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Maceió está afundando – e a Braskem precisa ser punida

Escrito por Neo Mondo | 6 de dezembro de 2023

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Vista aérea do terreno afundado no bairro Mutange, em Maceió, Alagoas. — Foto: Robson Barbosa / AFP

POR - GREENPEACE BRASIL / NEO MONDO

A extração de sal-gema destruiu cinco bairros, desocupou mais de 14 mil imóveis e expulsou mais de 55 mil pessoas de suas casas

O possível desabamento da mina da Braskem em Maceió (AL) mostra, mais uma vez, o que acontece quando os interesses das grandes empresas são colocados à frente do bem-estar da sociedade. A mineração de sal-gema da Braskem destruiu bairros inteiros da capital alagoana, e por mais que as pessoas tenham sido evacuadas agora, esta não é uma situação nova. Há 4 anos, bairros periféricos da capital de Alagoas viraram bairros fantasmas, vazios, pois as casas e suas estruturas começaram a ruir.

As autoridades brasileiras, novamente, falham em proteger a população de interesses que visam apenas o lucro rápido e fácil e que veem a natureza como recurso econômico a ser explorado – mesmo que isso custe vidas, prejudique os recursos naturais e provoque problemas de toda ordem. Os crimes cometidos pelas grandes empresas seguem acontecendo, enquanto direitos são violados, ações de reparação são insuficientes e o meio ambiente segue sendo explorado de maneira criminosa.

No caso de Maceió, a extração de sal-gema feita pela Braskem destruiu cinco bairros, desocupou mais de 14 mil imóveis e expulsou mais de 55 mil pessoas de suas casas.  

Essa é a mesma lógica da mineração em larga escala que, nos últimos anos, provocou tragédias em Mariana (MG) em 2015 – quando uma barragem da Samarco despejou uma avalanche de rejeitos no Rio Doce – e em Brumadinho (MG) em 2019, quando o rompimento de uma barragem espalhou resíduos de minério na bacia do rio Paraopeba e provocou, em poucos minutos, a morte de 272 pessoas soterradas por lama e rejeitos.  

Não estamos falando de um problema novo. Cientistas alertam para o risco de uma tragédia há mais de uma década, e as primeiras rachaduras e tremores de terra nos bairros de Maceió começaram em 2018.  Estudos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) já deixaram claro a causa do afundamento do solo: a maneira inadequada pela qual o sal-gema era retirado pela Braskem. A irregularidade durou décadas antes de desestabilizar as galerias subterrâneas que ficam sob a cidade e obrigarem milhares de pessoas a sair de suas casas de maneira abrupta e involuntária.

Importante lembrar também que, assim como os eventos climáticos extremos, este tipo de crime atinge desproporcionalmente populações historicamente vulnerabilizadas, como pessoas negras, periféricas, populações tradicionais e empobrecidas, agravando de maneira seríssima desigualdades sociais que já existem no país.   

É preciso maior efetividade no planejamento e monitoramento de atividades de alto impacto ambiental e social, como a mineração. Os governos – municipais, estaduais e federal – devem assumir seu papel e responsabilidade. Os processos de licenciamento e fiscalização ambiental precisam ter excelência técnica e serem respeitados.

Não é possível que, ano após ano, a população brasileira seja vítima de fiscalização ineficiente, práticas extrativas atrasadas e perigosas, poderes públicos omissos e interesses que coloquem em risco a vida das pessoas, a história e memória dos lugares e a biodiversidade desses locais. Além disso, o empreendimento de recursos públicos para evitar ainda mais danos é gigantesco. Os governos esperam as tragédias acontecerem para decretar estado de calamidade, dispensar licitações e só assim tomar alguma providência.

O Greenpeace se solidariza com as pessoas atingidas por esse crime socioambiental cometido pela Braskem – e se soma à população na exigência pela responsabilização da empresa e reparação às mais de 50 mil pessoas expulsas de suas casas.

foto mostra bairro fantas ma em maceió por conta da braskem, “Maceió afunda em lágrimas”, dizem os moradores que foram obrigados a deixar suas casas
“Maceió afunda em lágrimas”, dizem os moradores que foram obrigados a deixar suas casas - Foto: Divulgação

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