No Brasil, os impactos das mudanças climáticas sobre os recifes começaram a se expressar de forma mais drástica nos últimos dez anos, em consonância com a tendência mundial de aumento na frequência, duração e intensidade dos eventos de branqueamento em massa. Ainda que os corais brasileiros pareçam ser naturalmente mais resistentes e resilientes do que os de outras regiões do planeta (resultando em taxas menores de mortalidade por branqueamento, pelo menos até agora), as previsões para as próximas décadas são tão preocupantes aqui quanto no resto do mundo.
Certos de que as mudanças climáticas e ambientais irão se agravar bastante, ainda, até o final deste século (mesmo que o teto de 2 ºC de aquecimento do Acordo de Paris seja respeitado), muitos cientistas estão empenhados em projetar como essas mudanças deverão afetar os recifes de coral brasileiros, na expectativa de que, com esse conhecimento em mãos, seja possível adotar estratégias mais efetivas de prevenção e mitigação desses impactos. “O aquecimento global está aí, acontecendo, e nós temos que ter uma estratégia de sobrevivência, tanto para nós mesmos quanto para as outras espécies”, ressalta ao
Jornal da USP o professor Tito Lotufo, do IO, especialista em biodiversidade e ecologia recifal.
Uma pesquisa conduzida em seu laboratório buscou modelar exatamente isso: como três espécies-chave de corais construtores de recifes no Brasil (
Mussismilia hispida,
Montastraea cavernosa e
Siderastrea sp.) deverão responder às mudanças climáticas que estão por vir até 2100, considerando três possíveis cenários de emissões (um bem otimista, um intermediário, e outro, bem pessimista). Os resultados mostram que todas elas sofrerão alterações significativas nas suas áreas suscetíveis de ocorrência, “independentemente do cenário”, segundo o biólogo Silas Principe, aluno de doutorado de Lotufo, no Laboratório de Biologia Recifal do IO-USP, e primeiro autor do
trabalho, recentemente publicado na revista
Frontiers in Marine Science. “A situação é muito crítica”, alerta ele.