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POR – CAROLINA DA COSTA
O conceito de inovações criadoras de mercado, abordado no livro O Paradoxo da Prosperidade, de Clayton M. Christensen, Efosa Ojomo e Karen Dillon, oferece uma perspectiva transformadora sobre como a inovação pode combater a pobreza, explorando a complexa relação entre inovação, crescimento econômico e desenvolvimento social. O paradoxo está no fato de que, embora as estratégias convencionais de desenvolvimento foquem em melhorar infraestrutura, educação e governança antes do crescimento econômico, muitas nações na história prosperaram primeiro através da inovação de mercado, o que gerou riqueza e, posteriormente, permitiu as demais melhorias estruturais.
Diferente da inovação sustentada (para melhorar produtos e serviços existentes ) e da inovação eficiente (para reduzir custos e aumentar a eficiência de processos existentes), a Inovação Criadora de Mercado gera novos mercados e produtos, atendendo a necessidades que antes não eram atendidas ou eram inacessíveis. Elas identificam lacunas nos mercados e criam soluções acessíveis, desenhadas para a realidade local e, assim, criam novos mercados. Elas têm o poder de modificar o cotidiano das pessoas, gerando oportunidades de trabalho e abrindo portas para o empreendedorismo. Muitas vezes, essas inovações surgem a partir de necessidades locais específicas, utilizando a criatividade e os recursos disponíveis nas próprias comunidades, ampliando geração de renda e inclusão econômica.
Por exemplo, tecnologias e engenharias sociais voltadas à inclusão financeira têm mudado profundamente a dinâmica dos pequenos negócios, especialmente em áreas de baixa renda. As fintechs têm sido fundamentais nesse processo. O uso de pagamentos digitais facilitam a inclusão de milhões de brasileiros que antes estavam à margem do sistema financeiro, permitindo que realizem transações, poupem e invistam de maneira simples e segura. Por meio da tecnologia, essas plataformas também oferecem empréstimos para pequenos empresários e até soluções de investimento, tudo com menos burocracia e maior agilidade. O impacto disso é imenso. Muitos negócios em áreas periféricas ou distantes das grandes cidades que antes não teriam acesso a capital, devido à falta de garantias ou histórico de crédito, agora podem buscar recursos para crescer e criar novos postos de trabalho.
A gestão de crédito pelas fintechs, por exemplo, usa ferramentas de análise de dados e inteligência artificial para avaliar a capacidade de pagamento de pequenos empresários, tornando o crédito mais acessível e personalizado.
Há ainda muita oportunidade inexplorada para que o acesso a capital seja cada vez mais vantajoso para quem o acessa (há diversos estudos acadêmicos que mostram, por exemplo, que crédito na base da pirâmide ainda é mais vantojoso para quem empresta do que é para quem recebe). Inovações na criação e gestão de comunidades e modelos inovadores de incentivos individuais e coletivos podem trazem novas informações que aumentem a precisão no direcionamento do financiamento e/ou na redução de riscos (que culminem em taxas mais atrativas).
A inovação, quando aplicada de forma estratégica, não é apenas um motor de crescimento econômico, mas uma grande alavanca de redução da pobreza. Ao criar soluções que atendem às necessidades reais das comunidades, as inovações criadoras de mercado podem abrir novos caminhos para a inclusão social e financeira, transformando a realidade de milhares de brasileiros, oferecendo oportunidades para aqueles que, antes, estavam à margem do sistema econômico.
Vale destacar o papel fundamental dos empreendedores na promoção da inovação criadora de mercado. São eles que identificam oportunidades, desenvolvem novos produtos e serviços, e criam novos mercados. Também é fundamental investir na educação dessas pessoas para que se fortaleçam ao longo do processo de desenvolvimento, fortalecendo também suas comunidades. Um ecossistema favorável, que inclui instituições, infraestrutura e políticas públicas adequadas também é necessário.
Inovação criadora de mercado, que atende necessidades não atendidas, é o motor chave para o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. As frentes de impacto corporativo das empresas se tornam mais estratégicas aos negócios à medida que identificam e fomentam esse tipo de inovação que também é alavancadora de novas fontes de receita.
O futuro está, sem dúvida, nas mãos de quem ousa inovar. E para muitas comunidades no Brasil, essas inovações podem ser a chave para um futuro mais próspero e igualitário.
Chief Impact Officer da Stone Co, liderando as frentes de inclusão produtiva na base da pirâmide (microcrédito, blended finance com veículo filantrópico e educação financeira) e integração ESG financeira e institucional. Foi originadora e captadora de fundos para Maua Capital no tema sustentabilidade no agro. Presidente do Comitê ESG do Grupo Boticário. Prêmio profissional do ano em Inovação em Sustentabilidade pela ANEFAC (2021). Conselheira LATAM Solidaridad Network. Conselheira de Desenvolvimento da PUC Rio. Foi diretora de inovação, saúde digital, pesquisa e ensino do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, onde permanece como conselheira estratégica. Ex-VP de Graduação do Insper, atualmente Conselheira do Hub de Inovação e do Comitê de Ensino e Pesquisa e também professora de educação executiva nos temas pensamento crítico e sistêmico.
Administradora pública, M.S. pela EAESP-FGV e University of Texas at Austin, e PhD em Educação e Cognição pela Rutgers University.