A cerimônia de lançamento da Cátedra Clima e Sustentabilidade aconteceu na Sala do Conselho Universitário, no dia 18 de dezembro – Foto: Leonor Calasans | IEA-USP
Por – Oscar Lopes*, publisher de Neo Mondo
No momento em que a crise do clima se intensifica e exige respostas urgentes e regionais, a Universidade de São Paulo (USP) se consolida como um centro de referência mundial na busca de soluções sustentáveis ao lançar a nova Cátedra de Clima & Sustentabilidade, vinculada ao Instituto de Estudos Avançados (IEA). O lançamento, realizado na Sala do Conselho Universitário nesta quarta-feira, dia 18 de dezembro, marcou também a posse do primeiro titular da Cátedra, o renomado climatologista brasileiro Carlos Nobre , destacando a liderança da USP na agenda ambiental e o compromisso em alinhar pesquisa de ponta a ações práticas que orientam políticas públicas e inspiram as futuras gerações.
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A vice-reitora da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, destacou a relevância estratégica da iniciativa: “A USP, como a mais importante universidade ibero-americana, reafirma seu compromisso com a sustentabilidade, apresentando-se não apenas em prol do Brasil, mas como um interlocutor global, um protagonista capaz de contribuir para soluções que respondam aos desafios da emergência climática”. Neste sentido, a nova Cátedra, oitava criada pelo IEA, será um polo de pesquisa, ensino, extensão e inovação, cujo foco recai sobre os complexos impactos sociais, econômicos, ambientais e culturais associados às mudanças climáticas.
Cátedra Clima & Sustentabilidade: conhecimento aplicado à urgência do momento
A Cátedra Clima & Sustentabilidade nasce com a ambição de integrar o amplo conhecimento produzido pela USP e conectá-lo às demandas concretas da sociedade. Como explicou o coordenador titular da Cátedra e chefe do Gabinete do Reitor, Arlindo Philippi Junior, a iniciativa busca “canalizar os esforços da Universidade no avanço de propostas sobre a crise climática, contribuindo para a melhoria das condições de vida. A ideia é fomentar a pesquisa e a inovação com uma abordagem multidisciplinar, envolvendo estudantes, pesquisadores, setor público, empresas e comunidades, de forma a tornar o conhecimento produzido um motor de transformação social”.
O plano de ações para os próximos cinco anos inclui parcerias estratégicas com outras instituições de pesquisa, organizações não governamentais, agências de fomento e governos, promovendo a criação de soluções inovadoras e políticas públicas robustas. Cursos, workshops e atividades de extensão sobre clima e sustentabilidade também estão na agenda, a fim de construir uma base formativa sólida que capacite gestores, educadores, empreendedores e jovens cidadãos a entender e enfrentar os desafios climáticos.
A diretora do IEA, Roseli de Deus Lopes, ressaltou o caráter agregador da iniciativa: “essa cátedra é um catalisador de esforços e essa é a nossa essência. O IEA é um lugar especial da Universidade, onde podemos trabalhar juntos, de forma horizontal para criar soluções sistêmicas que atinjam benefícios coletivos. É também nossa responsabilidade formar estudantes de graduação e pós-graduação que compreendem a complexidade do desenvolvimento sustentável, criando um ambiente acadêmico capaz de transformar a ciência em ação e tecnologia útil à sociedade”.
A importância de Carlos Nobre: um cientista à altura do desafio global
A escolha de Carlos Nobre como primeiro titular da Cátedra Clima & Sustentabilidade é um reconhecimento de sua trajetória excepcional no campo da climatologia, ciência do sistema terrestre e políticas ambientais. Nobre é engenheiro eletrônico formado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), doutor em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e pós-doutor pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Ao longo de mais de quatro décadas de atuação, Nobre conquistou prestígio internacional ao contribuir significativamente para o entendimento das dinâmicas climáticas da Amazônia, do papel crítico das florestas tropicais no equilíbrio climático global e dos riscos trazidos pelo aquecimento planetário. Seu trabalho no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde liderou o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e o Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), foi fundamental para a produção de previsões climáticas regionais e globais. Além disso, exerceu funções estratégicas como presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O vice-diretor do IEA, Marcos Buckeridge, resumiu a relevância de Carlos Nobre ao chamá-lo de “um verdadeiro neopolímata, um homem capaz de integrar conhecimentos de engenharia, ecologia, meteorologia e ciências sociais para compreender a complexidade do planeta”. A vice-reitora Maria Arminda completou: “Ao aceitar essa posição, Nobre ratifica a grandeza da USP. Ele é um cientista público, um cidadão do mundo, dedicado a enfrentar as questões centrais do Brasil e da humanidade”.
Desafios futuros: cidades mais verdes e educação climática
Em seu discurso de posse, Carlos Nobre enfatizou a urgência em enfrentarmos uma emergência jamais vivida pela humanidade: a crise climática. Dois eixos principais devem orientar o trabalho da Cátedra: são a busca de soluções de reflosrestamento urbano e a criação de cursos voltados para o enfrentamento das emergências climáticas. “Vamos calcular, por meio de modelos matemáticos, os impactos de eventos extremos nas cidades da grande São Paulo como ondas de calor, enxurradas, secas prolongadas, incêndios na mata atlântica. A ideia é mostrar como uma grande restauração florestal – como aconteceu em Singapura – é capaz de reduzir os riscos”, revelou.
O segundo eixo abrange a criação de cursos e programas educacionais, desde a formação de gestores políticos até o treinamento de estudantes do Ensino Fundamental e Médio, capacitando-os a monitorar indicadores climáticos (chuva, temperatura, umidade) e adotar práticas sustentáveis cotidianas. Esta iniciativa educacional será desenvolvida em parceria com a Cemaden Educação e outras universidades, na esperança de formar uma geração consciente, engajada e preparada para lidar com as emergências climáticas.
A inauguração da Cátedra ocorreu logo após a conferência “Emergência climática: desafios e perspectivas para a humanidade”, promovida pela IEA, que reuniu pesquisadores de diversas áreas, incluindo especialistas como Paulo Saldiva, Carlos Cerri e Alexander Turra. Esses debates reforçam o papel da Cátedra em guiar a USP no caminho da transversalidade e da cooperação, impulsionando investigações científicas e transformando-as em instrumentos de políticas públicas e tecnologias verdes.
Com a Cátedra Clima & Sustentabilidade, a USP reafirma seu compromisso com o futuro do planeta, aproximando o rigor acadêmico das urgências sociais e ambientais. Liderada por um dos mais influentes climatologistas do mundo, essa iniciativa desponta como um farol na busca por um caminho mais justo, resiliente e sustentável para o Brasil e para toda a comunidade global.
*Texto com informações de Erika Yamamoto, do Jornal da USP.
Assista, na íntegra, o painel e a cerimônia de posse.