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POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Em passo ousado rumo ao futuro, mineradora antecipa-se à regulação da CVM e adota padrões internacionais de sustentabilidade financeira, marcando um ponto de inflexão na relação entre clima e capital
“Quem chega primeiro não apenas abre caminhos — também define a paisagem.”
Ao se tornar a primeira empresa listada na bolsa brasileira a publicar um relatório de sustentabilidade com dados financeiros sob os novos padrões do International Sustainability Standards Board (ISSB), a Vale assume a dianteira em um movimento que redefine o papel das grandes corporações na luta contra as mudanças climáticas.
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A publicação, ainda voluntária, antecipa a obrigatoriedade da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que passa a valer em 2027 para todas as companhias abertas no Brasil, com base nos dados de 2026. Mais do que um gesto técnico, trata-se de um marco simbólico e estratégico: a sustentabilidade, enfim, entra no coração das finanças corporativas.
IFRS S1 e S2: o novo idioma da confiança global
As normas IFRS S1 e S2, lançadas em 2023 pelo ISSB, são uma resposta à urgência climática traduzida em contabilidade. Elas exigem das empresas não só a transparência sobre riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade, mas também a capacidade de comunicar esses fatores com precisão financeira, comparabilidade e credibilidade internacional.
Ao adotar esses padrões, a Vale transforma a complexidade ambiental em disciplina estratégica e vantagem competitiva. Mais do que cumprir regras, a empresa sinaliza que está disposta a se medir pelas métricas do futuro.
Riscos expostos: carbono, reputação e ativos vulneráveis
O relatório da Vale não suaviza a realidade: os riscos são robustos e estruturais.
Entre os mais críticos, estão:
- A crescente exposição à precificação do carbono em mercados como União Europeia, China e Canadá — que pode elevar drasticamente os custos operacionais;
- O desafio monumental de descarbonizar a cadeia siderúrgica, que representa cerca de 8% das emissões globais;
- O risco reputacional e financeiro de não cumprir as metas climáticas voluntárias até 2030, especialmente nos Escopos 1 e 2;
- A pressão sobre as emissões do Escopo 3, com potencial para litígios climáticos e queda em ratings ESG.
Mesmo temas sensíveis como rompimento de barragens ( Informações sobre Segurança de Barragens da Vale) são mencionados, ainda que de forma indireta, com encaminhamento a relatórios específicos.
Inovação como ponte entre risco e oportunidade
Mas o relatório vai além do diagnóstico: ele aponta caminhos e propõe soluções. Entre as principais apostas da companhia, estão:
- Os briquetes de minério de ferro, solução de menor emissão de carbono e parte de uma estratégia de economia circular;
- A implantação dos chamados Mega Hubs, complexos industriais integrados e descarbonizados, fruto de parcerias com grupos como o chinês Jinnan Iron & Steel e o consórcio Green Energy Park;
- A estimativa de que um pequeno aumento no valor desses produtos sustentáveis poderia gerar impacto direto no EBITDA da companhia, evidenciando que responsabilidade e rentabilidade podem — e devem — andar juntas.
A força simbólica de quem lidera
Ao publicar esse relatório com dois anos de antecedência, a Vale não apenas demonstra responsabilidade: ela redefine os padrões da indústria e influencia diretamente o comportamento de mercado, governos e sociedade civil.
Essa postura é especialmente simbólica em um ano em que o Brasil se prepara para sediar a COP30, em Belém. Ao adotar práticas alinhadas com os compromissos do Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a empresa reforça a tese de que é possível conciliar ambição climática com viabilidade econômica — desde que haja planejamento, transparência e inovação.
Quando a sustentabilidade deixa de ser narrativa e vira critério
O relatório da Vale é mais que uma prestação de contas: é um ato de reconhecimento público de que o tempo da superficialidade ESG acabou. O futuro será das empresas capazes de integrar, com profundidade e método, sustentabilidade às suas decisões estratégicas.
E, nesse cenário, quem chega primeiro não apenas cumpre norma — ajuda a reescrevê-la.