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POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Desde 2023, a regulação europeia em vigor exige que as empresas não disponibilizem para os consumidores carne bovina ligada ao desmatamento
A Proteção Animal Mundial aponta no relatório “Desmatamento no prato” que a carne bovina produzida no Brasil em áreas desmatadas para essa finalidade é vendida pelos supermercados Albert Heijn (AH) e Makro, nos Países Baixos (Holanda). A ONG alerta que a prática contraria a regulação da União Europeia que, desde junho de 2023, não permite a venda de carne bovina que possa ter ligação com o desmatamento.
Somente em 2022, os Países Baixos importaram quase 17 mil toneladas de carne bovina brasileira. E no período de 1 de junho de 2022 a 31 de maio de 2023, o maior exportador para o país foi a JBS (45%) seguido pela Marfrig (30%) e Minerva (14%). O relatório aponta que o gado veio por meio de fornecedores diretos ou indiretos de terras nas quais houve desmatamento desde o final de 2020. A Proteção Animal Mundial lembra ainda que, em 2022, a JBS admitiu que comprou quase 9 mil cabeças de gado de um pecuarista identificado como um dos maiores desmatadores do Brasil.
A agropecuária no Brasil representa 74% das emissões de gases de efeito estufa no país, segundo um estudo recente do Observatório do Clima. Por isso, para Marina Lacôrte, gerente de sistemas alimentares na Proteção Animal Mundial, o relatório é mais um indício que o território brasileiro sofre as consequências para que o agronegócio lucre com a exportação.
“O Brasil é o maior exportador de carne bovina e sede de uma das maiores empresas do setor, a JBS. Infelizmente, o nosso país é visto como um grande celeiro mundial, abastecendo pratos no mundo inteiro, mas sem antes alimentar milhares de brasileiros em situação de insegurança alimentar. Tudo isso com o elevado custo do desmatamento e destruição de biomas importantes. É importante lembrar que embora o desmatamento na Amazônia Legal tenha caído pela metade em 2023, o Cerrado registrou um aumento de 43% no mesmo período”, alerta.
Outro ponto de destaque no relatório é que há carne à venda no mercado dos Países Baixos cujo país de origem não pode ser identificado pelo consumidor. Ainda assim, não se pode excluir a possibilidade de se tratar de carne proveniente de desmatamento.
A Makro aparece no relatório como a empresa de pior desempenho, por vender numerosos produtos de carne bovina provenientes de frigoríficos brasileiros que têm fornecedores que podem estar, diretamente ou indiretamente, envolvidos com o desmatamento. A ONG chama a atenção que a controladora do Makro, a alemã Metro AG, declara em sua política de aquisição de carne que a empresa está tomando medidas em relação à carne bovina para trabalhar em direção ao desmatamento zero.
Já a rede AH havia prometido não oferecer mais a carne-seca produzida pela JBS em parceria com americana Jack Link. Porém, a investigação da Proteção Animal Mundial mostra que o produto é ofertado amplamente pelos supermercados.
Para Julia Bakker, gerente de campanha de pecuária da Proteção Animal Mundial, o desmatamento no Cerrado é desastroso para os animais selvagens. “O habitat das onças, antas e macacos tem dado lugar ao gado cuja carne abastece os supermercados neerlandeses. Enquanto isso, os animais silvestres fogem, são vendidos ou morrem de fome ou em incêndios florestais”, alerta.
A Proteção Animal Mundial apela aos supermercados e atacadistas para que parem de vender carne bovina ligada ao desmatamento. A carne que permanece nas prateleiras deve pelo menos atender os parâmetros do Vida Melhor (Beter Leven Keurmerk), selo de qualidade da Sociedade de Proteção Animal dos Países Baixos.
Estudo de caso
Um dos casos de desmatamento apontado no relatório aconteceu no Centro-Oeste do Brasil. O proprietário das Fazendas Sucuri e Tangará, localizadas no município de Água Clara, no Mato Grosso do Sul, desmatou um total de 307 hectares de vegetação nativa em suas fazendas de gado entre janeiro e fevereiro de 2021.
A Fazenda Sucuri entregou 161 bovinos diretamente ao frigorífico Marfrig, em Bataguassa, no período de 26 de fevereiro a 23 de março de 2018 e mais 40 animais em 24 de maio de 2019.
A Fazenda Tangará entregou 70 bovinos ao frigorífico entre 26 de fevereiro de 2018 e 23 de março de 2018. Se essas fazendas ainda eram fornecedoras diretas da Marfrig em 2022 e 2023 (datas de abate dos produtos encontrados em uma das lojas da Makro nos Países Baixos) não foi possível confirmar, mas o ônus da prova é da Marfrig.
A investigação da Proteção Animal Mundial foi conduzida pela consultoria AidEnvironment.