Biodiversidade Destaques

Rara aparição de ariranhas indica saúde ambiental em Belo Monte

Escrito por Neo Mondo | 25 de abril de 2025

Compartilhe:

Ariranhas no Reservatório Intermediário da Usina Hidrelétrica de Belo Monte - Foto: Helder Lana

POR - OSCAR LOPES*, PUBLISHER DE NEO MONDO

Filhotes de lontras-gigantes são flagrados no reservatório da Usina de Belo Monte e reacendem a esperança de coexistência entre natureza e desenvolvimento

No coração da Amazônia, onde o Rio Xingu corre com força ancestral e silêncio reverente, a natureza nos ofereceu um raro gesto de confiança: filhotes de ariranha emergindo de sua toca, brincando sob os olhos atentos dos pais, diante das câmeras escondidas no Reservatório Intermediário da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

https://youtu.be/r419LInNktI
Imagem: Divulgação/Norte Energia

Leia também: Primeira voadeira elétrica da região Amazônica faz viagem inaugural no Xingu

Leia também: Indígenas ampliam participação na produção de chocolate do Médio Xingu

Leia também: Estudantes indígenas e ribeirinhos de Altamira criam projeto inovador para a proteção das tartarugas do rio Xingu

Mais do que um registro técnico, é um sopro de esperança — uma evidência de que a vida selvagem, ainda que pressionada, resiste, floresce e encontra abrigo mesmo em territórios transformados pela ação humana.

A dança da vida nas águas do Xingu

As ariranhas, conhecidas também como lontras-gigantes, lobos-do-rio ou onças-d’água, são mamíferos aquáticos carismáticos e extremamente sensíveis à presença humana. O fato de terem sido flagradas com filhotes em uma área de acesso restrito, monitorada por câmeras camufladas, é mais do que raro: é revelador.

Desde 1999, a espécie está classificada como “vulnerável à extinção” pelo Ministério do Meio Ambiente. Seu toque macio, quase mítico, atraiu a cobiça do comércio de peles no século passado, e a destruição dos habitats onde vivem fez seu número despencar.

Mas ali, no reservatório artificial de 119 km², criado pela usina e cercado por vegetação protegida, elas retornaram. Com filhotes. E isso muda tudo.

“A presença de filhotes de ariranha na área de influência de Belo Monte indica que o ambiente está saudável, oferecendo condições reais para a reprodução de uma espécie sensível e vulnerável à extinção. É um indicativo claro de que as ações de conservação implementadas pela empresa estão dando resultado”, afirma Roberto Silva, gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia.

Monitoramento, ciência e compromisso

Desde 2012, como parte das condicionantes do licenciamento ambiental de Belo Monte, a Norte Energia conduz um projeto de monitoramento de mamíferos aquáticos e semiaquáticos no entorno da usina. São 13 anos de observação silenciosa, coleta de dados e cooperação com instituições científicas.

O projeto é considerado um case de sucesso, selecionado pelo Ibama para apresentação nacional em seminários ambientais. Até agora, já foram registradas 280 ariranhas em diferentes momentos, fases da vida e comportamentos.

Os dados não ficam em gavetas corporativas. São compartilhados com universidades, ONGs e órgãos públicos — alimentando conhecimento, embasando políticas de proteção e servindo como referência técnica para outras iniciativas ambientais no país.

foto de ariranhas na usina de belo monte
Ariranhas são carismáticas e sensíveis à presença humana - Foto: Helder Lana

Um papel vital no ecossistema

A ariranha é mais do que bela — é essencial. Predadora de topo da cadeia alimentar, ajuda a equilibrar populações de peixes e outros animais aquáticos. É também um dos mamíferos mais sociais da fauna sul-americana, vivendo em grupos coesos, onde todos cuidam dos filhotes — um exemplo de solidariedade ecológica.

Seu retorno a áreas de preservação dentro de um ambiente modificado, como o reservatório de Belo Monte, levanta uma pergunta incômoda, mas necessária: é possível conciliar grandes empreendimentos com a conservação da biodiversidade?

O flagrante das ariranhas sugere que sim — desde que haja planejamento, compromisso e responsabilidade ambiental contínua.

Quando a natureza responde com gratidão

Ver uma espécie ameaçada criar seus filhotes em segurança é testemunhar a natureza nos oferecendo uma segunda chance. Uma chance de fazer melhor, de proteger mais, de escutar os rios antes de tentar domá-los.

A aparição das ariranhas em Belo Monte nos ensina que a regeneração é possível — mesmo em cenários de conflito, mesmo em espaços de intervenção. Mas ela não acontece por acaso. É fruto de vigilância, cuidado, respeito e da construção de novas relações entre o ser humano e o planeta.

“Em tempos de emergência climática, quando o futuro parece cada vez mais incerto, histórias como essa nos lembram que a vida insiste — e que temos o dever de ser aliados dessa insistência”, reflete Marina Corrêa, bióloga e pesquisadora da fauna amazônica.

As águas do Xingu continuam contando suas histórias. Desta vez, com a voz de pequenos filhotes de ariranha que, em meio ao silêncio da floresta, sussurram uma verdade ancestral: a vida floresce onde há espaço para ela respirar.

Que saibamos ouvir.

*O jornalista viajou para Altamira (PA) a convite da Norte Energia.

Compartilhe:


Artigos anteriores:

Anta no Xingu: um sinal de esperança na floresta que resiste

Os desafios do desenvolvimento sustentável para a preservação da biodiversidade

Campanha aborda o papel das redes sociais no estímulo ao tráfico de animais silvestres


Artigos relacionados