Destaques Diversidade e Inclusão
Escrito por Neo Mondo | 6 de maio de 2025
Imagem gerada por IA - Foto: Divulgação
POR - OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Em 2025, enquanto a humanidade corre contra o tempo para enfrentar colapsos climáticos, desigualdades históricas e disrupções tecnológicas, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) decidiu fazer história — olhando pelo espelho retrovisor. Em sua nova formação diretiva, são 130 homens. E três mulheres. Isso mesmo: três. Um número que não precisa de lupa, mas certamente exige explicações.
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É quase uma obra de arte do anacronismo. Uma performance institucional que nos transporta para os anos 1950, onde os paletós dominavam a cena e o poder era passado de mão em mão — sempre masculinas, quase sempre brancas.
O anúncio causou reações imediatas nas redes sociais, onde ironia e indignação se fundiram em comentários cortantes. “Fiesp inovando no retrocesso”, escreveu uma usuária no X. Outro completou: “A diversidade de nomes masculinos é realmente impressionante”. Entre um meme e outro, ressurgiu até a velha comparação com o levantamento do New York Times de 2015, onde havia mais CEOs chamados John do que mulheres em cargos de liderança. Parece que, por aqui, estamos substituindo os Johns por Josés — mas a lógica permanece intacta.
Num mundo em que a equidade de gênero virou critério de reputação, risco e inovação, a nova diretoria soa como um lembrete incômodo de que certas instituições ainda confundem estabilidade com imobilismo.
Não estamos falando de “cotas por vaidade” ou de “pressão ideológica”. Estamos falando de estratégia, resultados e sobrevivência. Diversidade não é favor: é inteligência corporativa. Segundo o Fórum Econômico Mundial e a McKinsey, empresas com lideranças diversas são mais lucrativas, mais criativas e mais preparadas para lidar com incertezas. Mas a Fiesp parece adotar outro modelo: o da excelência homogênea.
Talvez por isso, em meio a tantas discussões sobre ESG, equidade e inovação sustentável, o “S” de social continue sendo o patinho feio da governança empresarial brasileira — tolerado no discurso, evitado na prática.
Como justificar que, em uma federação que representa milhares de indústrias — onde mulheres lideram negócios, pesquisam tecnologias, empreendem, formam a maioria nas universidades — apenas três tenham chegado à mesa diretora?
A resposta, infelizmente, não está na falta de talentos femininos. Está no medo de abrir espaço. Está no apego à hierarquia verticalizada. Está na manutenção silenciosa de estruturas que resistem à renovação, como se liderar fosse um privilégio hereditário e não uma missão compartilhada.
O eco nas redes sociais vai além da crítica pontual: ele expressa um cansaço coletivo com estruturas que ignoram as transformações do presente. Há um tom sarcástico, mas também um lamento sincero. “E depois perguntam por que ninguém leva o ESG a sério”, escreveu um economista no LinkedIn. “Até os robôs de IA têm mais diversidade que essa diretoria”, zombou outro.
O público não está mais disposto a engolir diversidade cosmética. E quando a maior entidade industrial do país escancara seu descompromisso com a equidade de gênero, ela envia uma mensagem perigosa: de que o futuro pode esperar — desde que o passado esteja confortável.
A nova diretoria da Fiesp é, acima de tudo, um retrato falado do medo de mudar. Um medo disfarçado de tradição. Um poder que se recusa a abrir espaço — mesmo quando o mundo inteiro já abriu a porta.
Mas o tempo é impiedoso com estruturas estagnadas. O futuro é plural, feminino, interseccional e regenerativo. E nenhuma federação — por maior que seja — conseguirá prosperar isolada em seu clube masculino. A pergunta que fica é: quanto tempo ainda levará para que liderar a indústria brasileira signifique, de fato, liderar o Brasil do século XXI?
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