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POR – CAROLINA DA COSTA
Na minha coluna anterior sobre inovações criadoras de mercado, destaquei as oportunidades para promoção de maior inclusão financeira. O microcrédito é uma dessas oportunidades, pois permite que pequenos empreendedores e indivíduos em situação de vulnerabilidade tenham acesso a capital para investir em seus negócios e melhorar sua qualidade de vida.
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A discussão sobre como apoiar de forma efetiva os microempreendedores de baixa renda está longe de ser simples. À medida que descemos a pirâmide socioeconômica, nos deparamos com desafios cada vez mais complexos que não se resolvem apenas com a oferta de capital. É isso que revela um conjunto sólido de estudos acadêmicos recentes sobre o tema e que serve de base para uma reflexão profunda sobre nossos atuais projetos de apoio ao empreendedorismo. Esses estudos utilizam métodos rigorosos de controle e estudo de causalidade com amostras extensas (ex. análise bayesiana hierárquica) para averiguar o impacto do microcrédito na vida do empreendedor.
O microcrédito, por si só, tem efeitos limitados na redução da pobreza e no aumento da renda. Embora não cause prejuízos, seu impacto é modesto e extremamente variável — enquanto para alguns significa uma mudança de vida, para outros pouco altera a realidade (Meager, 2019; Banerjee, Karlan e Zinman, 2015). O perfil do empreendedor, como a experiência prévia em negócios, faz enorme diferença, reforçando a necessidade de personalização nos programas (Meager, 2019).
As pesquisas também revelam que muitos potenciais beneficiários não aderem a essas iniciativas, o que sugere a urgência de repensar prazos, taxas e formas de acesso ao crédito, tornando-o mais atrativo e viável (Banerjee, Karlan e Zinman, 2015). Mais do que crédito, o que se mostra realmente efetivo são programas multifacetados, que combinam capital, capacitação, apoio financeiro direcionado à aquisição de ativos de produção, além de acompanhamento (Banerjee et al., 2015).
Há também lições importantes sobre inovação: tecnologias como o dinheiro móvel permitem ampliar o acesso a serviços financeiros básicos a baixo custo, assim como serviços financeiros mais específicos, como microsseguros, que ajudam as famílias em situação de vulnerabilidade a se protegerem de riscos cotidianos. Outras ideias, como contas de poupança com depósitos flexíveis e instrumentos que ajudam as pessoas a “travarem” suas economias para evitarem gastos impulsivos, mostram o potencial de soluções criativas na inclusão financeira.
Por fim, o foco dos programas deve mudar: é preciso promover a estabilidade financeira desses empreendedores mais do que mirar em expansão. Isso significa oferecer treinamento, mentoria e ferramentas que ajudem na gestão do risco, integrando crédito, poupança e seguro em soluções flexíveis e adaptadas a cada realidade. Aqui o papel das microfinanças é fundamental. Diante desse cenário, a lição é clara: apoiar o microempreendedor de baixa renda exige muito mais do que capital. Exige um olhar atento, empático e baseado em evidências, que respeite a complexidade e a diversidade das trajetórias de quem busca, no empreendedorismo, uma saída para a vulnerabilidade.
Chief Impact Officer da Stone Co, liderando as frentes de inclusão produtiva na base da pirâmide (microcrédito, blended finance com veículo filantrópico e educação financeira) e integração ESG financeira e institucional. Foi originadora e captadora de fundos para Maua Capital no tema sustentabilidade no agro. Presidente do Comitê ESG do Grupo Boticário. Prêmio profissional do ano em Inovação em Sustentabilidade pela ANEFAC (2021). Conselheira LATAM Solidaridad Network. Conselheira de Desenvolvimento da PUC Rio. Foi diretora de inovação, saúde digital, pesquisa e ensino do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, onde permanece como conselheira estratégica. Ex-VP de Graduação do Insper, atualmente Conselheira do Hub de Inovação e do Comitê de Ensino e Pesquisa e também professora de educação executiva nos temas pensamento crítico e sistêmico.
Administradora pública, M.S. pela EAESP-FGV e University of Texas at Austin, e PhD em Educação e Cognição pela Rutgers University.