Seja qual for o motivo para as jubartes se aproximarem do litoral norte de São Paulo, o fato é que elas já se tornaram uma atração turística de inverno na região, principalmente em Ilhabela e São Sebastião. As prefeituras já fazem campanhas publicitárias, avisando que “as baleias chegaram”, e organizam cursos de capacitação para pilotos de embarcações e operadores de turismo interessados em trabalhar com a observação de cetáceos.
Baleia jubarte encalhada no litoral de Coutos (um subúrbio de Salvador, BA), na Baía de Todos os Santos, 2018 - Foto: Eduardo Melo/Projeto Baleia Jubarte
Até agora não houve registro de acidentes, mas é preciso ficar atento — não só para a segurança das baleias, mas também das embarcações, já que uma jubarte adulta pode medir 15 metros e pesar 40 toneladas. A prefeitura de Ilhabela preparou um
vídeo com orientações, em parceria com o Probav. O Projeto Baleia Jubarte, que é patrocinado pela Petrobras, também possui um guia sobre observação de baleias disponível on-line para
download.
Desde que não se ofereça perigo a elas ou a seus filhotes, as jubartes são animais tipicamente dóceis e tranquilos. “Elas são muito curiosas; você para o barco e elas vêm para perto espiar”, conta Cardoso, um ex-executivo de grandes empresas que largou a vida corporativa para viver à beira-mar e se dedicar à observação de fauna marinha, sua grande paixão. Ele lançou o Probav em 2016, em parceria com sua companheira, a bióloga e fotógrafa de natureza Arlaine Francisco.
Aos 73 anos, Cardoso tem o que todo pesquisador profissional de cetáceos gostaria de ter: tempo e dinheiro para estar o tempo todo no mar, com um par de binóculos e câmera fotográfica no pescoço. Entre junho e outubro, a equipe do Probav faz cinco saídas de campo por semana, para monitorar uma área de até 40 quilômetros de distância da costa entre São Sebastião e Ubatuba. As observações são feitas seguindo metodologia científica e os registros são enviados para um repositório internacional de fotoidentificação de baleias, chamado
Happy Whale. “Sabemos muito menos do que achamos que sabemos sobre os cetáceos, e enquanto eu puder ajudar a descobrir mais coisas eu estarei no mar, mesmo com o custo dos combustíveis na alturas”, brinca o ex-executivo, que banca todo o trabalho do próprio bolso.
Aline, 40 anos mais nova, segue uma trajetória semelhante. Apaixonada por baleias desde criança, ela se tornou analista de sistemas por uma questão de oportunidade, mas nunca desistiu do sonho de trabalhar com mamíferos marinhos. “Assim que me estabilizei financeiramente fui fazer biologia”, conta. Antes mesmo de se graduar, em 2019, começou a trabalhar como estagiária no Probav. Bastou ver uma baleia na natureza pela primeira vez para se apaixonar de vez pelos bichos. “Naquele momento tive certeza, sou bióloga desde que nasci”, conta. Seu mestrado na USP será com as baleias de bryde, uma espécie residente do litoral paulista. Mas é certo que encontrará muitas jubartes pelo caminho.