Nos 11 primeiros meses do ano, o número de focos aumentou 43,7% na Amazônia, 64,2% no Cerrado e 139% no Pantanal, em comparação ao mesmo período de 2023 – foto: © Jacqueline Lisboa / WWF-Brasil
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Os biomas brasileiros apresentaram recordes de incêndios em 2024
O ano de 2024 ficará marcado na história ambiental brasileira como um dos mais devastadores para os biomas do país. Dados divulgados pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelam um aumento alarmante nos focos de incêndios nos primeiros 11 meses do ano: 43,7% na Amazônia, 64,2% no Cerrado e impressionantes 139% no Pantanal em relação ao mesmo período de 2023. Esses números não refletem apenas a crise climática global, mas também destacam os desafios internos no manejo ambiental e na conservação dos ecossistemas brasileiros.
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Secas extremas e fogo fora de controle
A combinação de um El Niño intenso, as mudanças climáticas globais e o desmatamento acumulado criaram condições perfeitas para que os incêndios atingissem proporções devastadoras. Segundo o Inpe, o número de focos de incêndios registrados entre janeiro e novembro de 2024 na Amazônia chegou a 134.979, o maior índice desde 2007. Em paralelo, o Cerrado contabilizou 79.599 focos, enquanto o Pantanal registrou 14.483 focos, sendo este último o segundo maior número desde o início do monitoramento, em 1998.
Os incêndios, que tradicionalmente se concentravam nos meses de agosto a outubro, já davam sinais preocupantes em julho, quando o Brasil enfrentava uma das piores secas da história. A falta de chuvas e as altas temperaturas foram agravadas pela ação humana, com o uso deliberado do fogo para desmatamento e conversão de áreas naturais em terrenos agrícolas.
Impactos nos biomas brasileiros
Amazônia
O maior bioma tropical do mundo perdeu 13 milhões de hectares para o fogo até outubro de 2024, uma área equivalente ao território da Inglaterra, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da UFRJ. Esse impacto reduz significativamente a capacidade da floresta de produzir chuva e regular o clima na América do Sul, além de comprometer sua rica biodiversidade. Mariana Napolitano, do WWF-Brasil, alerta: “Estamos chegando do ponto de não retorno, onde a Amazônia se transformará em um ecossistema mais seco e degradado, com consequências devastadoras para o clima global.”
Cerrado
Conhecido como “berço das águas” do Brasil, o Cerrado teve cerca de 14,6 milhões de hectares queimados até outubro, o dobro da área da Irlanda. Esse bioma desempenha um papel vital na recarga de aquíferos e no equilíbrio hídrico do país. Daniel Silva, também do WWF-Brasil, enfatiza que a destruição do Cerrado afeta diretamente a Amazônia e o Pantanal, ampliando a crise hídrica e climática.
Pantanal
O bioma com a maior biodiversidade de áreas alagadas do mundo viu os focos de incêndio aumentarem 139% em 2024. A área queimada até outubro ultrapassou 2,5 milhões de hectares, maior que o País de Gales. Embora tenha havido uma redução nos incêndios em novembro, especialistas alertam que os danos acumulados comprometem a resiliência desse ecossistema por ser frágil.
Conexão entre biomas e a crise climática
Os biomas brasileiros estão interligados por um equilíbrio climático delicado. A destruição de um impacta diretamente sobre os outros, criando um ciclo vicioso de secas extremas, aumento das temperaturas e redução da umidade. Com mais de 18% da cobertura florestal amazônica já perdida, o Brasil está perigosamente próximo de um colapso ambiental que comprometerá não apenas a biodiversidade, mas também a agricultura, a geração de energia e a qualidade de vida da população.
O papel das políticas públicas
Os especialistas reforçam que, para mitigar o aumento dos incêndios, é essencial barrar o desmatamento e implementar políticas ambientais consistentes. Além disso, é urgente fortalecer o monitoramento e a fiscalização, ampliar a recuperação de áreas degradadas e investir em educação ambiental para evitar o uso do fogo como prática agrícola.
Como Daniel Silva pontua: “Conservar apenas um bioma não é suficiente. Precisamos de políticas integradas que protejam todos os ecossistemas brasileiros e enfrentem as raízes da crise climática.”
Um chamado à ação
Os registros de incêndios em 2024 são um alerta claro de que o Brasil precisa agir de forma decisiva para proteger seus biomas. O impacto desses eventos vai além das fronteiras nacionais, afetando o equilíbrio climático global. A conservação da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal não é apenas uma questão ambiental; é uma necessidade estratégica para a sobrevivência e a prosperidade do país.
Com os olhos do mundo voltados para o Brasil (COP 30 em Belém), é hora de assumir o papel de liderança na luta contra a crise climática, transformando dados alarmantes em ações concretas para garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Fontes : Inpe, Lasa-UFRJ, WWF-Brasil, Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática