias inspiradoras: compartilhar narrativas e histórias inspiradoras sobre os oceanos, destacando a beleza, a importância e os desafios enfrentados pelos ecossistemas marinhos, para despertar o interesse e a emoção dos alunos.
5. Atividades criativas: promover atividades criativas, como arte com temática marinha, poesia, música e teatro, que permitam aos alunos expressarem suas emoções e pensamentos sobre os oceanos de maneira pessoal e significativa.
6. Integração com o currículo escolar: integrar temas relacionados aos oceanos em diversas disciplinas do currículo escolar como ciências, geografia, matemática, história e línguas, para reforçar a conexão emocional dos alunos com os oceanos em diferentes contextos de aprendizagem.
Ao adotar essas abordagens, as escolas criam um ambiente educacional que não apenas transmite conhecimento sobre os oceanos, mas também, nutrem uma conexão emocional profunda e duradoura entre os alunos e o ambiente marinho, inspirando-os a se tornarem defensores ativos da conservação dos oceanos.
O diretor da escola mencionou a importância de desenvolver um profundo respeito pelos oceanos entre os adolescentes. Como o projeto Educação Azul contribui para essa missão?
O primeiro passo é de desmistificar que o oceano seja algo distante da vida diurna deles, depois nós mostramos a interdependência e como os oceanos afetam suas vidas, dai seguimos para saber mais desse incrível planeta Azul.
Além das atividades acadêmicas, quais são algumas das atividades práticas realizadas no âmbito do projeto, como limpeza de praias, plantio de corais e projetos de reciclagem?
Tivemos um evento pontual sobre a importância da água e seu ciclo no planeta, onde mostramos a importância de não só proteger mas como se dá o uso racional desse bem precioso evitando o desperdício. Planejamos ações de limpeza de praia e depois fazemos o estudo gravimétrico desses resíduos para que os alunos percebam quais são as fontes e quantidades desses resíduos e como eles impactam o ambiente marinho.
Trabalhamos a história dos bairros contada pela perspectiva ambiental , nesse aspecto também atuamos no combate ao etarismo. E estamos abordando profissões e ofícios na Economia Azul como uma oportunidade de carreira.
Como a Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica está envolvida nesse projeto e qual é o papel dela na promoção da cultura oceânica e do desenvolvimento sustentável?
Sempre estamos participando de eventos para aprender com experiências de locais como por exemplo a cidade de Santos (SP), que já possui sua lei da cultura oceânica, sendo a primeira cidade no mundo a implantar esse programa. Na conferência dos oceanos tivemos uma mesa com a participação de uma das participantes do grupo Maré de Ciências, Bianca Acayba e da doutora/professora Carmem Pezoto, uma das idealizadoras do projeto “Onda Cultural na Escola” que vem desenvolvendo atividades sobre os princípios, conceitos e dimensões da Cultura Oceânica para alunos da educação básica em escolas do munícipio de Niterói, Rio de Janeiro. Desde 2020, nesse network, vamos adaptando as ações e atividades as realidades locais.
Podemos citar exemplos de outras iniciativas semelhantes, como a Escola Azul em Portugal. Como essas experiências internacionais podem inspirar e informar o trabalho realizado no Brasil?
Precisamos pensar globalmente mas agir localmente, temos que assumir o compromisso de cuidarmos dos nossos quintais, a Educação Azul que para nós é uma adaptação do que melhor atende a nossa realidade, haja vista que na Bahia as culturas já existentes podem ser consideradas CULTURA OCEÂNICA, como por exemplo Iemanjá, que também é cultura Africana, nós resolvemos buscar para o lado que o termo original nos guia a literacia oceânica , por isso educar para transformar a percepção e sua relação com os oceanos nos deixa confortável para trabalhar todo esse processo.
Qual é a importância de inserir o ensino sobre os oceanos no currículo escolar e como isso contribui para a formação dos alunos como cidadãos conscientes e responsáveis?
1. Consciência ambiental: os oceanos desempenham um papel crucial no funcionamento do planeta, influenciando o clima, o ciclo da água, a produção de oxigênio e a regulação do clima. Portanto, é essencial que os alunos compreendam a importância dos oceanos para a vida na Terra e desenvolvam uma consciência ambiental sobre a necessidade de protegê-los.
2. Conexão com a vida cotidiana: muitas pessoas vivem próximas às áreas costeiras e dependem dos oceanos para alimentação, transporte, recreação e sustento econômico. Ao aprenderem sobre os oceanos, os alunos podem entender melhor sua conexão direta com esses ecossistemas e como suas ações diárias podem impactá-los.
3. Desenvolvimento de habilidades críticas: o estudo dos oceanos envolve a integração de diversas disciplinas, como ciências, geografia, matemática e línguas. Ao abordar temas relacionados aos oceanos, os alunos têm a oportunidade de desenvolver habilidades críticas, como pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação e colaboração.
4. Promoção da sustentabilidade: ao aprenderem sobre os desafios enfrentados pelos oceanos, como a poluição, a sobrepesca e as mudanças climáticas, os alunos são incentivados a refletir sobre seu próprio impacto no meio ambiente e a adotarem comportamentos mais sustentáveis e responsáveis.
5. Empoderamento dos alunos: ao se tornarem mais conscientes dos problemas ambientais enfrentados pelos oceanos e pelas comunidades costeiras, os alunos se sentem capacitados a tomar medidas concretas para ajudar a enfrentar esses desafios, seja através da participação em atividades de conservação, advocacy ou mudanças de comportamento.
Em resumo, inserir o ensino sobre os oceanos no currículo escolar não apenas fornece aos alunos conhecimento sobre um dos sistemas mais importantes do planeta, mas também os capacita a se tornarem cidadãos conscientes, responsáveis e engajados na proteção do meio ambiente e na promoção da sustentabilidade.
Por fim, como você vê o futuro do projeto de Educação Azul e qual é o impacto esperado a longo prazo na comunidade local e além dela?
Como signatária da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, o Redemar Brasil está comprometido em promover a cultura oceânica para o desenvolvimento sustentável, alinhada às metas nacionais e globais da Década do Oceano. Exemplos como a recente Lei da Cultura Oceânica em Santos (SP) demonstram o potencial transformador das políticas públicas focadas na educação sobre os oceanos.
Com todos os alertas voltados para o não retorno, para os eventos climáticos extremos e para a escassez hídrica, tendo na água a principal fonte de geração de vida, precisamos agir com rapidez e formar gerações azuis com mais pertencimento e entendimento, no principal objetivo que é de termos condições de vida no único planeta habitável por nós humanos, no gap que o Brasil se encontra de politicas públicas costeiras/oceânicas, de cidadãos com entendimento da importância ecológica do oceano para sua própria vida , vamos sempre frisar a frase de Antônio Guterrez Secretario Geral da ONU “ A humanidade tem uma Escolha Cooperar ou Perecer”.
Os problemas com os oceanos são diferentes dos ecossistemas em terra, eles são transfronteiriços e atingem países e continentes, o Brasil tem a 10ª maior zona exclusiva do mundo com o maior berçário de vida marinha do Atlântico Sul e a Bahia a 2ª maior baia navegável do planeta, quesitos que consideramos preponderante para avançarmos com muita força para esse desconhecido campo da ciência e do conhecimento.
Olhando para o futuro do projeto de Educação Azul, vejo um impacto duradouro na comunidade local e além dela. Acredito que os jovens envolvidos no programa se tornarão líderes conscientes e engajados na preservação dos oceanos, promovendo uma mudança positiva não apenas em suas próprias vidas, mas também no mundo ao seu redor. A longo prazo, o projeto tem o potencial de inspirar outras escolas e comunidades a adotarem práticas sustentáveis e a protegerem nosso precioso ambiente marinho para as futuras gerações.