A jornalista Eleni Gritzapis e a convidada Carolina da Costa gravando para o greenTalks – Foto: Divulgação/Produtora Canta
Por – Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo
No mais recente episódio do greenTalks, recebemos Carolina da Costa, Chief Impact Officer da StoneCo, para um bate-papo sobre o papel da tecnologia na criação de novos mercados, com maior inclusão e melhor gestão de comunidades por meio de dados. Ela compartilha uma visão abrangente sobre empregabilidade, empreendedorismo e o papel da liderança corporativa no uso da tecnologia para gerar impacto positivo
Carolina é formada em Administração Pública, com mestrado pela Fundação Getulio Vargas e doutorado (Ph.D.) em Cognição pela Rutgers University, nos Estados Unidos. É também conselheira de empresas e professora.
Leia também: greenTalks entrevista o cientista Carlos Nobre, referência mundial em estudos sobre mudanças climáticas
Leia também: greenTalks entrevista Fabio Alperowitch, fundador e CIO da fama re.capital
Confira os principais trechos da entrevista e não deixe de assisti-la na íntegra abaixo, ou no canal de NEO MONDO ou da Green4T no YouTube.
O greenTalks é uma iniciativa pioneira entre a Green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável.
Carolina, você tem uma trajetória acadêmica e profissional diversa, com formações em administração pública e cognição. Como essa jornada moldou sua visão sobre o impacto social e ambiental no mundo corporativo?
Se você olhar para todos os problemas de natureza complexa, e quiser, obviamente, gerar um impacto social e ambiental, precisa utilizar muitas ferramentas cognitivas para definir bem esses problemas. Eles são complexos por natureza, têm uma miríade de variáveis envolvidas. Minha formação me ajuda muito nisso. A experiência, a troca com pessoas… a gente nunca está sozinho. Ouvir os envolvidos é fundamental.
E aí, a formação em gestão traz as ferramentas para desenvolver a solução e implementá-la de forma efetiva, gerando resultados duradouros. É uma combinação entre boa definição do problema e ferramentas de execução.
Como você vê o papel da tecnologia na criação de mercados mais inclusivos? Quais aspectos tecnológicos são mais relevantes para garantir acesso a oportunidades econômicas?
Essa pergunta é muito interessante. Hoje se discute muito sobre o que a tecnologia pode gerar de bom ou ruim. Mas eu gostaria de dar um passo atrás e lembrar que há uma agenda social que afeta todos os negócios. Ferramentas como inteligência artificial, análise de dados, internet das coisas, automações… tudo isso gera impacto enorme no trabalho e na geração de emprego.
Isso afeta diretamente o mercado consumidor porque, macroeconomicamente falando, há uma pressão sobre a renda. A população está vivendo mais, precisando de renda por mais tempo, e o acesso ao emprego está mudando com a transformação digital.
Então, como a tecnologia pode melhorar a prosperidade e não reduzi-la? Como ela pode incluir, e não excluir? A tecnologia pode ajudar, por exemplo, a reduzir assimetrias de informação. Hoje é possível criar plataformas, melhorar o processo decisório e comercial. Isso gera dados, que voltam como insumo para novos serviços e mercados — mais inclusivos, idealmente.
Pensando em inclusão, quais são as principais barreiras para que tecnologias de ponta possam alcançar pequenos empreendedores e comunidades mais vulneráveis?
É um problema muito relevante. Hoje temos cerca de 14 milhões de MEIs no Brasil. Se somarmos à economia informal, isso chega perto de 30 milhões de pessoas. E a tendência é aumentar, já que a transformação tecnológica muda as relações de trabalho.
O microempreendedorismo é muito importante, mas empreender no Brasil é difícil. As principais dores são: acesso a capital, falta de tempo e dificuldade para se capacitar. Muitos empreendedores estão com a “barriga no balcão” o dia inteiro.
A tecnologia pode ajudar, mas tem que ser acessível. Se não for simples, integrada ao celular ou ao WhatsApp, não chega. E mais: precisamos pensar no papel das empresas como parceiras — não só como fornecedoras de tecnologia.
Quais são as principais oportunidades de se usar dados para apoiar decisões que beneficiem comunidades, especialmente em regiões com pouco acesso à tecnologia?
Dados bem utilizados ajudam a compreender territórios, desenhar soluções específicas, medir impacto. Mas, muitas vezes, a gente tem dados, mas não sabe o que fazer com eles, ou não há articulação entre os atores.
Por isso, é fundamental definir bem o problema. O dado só é útil se servir para gerar solução para quem está na ponta. E isso exige escuta ativa, envolvimento da comunidade e visão sistêmica.
Como a tecnologia pode ajudar a medir o impacto das práticas ESG e garantir que não sejam apenas iniciativas pontuais, mas mudanças duradouras?
A tecnologia permite acompanhar indicadores em tempo real, monitorar, ajustar estratégias. Com isso, as ações ESG deixam de ser pontuais e passam a ser parte da cultura organizacional. Mas isso exige lideranças comprometidas, dispostas a usar esses dados para guiar decisões estratégicas.
A inovação pode ser um motor para a longevidade nos negócios, mas muitas vezes é voltada para segmentos já consolidados. Que tipo de inovação tecnológica você acredita ser necessária para criar novos mercados que atendam às necessidades de populações tradicionalmente excluídas?
A inovação precisa partir do problema real. E deve ser cocriada. Muitos empreendedores estão fora do radar das grandes empresas. Precisamos de soluções desenhadas com eles, não para eles. Educação financeira, inclusão produtiva, empregabilidade jovem… tudo isso são campos férteis para inovação que gere impacto.
Como podemos desenvolver tecnologias e soluções financeiras que não só abram novos mercados, mas também ofereçam suporte para o desenvolvimento sustentável dessas comunidades?
Um exemplo é a regulação do Banco Central que exige ações de educação financeira. Por que cada empresa precisa criar sua própria solução? Por que não fazer junto com ONGs e parceiros?
Outro exemplo é a empregabilidade jovem. Toda empresa de certo porte precisa cumprir cotas de jovens aprendizes. Por que não unir esforços em plataformas coletivas, que ajudem na formação e capacitação dessas novas gerações?
Se meu cliente prospera, meu fornecedor prospera — eu prospero. É uma lógica de ecossistema.
Olhando para o futuro, quais inovações tecnológicas você acredita que serão fundamentais para criar um mundo mais inclusivo e sustentável? Que mensagem deixaria para empreendedores e líderes de impacto social?
O mais importante é se apaixonar pelo problema, não pela solução. E entender que ninguém resolve nada sozinho. Soluções sustentáveis nascem da escuta, da colaboração e do compromisso com uma visão de futuro inclusiva. A tecnologia é ferramenta — mas quem transforma de verdade são as pessoas.