O Silêncio das Ostras: ficção cravada na lama da realidade

Drama “O Silêncio das Ostras” aborda a realidade de quem vive à margem da mineração no Brasil - Foto: Cred Olhar Filmes

POR - OSCAR LOPES, PUBLISHER DO PORTAL NEO MONDO

Dor, perda e abandono em um país que insiste em calar suas tragédias

Estreia no dia 26 de junho um dos filmes mais impactantes do ano: O Silêncio das Ostras, primeira obra de ficção do premiado documentarista Marcos Pimentel, é um drama lírico e devastador sobre as vidas soterradas pela mineração no Brasil. Inspirado em fatos reais — como os rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho —, o longa mergulha nas entranhas de um país que, em nome do progresso, enterra suas próprias histórias.

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Com atuações densas de Bárbara Colen, Lavínia Castelari e Sinara Telles, o filme é ao mesmo tempo denúncia e elegia, construído em torno da trajetória de Kaylane, uma menina que cresce entre o pó da destruição e o silêncio das despedidas. Filha de uma mãe sonhadora e de um pai incapacitado pelo trabalho insalubre, Kaylane vive entre escombros físicos e emocionais — resistindo ao desaparecimento com sensibilidade, imaginação e uma dolorosa consciência de mundo.

A paisagem é árida, o tempo parece corroído, e o cotidiano daquela vila operária pulsa em compasso fúnebre. Os trabalhadores seguem adoecendo, os filhos herdam o destino dos pais, e o futuro... evapora. A mineração não só arranca da terra seus nutrientes, mas desidrata também os sonhos, a fé e o pertencimento.

“A mineração roubou-lhes não somente o solo, mas também a crença e a alma”, resume Pimentel.

Em meio a um cenário de poeira, lama e ruínas, o filme costura ficção e realidade com imagens reais das tragédias que marcaram Minas Gerais — cenas que continuam doendo, porque a dor nunca cessou. Ao completar 10 anos da tragédia do Fundão e 6 anos de Brumadinho, O Silêncio das Ostras é um lembrete incômodo de que nada foi reparado de verdade — apenas silenciado.

Kaylane caminha entre montanhas que já não existem, vilarejos fantasmas, homens esvaziados, sonhos estilhaçados. Sua infância, como tantas outras, se perde em meio aos rejeitos de um país que vende o amanhã em troca de lucros imediatos.

O Silêncio das Ostras não é só um filme. É testemunho, rito de memória, poesia em ruínas. É a recusa em aceitar o esquecimento. É o grito que ainda ecoa — mesmo quando tudo em volta insiste no silêncio.

📅 Estreia nacional: 26 de junho
🎬 Dirigido por: Marcos Pimentel

Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=OZIJZOdZ5Uk&ab_channel=Olhar