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A importância da Central do Cerrado

Escrito por Neo Mondo | 3 de março de 2023

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POR - REDAÇÃO NEO MONDO

Apoio do WWF-Brasil ajuda rede de organizações que comercializam frutos do bioma a crescer de 30% a 35% ao ano

Fundada em 2004, com apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), e formalizada em 2010, como uma cooperativa de segundo grau - isto é, composta por pessoas jurídicas -, a Central do Cerrado abrange cerca de 30 empreendimentos comunitários, entre associações e cooperativas agroextrativistas, que se uniram para produzir e comercializar seus produtos coletivamente em vários estados brasileiros e exportar para outros países. "Funcionamos como um centro de distribuição, fazemos um trabalho de prospecção de mercado e comercialização", afirma o  secretário executivo da rede, Luís Carrazza.

Quando a Central do Cerrado faz a ponte entre um empreendimento comunitário e um parceiro comercial, é preciso adaptar a produção à demanda. "Às vezes, encontramos um parceiro comercial que não quer uma embalagem pequena do produto, mas um saco grande, por exemplo. Trabalhamos, então, com os empreendimentos comunitários não só para estabelecer a estratégia de comercialização, mas também para assessorar o desenvolvimento do produto conforme a demanda", explica Carrazza.

De acordo com ele, o WWF-Brasil começou a estreitar os laços com a Central a partir de uma ação em comum feita no Mosaico de Áreas Protegidas Sertão Veredas Peruaçu, entre as regiões Norte e Noroeste de Minas Gerais, Nordeste de Goiás e parte do Sudoeste da Bahia. "De 2018 em diante, o WWF-Brasil também passou a apoiar formalmente a Central por meio de um contrato de parceria", diz.

Com a regularidade do apoio, a Central do Cerrado passou a aumentar seus negócios, que envolvem, direta ou indiretamente, a comercialização dos produtos de quase 40 empreendimentos. "Esse apoio do WWF-Brasil tem sido de suma importância porque temos conseguido avançar nos termos de cooperação. E os recursos complementam nossas necessidades em infraestrutura, pessoal e capital de giro, que não é possível custear somente com as sobras da comercialização dos produtos. Com isso, temos agora uma curva de crescimento de 30% a 35% ao ano", comemora.

Natureza nas prateleiras

Um dos frutos da parceria com o WWF-Brasil, segundo Carrazza, é o relacionamento da Central do Cerrado com uma grande rede de supermercados.  "O baru e vários outros produtos das cooperativas e associações, como farinhas, doces, óleos, licores, castanhas e amêndoas torradas, estão agora em nove lojas dessa rede no Distrito Federal, com gôndolas exclusivas da Central do Cerrado no lugar mais privilegiado  das unidades de Brasília. Em 2022, avançamos no diálogo para colocar o baru e outros produtos em todas as suas lojas, em nível nacional", afirma.

Em setembro deste ano, a Central do Cerrado, em parceria com o WWF-Brasil, Instituto Conexsus e Instituto Auá, levou um estande da Central da SocioBio, um coletivo de organizações para promoção dos negócios comunitários, ao Congresso de Nutrição Funcional em São Paulo. "Tivemos 19 empreendimentos expositores e o evento foi uma oportunidade de lançar a marca Central da SocioBio como estratégia coletiva de promoção e vendas de produtos de todos os biomas", recorda Carrazza.

No mesmo mês, a Central do Cerrado fechou a exportação de mais de cinco toneladas de baru torrado para uma empresa dos Estados Unidos. A produção está sendo desenvolvida pela Copabase, uma de suas filiadas, seguindo as orientações de boas práticas estabelecidas no Módulo Baru do Programa de Formação em Agroextrativismo, organizado por WWF-Brasil, Central do Cerrado, Universidade de Brasília e Núcleo do Pequi.

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"Todo processo de negociação comercial, desenvolvimento do padrão do produto, paletização e exportação foi feito pela Central do Cerrado. Essa remessa será entregue no primeiro semestre de 2023 e a empresa fez um adiantamento de capital de giro para podermos organizar o estoque pagando os extrativistas à vista", declara Carrazza.

Ele afirma que o suporte do WWF-Brasil também foi fundamental durante a pandemia para fortalecer a atuação da Central no ambiente digital. "Ampliamos nosso espaço também em dois marketplaces de amplo alcance, além do apoio para a reestruturação da nossa Loja virtual. Oferecemos ainda produtos agroecológicos para alunos que estavam estudando em casa, mas que dependiam da alimentação da escola. As vendas foram feitas para o Instituto Federal de Brasília via PNAE (Programa Nacional da Alimentação Escolar), que forneceu cerca de 600 toneladas de produtos agroecológicos vindos de 12 empreendimentos comunitários", diz.

Projeto Ceres

A Central do Cerrado é também fundamental para o Projeto Cerrado Resiliente (Ceres), implementado pelo WWF-Brasil, WWF-Holanda e WWF-Paraguai, em parceria com o ISPN. De acordo com Ana Carolina Crisostomo, especialista em conservação do WWF-Brasil e facilitadora do Ceres, o projeto recebe recursos da União Europeia para apoiar iniciativas relacionadas à agricultura de baixas emissões de gases de efeito estufa e a conservação do Cerrado por meio do investimento em cadeias da sociobiodiversidade e da melhoria da gestão de unidades de conservação. Também apoia ações de incidência política para a proteção do Cerrado e seus povos, como a defesa dos direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais.

"Dentro do objetivo voltado às cadeias da sociobiodiversidade no Cerrado, o projeto inclui ações de fortalecimento das organizações comunitárias extrativistas por meio de capacitações, como o Programa CAP Gestão Cerrado, com apoio focado na melhoria da gestão de negócios comunitários e acesso a mercado, além de apoiar diretamente o trabalho das organizações de base. Buscamos também fazer as conexões com mercados dispostos a trabalhar preços e condições justos com os produtores”, diz Ana Carolina. Esse trabalho teve início em julho de 2020 e prosseguirá até junho de 2024.

O Projeto Ceres, de acordo com ela, foca principalmente em cinco cadeias produtivas: baru, babaçu, capim dourado, buriti e mel de abelhas nativas. "Além do apoio a uma agricultura que adote práticas sustentáveis, temos um eixo do projeto voltado para a conservação - tanto por meio de áreas protegidas como pelo extrativismo vegetal sustentável. O apoio às cadeias acontece nesse eixo, cuja lógica é fazer o Cerrado valer mais em pé do que desmatado", explica.

À medida em que os moradores conseguem obter renda a partir da biodiversidade do Cerrado, as comunidades se tornam mais fortalecidas para lidar com o impacto da expansão da fronteira agrícola que gera desmatamento, uma vez que a própria população é a principal guardiã do bioma. As associações locais e cooperativas, por sua vez, são a expressão institucional dessa mentalidade que estimula a conservação e ao mesmo tempo gera renda para povos e comunidades tradicionais.

"É fundamental fortalecer as organizações, mas também temos sempre a preocupação de acoplar o componente de acesso ao mercado, que capitaliza os produtores e dá viabilidade aos negócios. Neste sentido, a função da Central do Cerrado é importantíssima. Eles são um dos principais parceiros na comercialização de produtos de todo o bioma", reforça Ana Carolina.

Na cadeia do baru, por exemplo, além da Central do Cerrado, o Projeto Ceres atua com cooperativas e associações como o Ceppec (Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação). "O Ceppec, que envolve 164 famílias de dez comunidades, conseguiu  entregar para a Central do Cerrado  na safra de 2022, de julho a outubro, quatro toneladas de castanha, que representam cerca de 100 toneladas de frutos coletados e processados”, pontua Ana Carolina.

Também na cadeia do baru, o projeto montou, em parceria com a Conexsus, o Grupo de Trabalho do Baru (GT Baru), que reúne diversos atores envolvidos nessa cadeia extrativista - incluindo  organizações comunitárias, universidades, ongs e empresas. "O GT Baru já realizou seis oficinas,  envolvendo 284 participantes", contabiliza Ana Carolina.

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