Desmatamento e queimada na Amazônia – Imagem: Marizilda Cruppe / Greenpeace
Por – Luna Galera, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, NEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)
Coalizão Verde é a união dos portais de notícias Neo Mondo, O mundo que queremos e 1 Papo Reto com o objetivo de maximizar os esforços na cobertura de temas ligados à preservação ambiental
A Amazônia é considerada o maior reservatório de carbono sobre o solo do mundo. Sua floresta primária, aquela que nunca foi desmatada, pode estocar até 400 toneladas de CO2 por hectare nos troncos das árvores, nas folhas e na terra. Com o avanço das queimadas e do desmatamento para atividades agropecuárias, todo este dióxido de carbono é liberado para a atmosfera, agravando o efeito estufa, a crise climática, a perda da biodiversidade, os conflitos por terra e a insegurança alimentar. Isso porque a falta de um modelo de desenvolvimento econômico sustentável na região amazônica passa a falsa sensação de que atividades econômicas só podem acontecer com a retirada da floresta. Trata-se de uma dinâmica predatória que mina nossas chances de futuro.
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Segundo o estudo Fatos da Amazônia 2024, publicado pelo projeto Amazônia 2030, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) atingiram um pouco mais de 1,2 milhão de toneladas de CO2 na Amazônia Legal no ano de 2022. Atualmente, a região é responsável por mais da metade da emissão de GEE de todo o Brasil. Entre os estados amazônicos, Pará, Mato Grosso e Rondônia são os que mais contribuíram para a catástrofe ambiental ao longo dos anos. Os pesquisadores apontam que o setor de mudança no uso da terra é a principal causa para o contexto de altas emissões, pois elas estão concentradas na mesma região onde se predomina o desmatamento e a degradação florestal.
As mudanças no uso da terra incluem sobretudo o desmatamento da floresta para uso agropecuário e as queimadas para plantio. Nesse processo, a vegetação é retirada de forma inconsequente para atender a interesses particulares limitados e, logo depois, a mesma área é abandonada para se regenerar – até que seja desmatada novamente. Esta repetição fomenta um ciclo vicioso no qual o CO2 lançado para atmosfera corrobora com as mudanças climáticas cada vez mais drásticas. Vale destacar que a longo prazo, as áreas degradadas perdem sua resiliência e não são mais capazes de reter a mesma quantidade de dióxido de carbono. Estima-se que uma floresta secundária retém 40% menos quando comparada com uma floresta primária.
Neste ano de 2024, a Amazônia bateu recordes de queimadas por conta de mudanças climáticas e criminalidade. O período de estiagem histórico, a antecipação da estação seca na região e o acontecimento de fenômenos como El Niño deixaram que a vegetação ficasse super inflamável. Porém, mesmo com condições suscetíveis ao fogo, a umidade da floresta tropical não permitiria tantos focos de calor como os que estão sendo registrados hoje. Por isso ainda é a ação antrópica, com destaque ao desmatamento ilegal para abertura de pastos e campos, que fomenta a crise climática que estamos vivendo. Nesse cenário de alerta, as emissões de gases de efeito estufa que já estão altas podem – e devem – piorar.
Não há mais como acreditar que o uso de recursos naturais desacompanhados de uma consciência ecológica trazem algum tipo de progresso para o país. As taxas alarmantes de GEE nos comprovam isso – basta sentir o aquecimento do clima que nos consome dia após dia. No Brasil, faltam políticas públicas para a conservação da natureza e um modelo econômico que valorize e pregue a floresta em pé. Então, enquanto medidas efetivas de proteção à Amazônia permanecem em segundo plano – ou até mesmo, em terceiro -, mais próximos estamos de protagonizar nosso próprio fim.