L’Oréal Luxo e o MOVER desafiam o mercado a ir além do marketing da diversidade. – Foto: Divulgação
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Inspirado na luta por equidade racial, o novo código propõe medidas antirracistas para transformar práticas no mercado de luxo — da abordagem no atendimento à representatividade nas prateleiras
Em um tempo em que o mercado é convocado a rever seus próprios alicerces éticos, a L’Oréal Luxo, uma das divisões de negócio do Grupo L’Oréal no Brasil, e o MOVER (Movimento pela Equidade Racial) protagonizam uma iniciativa histórica: o Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro.
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Longe de ser apenas um gesto simbólico, o Código se ergue como uma ferramenta concreta de transformação — uma cartografia ética que propõe outro modo de se estar e consumir nos espaços comerciais. Seu objetivo é ousado: redesenhar as experiências de compra da população negra, sobretudo no universo do luxo, a partir de um olhar afrocentrado, propositivo e reparador.
Inspirado na estrutura do Código de Defesa do Consumidor, o documento traz dez propostas de autorregulamentação que confrontam práticas racistas ainda naturalizadas no varejo — da vigilância seletiva à ausência de representatividade nas prateleiras, passando pela exclusão silenciosa nos atendimentos.
A ética do consumo antirracista como prática empresarial
O Código nasce como resposta aos dados de uma pesquisa realizada pela própria L’Oréal Luxo em 2024, que identificou 21 manifestações de racismo na jornada de consumo de clientes negros em lojas de beleza de alto padrão. Diante dessa realidade inaceitável, a empresa decidiu agir com intencionalidade.
Desenvolvido em parceria com a Black Sisters in Law, rede de juristas negras que alia rigor técnico à experiência vivida do racismo cotidiano, o documento amplia os limites do marco legal tradicional. Onde a letra da lei é insuficiente, o mercado — por consciência ética — pode e deve avançar.
Entre as normas propostas, destacam-se:
- Capacitação antirracista contínua de equipes de atendimento;
- Prontidão no acolhimento de clientes negros, como gesto reparador frente a uma lógica histórica de invisibilização;
- Livre acesso e circulação, sem barreiras físicas ou simbólicas;
- Regras claras para abordagens de segurança, que rompam com a prática discriminatória dos estereótipos;
- Oferta ampla de produtos adequados a peles negras e cabelos crespos.
Trata-se de um código que não busca apenas punir desvios, mas ressignificar relações. Um protocolo de dignidade.
A arte como linguagem de reparação
A publicação ganha ainda mais força com as ilustrações do artista Mulambö, cujas obras misturam protesto, beleza e afirmação da experiência negra. Inspiradas em relatos reais de discriminação, suas imagens convocam à reflexão — mas também celebram a potência e a resiliência da identidade negra.
“A ideia que me guiou foi simples: nossos corpos, nossos desejos e nossas histórias não cabem mais nas violências cotidianas que nos impõem”, afirma o artista.
Um convite à transformação coletiva
Mais de mil exemplares do código serão distribuídos para líderes empresariais, ativistas, educadores, advogados, CEOs e formadores de opinião em todo o país. O objetivo é claro: mobilizar setores diversos da sociedade para uma mudança sistêmica.
A L’Oréal, por sua vez, já começou a aplicar os princípios do código: 250 atendentes de suas lojas de luxo foram capacitados com novos protocolos de atendimento, auditados por um sistema de Black Mystery Shopper, e a marca amplia continuamente seu portfólio para garantir representatividade real nas prateleiras.
“Não é preciso que as normas tenham força de lei para que se tornem realidade. O compromisso com a justiça começa com a vontade de agir”, afirma Bianca Ferreira, Head de Comunicação e Diversidade, Equidade e Inclusão da L’Oréal Luxo.
“O Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro reforça o compromisso do Grupo L’Oréal com a equidade racial, quebrando as barreiras da inclusão e promovendo uma transformação no mercado. Acreditamos no papel das empresas na solução dos desafios sociais e, por isso, estamos empenhados em promover mudanças também dentro de casa. Capacitamos nossas 250 Beauty Advisors da L’Oréal Luxo com novos protocolos de atendimento, auditados pelo Black Mistery Shopper. Além disso, em linha com as políticas de Diversidade do Grupo, estamos intencionalmente aumentando a representatividade de creators negros nas nossas campanhas e expandindo nosso portfólio para atender melhor a população negra. Este código é um convite para que outras empresas embarquem nessa jornada de transformação, assumindo o papel de protagonistas da mudança”, afirma Eduardo Paiva, Diretor de Diversidade, Equidade e Inclusão do Grupo L’Oréal no Brasil.
Para Natália Paiva, diretora-executiva do MOVER, o lançamento do Código representa “um ponto de virada”. “Não se trata apenas de corrigir falhas. É sobre criar experiências de consumo marcadas por respeito, empatia e igualdade.”
Um gesto político em nome da beleza com propósito
Ao lançar esse Código, a L’Oréal Luxo e o MOVER desafiam o mercado a ir além do marketing da diversidade e entrar no território da transformação estrutural. Trata-se de um chamado para que o consumo — mesmo o mais aspiracional — seja também um campo de cidadania, reconhecimento e inclusão.
Neste gesto, o luxo deixa de ser um território de exclusão e se torna um espaço de futuro.
O tempo da neutralidade acabou. Agora, é tempo de ação.