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POR – PAULO ZANARDI JR.
Em novembro deste ano, a cidade de Belém sediará a tão aguardada COP30, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Para quem ainda não está familiarizado com o evento, a COP é a principal reunião global sobre mudanças climáticas, organizada no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
A conferência reúne líderes mundiais, governos, cientistas, empresas, ONGs e representantes da sociedade civil para discutir ações e acordos internacionais voltados à redução das emissões de gases de efeito estufa e ao combate ao aquecimento global. Entre os temas abordados, destacam-se o financiamento climático, o mercado de carbono e a biodiversidade.
Por que a COP30 é tão aguardada?
A COP é um evento anual de grande relevância para todos os stakeholders envolvidos. Seus resultados são fundamentais para a transição global rumo a uma economia de baixo carbono. As duas últimas edições foram realizadas em Dubai (2023) e Baku (2024), cidades de países cuja economia é fortemente baseada na indústria petrolífera e que possuem um viés mais autoritário.
Nessas conferências, houve críticas significativas relacionadas a conflitos de interesse com o setor de petróleo — a presidência da COP28, por exemplo, foi ocupada pelo CEO de uma grande empresa de óleo. Além disso, destacaram-se a falta de ambição climática, o compromisso insuficiente com a redução de combustíveis fósseis, restrições à liberdade de manifestação e a ausência de avanços concretos, especialmente na negociação de um fundo climático robusto.
Diante desse cenário, a expectativa para a COP30, sediada no coração da Amazônia, é enorme. O Brasil, um país democrático e megadiverso, possui uma agenda climática considerada robusta e se comprometeu a liderar as discussões climáticas globais. O governo brasileiro tem adotado uma postura ativa desde a confirmação da candidatura para sediar o evento e busca impulsionar debates essenciais, como a revisão das metas do Acordo de Paris, o financiamento climático e o avanço do mercado global de carbono. Segundo declarações do próprio governo, o país pretende usar seu papel de liderança para garantir resultados ambiciosos.
Os desafios logísticos da COP30
Além das questões políticas e ambientais, um dos maiores desafios da COP30 envolve sua organização. O governo federal, em parceria com os governos estadual e municipal, precisa garantir a infraestrutura necessária para um evento dessa magnitude.
Na COP28, realizada em Dubai, houve um recorde de participação, com mais de 80 mil credenciados. Para viabilizar a realização da conferência em Belém, foi criada a Secretaria Extraordinária para a COP30 (SECOP). Segundo dados do governo federal, já foram investidos quase R$ 5 bilhões em infraestrutura por meio do BNDES, da Itaipu e do Orçamento Geral da União.
Apesar desses investimentos, as preocupações com logística e hospedagem continuam crescendo. Atualmente, os hotéis da cidade já estão lotados, e os preços das diárias dispararam. Em aplicativos de locação, há ofertas com valores exorbitantes, e um hotel em Barcarena, cidade a 1h30 de carro de Belém, chegou a cobrar R$ 3.500 por diária, dez vezes mais do que o preço usual de R$ 350.
Diante desse cenário, surgiram iniciativas inovadoras para suprir a demanda. Um exemplo é a proposta de uma vila flutuante, na qual empresas financiariam a construção da estrutura para hospedagem dos participantes da COP. Após o evento, essa estrutura poderia ser destinada às comunidades ribeirinhas como legado.
No entanto, o lado negativo desse cenário é a desistência de várias instituições, tanto nacionais quanto internacionais, que temem a falta de infraestrutura básica, os altos custos e questões de segurança. A preocupação é que o porte reduzido da cidade limite a participação de especialistas e representantes fundamentais para o avanço da agenda climática global.
Uma COP para novos participantes?
O evento também tem atraído a atenção de muitas pessoas e instituições que nunca participaram de uma COP, mas querem marcar presença nessa grande vitrine global. Esse aumento no interesse gera um impacto positivo, estimulando empresas a compreenderem melhor seus impactos climáticos e a iniciarem suas jornadas de descarbonização.
Muitas companhias estão compensando suas emissões de gases de efeito estufa, mensurando a pegada de carbono de seus produtos e promovendo eventos “pré-COP” para destacar suas ações no mercado. Além disso, diversas empresas que já possuem uma agenda climática consolidada estão buscando projetos para financiar e apresentar na conferência, reforçando seu compromisso ambiental e garantindo espaço de fala no evento.
Temos veículos de imprensa de diferentes países enviando seus profissionais para residir no Brasil, desde o final do ano passado, para a estruturação de uma comunicação direta do local e organização de eventos, tanto na Green e Blue Zone. Muitos desses veículos, com o interesse de mostrar sua participação no evento e no tema, mas também já estruturando canais de comunicações sobre o país e especialmente sobre a Amazônia.
E depois da COP? O que acontece com a agenda climática?
A grande questão que não pode ser ignorada é: após a COP30, todas essas iniciativas serão mantidas?
A expectativa é que a conferência sirva como um alerta global sobre a urgência da crise climática, impulsionando ações concretas para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Para que isso aconteça, será essencial acelerar investimentos em adaptação climática, ampliar o engajamento de diferentes setores, fortalecer a transferência de tecnologia e desenvolver mecanismos financeiros eficazes que viabilizem essa transformação.
O desafio não está apenas em gerar engajamento durante o evento, mas em garantir que os compromissos assumidos se traduzam em ações concretas e contínuas. Empresas, governos e organizações precisam manter o foco na implementação de estratégias de descarbonização para evitar que a COP30 se torne apenas um palco de discursos, sem impactos reais no longo prazo.
O Brasil tem plenas condições de fazer da COP30 um evento de referência global. O país pode demonstrar sua liderança na transição para uma economia de baixo carbono, destacando sua matriz energética renovável, um agronegócio cada vez mais sustentável e sua riquíssima biodiversidade em seus biomas diversos.
Ao combinar esse patrimônio natural com conhecimento tradicional, avanços científicos e tecnológicos e o engajamento do seu povo, o Brasil tem a oportunidade de mostrar que a valorização da natureza pode caminhar lado a lado com o desenvolvimento econômico sustentável.
É um especialista na área de gestão climática e inovação no mercado de carbono. Graduado em engenharia civil, ele também possui pós-graduações em Ciências Políticas e Estratégicas, bem como em Mobilização Nacional pelo Ministério da Defesa no Brasil. Sua jornada no mercado internacional de créditos de carbono começou em 2005, trabalhando na CantorCO2e, uma empresa da Cantor Fitzgerald. Em 2008, ele fundou a GSS Carbon, onde, como CEO, lidera uma equipe dedicada que tem sido fundamental na implementação da gestão climática de empresas no Brasil e em mais de 14 países diferentes. Devido à sua vasta atuação e profundo conhecimento no desenvolvimento de projetos de créditos de carbono, tanto no mercado regulado quanto no voluntário, Paulo Zanardi foi convidado para lecionar na Pós-graduação de Projetos Sustentáveis da Universidade Federal do Paraná. Além disso, ele também atuou como consultor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, solidificando ainda mais sua posição como um especialista de referência no cenário global. Movido por sua incessante busca por inovação, Paulo fundou duas startups notáveis: a Repenso (www.repenso.eco), um movimento que visa a democratização climática, e a VBIO (www.vbio.eco), uma plataforma voltada para a Biodiversidade Brasileira. Essas iniciativas demonstram seu comprometimento em enfrentar os desafios ambientais atuais e criar soluções sustentáveis para o futuro.