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ARTIGO
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Por – Tricia Croasdell*, especial para Neo Mondo
Para enfrentar as mudanças climáticas, precisamos financiar uma transição para um sistema alimentar equitativo, humano e sustentável. Outra Conferência das Partes (COP) está chegando, o que representa outra chance para os líderes globais decidirem o futuro do planeta. Mas eles tomarão as medidas necessárias?
A COP acontece há três décadas e as reuniões têm como objetivo abordar a crise climática. No entanto, somente nos últimos anos a indústria de produção de alimentos começou a receber a atenção que exige. O tratamento adequado dos animais em nossos sistemas alimentares é fundamental para a sobrevivência ambiental e humana. Deixar de agir agora é deixar de proteger nosso futuro.
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Cresci em meio a fazendeiros na África do Sul e no Reino Unido e sei que meus avós não reconheceriam a produção industrial de alimentos como agricultura. As fazendas industriais substituíram práticas tradicionais e sustentáveis por crueldade e poluição inimagináveis. Estamos falando de bilhões de animais — galinhas, porcos e bois — amontoados em espaços tão pequenos que não conseguem se mover, submetidos a vidas desprovidas de comportamentos naturais. Bezerros recém-nascidos, leitões, cordeiros arrancados de suas mães. Animais criados em confinamento, tudo em nome da produção de alimentos baratos.
Além disso, os incêndios são provocados deliberadamente para limpar florestas, como visto na Amazônia para as plantações de soja cultivadas para alimentar esses animais nas fábricas.
Se os líderes mundiais realmente quiserem fazer algo para mudar nosso mundo para melhor e salvar nosso planeta dos estragos das mudanças climáticas, o caminho seria reconhecer, nesta edição da COP, que o tratamento adequado dos animais, particularmente em nosso sistema alimentar, é fundamental para a sobrevivência de nossa própria espécie.
Isso significa comer menos carne. Os meus avós viveram o racionamento e entenderam que “carne é um deleite”, e não algo para todas as refeições. Por isso, enchiam seus pratos com vegetais.
Em quase todos os países do mundo, independentemente da riqueza, a dieta tradicional sempre foi rica em plantas. No entanto, em algum lugar ao longo do caminho, aumentamos exponencialmente nosso consumo de animais com impactos devastadores para nós, nosso planeta e, mais importante, para os animais presos neste sistema.
Diariamente, 206 milhões de galinhas, 4 milhões de porcos e 846 mil vacas são abatidos, ou seja, mais de 77 bilhões por ano. Esses animais são criaturas pensantes, sensíveis e perceptivas, não muito diferentes daquele cachorro ou gato que você considera parte da família.
A Proteção Animal Mundial estima que 66% das emissões de gases de efeito estufa de bois, porcos e galinhas criados em fazendas industriais vêm de apenas 10 países – Estados Unidos, China, Brasil, Rússia, Canadá, Alemanha, Argentina, França, Espanha e México – todos com alto número de fazendas industriais.
No Brasil, vastas áreas da floresta amazônica e outros habitats preciosos da vida selvagem estão sendo desmatadas para o cultivo de soja, 80% da qual é usada como ração animal. Esse desmatamento não só prejudica os animais silvestres, mas também, libera o carbono armazenado nas árvores, o que reduz a capacidade da Terra de absorver emissões futuras.
As soluções estão ao nosso alcance. Mas temos líderes mundiais com coragem? A eliminação gradual da criação industrial não é apenas um argumento ético, mas também necessária para a justiça social, a saúde pública e a preservação do meio ambiente e do habitat. E, como mostram as evidências, a proteção animal é fundamental para alcançar um clima estável e um futuro sustentável. No entanto, o desafio está em como atender à demanda global por alimentos acessíveis, saudáveis e nutritivos, ao mesmo tempo em que abordamos as consequências catastróficas da agricultura animal industrial.
Pesquisas mostram que a transição para uma dieta diversificada e rica em vegetais pode reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em até 70% até 2050. Sistemas alimentares e agricultura estão na pauta das negociações climáticas, mas isso precisa se concentrar na pecuária industrial. Muitos líderes mundiais reconhecem a necessidade urgente de agir.
Como parte do Acordo de Paris, foram assinadas as Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, que descrevem as metas de cada país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa para atingir a meta global de limitar o aumento da temperatura bem abaixo de 2 °C, com esforços para limitá-lo a 1,5 °C. Mas há lentidão. No entanto, sem compromissos mais ousados, especialmente na transformação dos sistemas alimentares, corremos o risco de consequências catastróficas para as pessoas, os animais e o planeta.
Os líderes mundiais devem reconhecer que nosso mundo está interconectado e que o bem-estar animal e a ação ambiental são inseparáveis. E devem assumir o compromisso de interromper a expansão da pecuária industrial, ajudar a financiar um clima estável e um futuro seguro para todos.
Estarei em Baku com a equipe da Proteção Animal Mundial, defendendo essa transição justa para um sistema alimentar equitativo, humano e sustentável.
*Tricia Croasdell – CEO da Proteção Animal Mundial.