Imagem aérea de uma grande área queimada na cidade de Candeiras do Jamari, no Estado de Rondônia, em agosto de 2019 – Foto: © Victor Moriyama / Greenpeace
POR – GREENPEACE / NEO MONDO
A saúde das florestas, das quais nós e todas as outras espécies dependemos, está sendo destruída mais rapidamente do que nunca. E a nossa também
Quanto mais destruímos ecossistemas naturais, mais facilitamos o aparecimento de doenças, que podem se transformar em epidemias e pandemias e levar a perdas para toda a sociedade.
Estamos interferindo e destruindo cada vez mais as florestas do mundo. Estudos apontam que a taxa atual de extinção de espécies no cenário global vem caminhando numa velocidade mil vezes mais rápida do que se estivesse ocorrendo naturalmente, e isso se dá em grande parte devido à perda de habitat dessas espécies. A escolha pela degradação desses ambientes e da diversidade de vida guardada ali tem trazido graves consequências, não só para as questões ambientais, mas também para a saúde da humanidade.
Nos últimos 50 anos, houve um aumento de 400% no número de doenças infecciosas emergentes, que afetam humanos com patógenos (fungos, vírus ou bactérias), novos ou que já existiam antes, para os quais temos pouca ou nenhuma imunidade desenvolvida. A maior parte dessas doenças (75%) que têm aparecido e atingido um número grande de pessoas em diferentes lugares do mundo é de origem zoonótica, ou seja, transmitidas de animais para humanos. Várias dessas doenças zoonóticas já são conhecidas nossas, como malária, zika, dengue e febre amarela. Os coronavírus também são de origem zoonótica, porém a origem exata do novo vírus que causou a Covid-19 ainda está em estudo e, por enquanto, não há nenhuma ligação sugerida entre a proliferação da doença e o desmatamento.
Dentre todos, o maior vetor das doenças emergentes é a mudança do uso do solo, o que inclui em grande parte o desmatamento. Um estudo recente feito pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), defende que desde 1940, 31% do aparecimento e surto desse tipo de doença (emergente e zoonótica), do qual fazem parte Zika, Ebola e Nipah, estão conectadas com a mudança do uso do solo, principalmente nas florestas tropicais.
Foto – PublicDomainPictures por Pixabay
A transformação dessas paisagens tem feito com que entremos cada vez mais em contato com os seres que carregam patógenos, que são capazes de afetar a nossa saúde e nos causar doenças infecciosas. A partir do momento que as florestas são invadidas para servirem à exploração desenfreada de seus recursos, aumentam-se as possibilidades de contaminação.
A expectativa é que a continuidade do desmatamento, somada à alta densidade populacional e grande circulação das pessoas pelo mundo, potencialize um aumento cada vez maior de surtos de doenças infecciosas.
Um exemplo próximo de nós: a malária e o desmatamento da Amazônia
A perda de biodiversidade – em grande parte conectada ao desmatamento – também aumenta o risco de transmissão de doenças. Uma floresta com diversidade de espécies nos protege, pois um ambiente em equilíbrio cria um “buffer”, uma espécie de escudo que evita a proliferação de agentes causadores de doenças em humanos (por exemplo, os mosquitos). Ao interferir nas florestas, um desequilíbrio é criado e a capacidade da biodiversidade de proteger a saúde humana é reduzida.
No Brasil, pesquisadores fazem uma conexão direta entre o avanço do desmatamento e o aumento de incidência de malária em regiões desmatadas. Um estudo feito na Amazônia mostrou que o aumento da perda de floresta em 4% de áreas recém-desmatadas de um município provocou uma elevação de 50% dos casos de malária. Isso ocorre porque conforme a destruição avança sobre as áreas verdes, as clareiras abertas acabam sendo um ambiente ideal para a proliferação do mosquito transmissor da doença.
De agosto de 2018 a julho de 2019, a Amazônia perdeu quase 10 mil km² de floresta – a maior taxa de desmatamento da década. O que significa que o planeta também está perdendo biodiversidade, ou seja, reduzindo espécies de animais e plantas que vivem ali, e perdendo também a capacidade de nos proteger do desequilíbrio que essa destruição pode provocar.
Tudo isso nos mostra que é fundamental repensarmos a nossa relação, hoje muito predatória, com a natureza, e buscar soluções para lidar com a rápida perda da biodiversidade e manter as florestas conservadas e saudáveis.
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