Cada hectare perdido colabora para o colapso da humanidade – Imagem gerada por IA – Foto: Divulgação
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Incêndios descontrolados, seca extrema e negligência política colocam o Brasil no topo de um ranking vergonhoso: o de maior destruição de florestas tropicais do mundo. A Terra, cada vez mais árida, assiste à sua própria decadência — em tempo real
“A floresta cai em silêncio. Mas o estrondo de sua ausência ecoará por gerações.”
Em 2024, o mundo cruzou uma fronteira perigosa. O planeta registrou a maior perda de florestas tropicais primárias em mais de duas décadas.
Segundo levantamento do Global Forest Watch e do World Resources Institute (WRI), 6,7 milhões de hectares de vegetação nativa foram destruídos — o equivalente a derrubar 18 campos de futebol por minuto durante o ano inteiro.
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No centro deste desmoronamento verde, um protagonista relutante: o Brasil, que sozinho respondeu por impressionantes 42% da destruição global.
Foi aqui, sob nossas fronteiras, que se consolidou o epicentro da devastação florestal planetária.
O país em chamas: incêndios superam a agricultura como vetor da perda
Pela primeira vez, o principal motor do desmatamento não foi o avanço da agricultura — mas os incêndios, exacerbados pela crise climática e pela omissão estatal.
A Amazônia, o Pantanal e partes da Mata Atlântica viraram cinzas diante de uma combinação explosiva: a pior seca em 70 anos, recordes históricos de temperatura e a fragilidade da fiscalização ambiental.
Só em 2024, o Brasil perdeu 4,44 milhões de hectares de floresta nativa e lançou na atmosfera cerca de 1,82 gigatoneladas de CO₂ — mais do que quatro vezes todas as emissões do setor aéreo global em 2023.
Quando as florestas desaparecem, o planeta adoece
“Estamos diante de um alerta vermelho planetário. Não se trata mais de prever o colapso — estamos vivendo nele.”
— Elizabeth Goldman, codiretora do Global Forest Watch
A destruição das florestas tropicais não é apenas uma tragédia local. É uma ruptura no sistema climático global.
Ao perdermos essas florestas, perdemos também nossos maiores aliados contra o aquecimento global. A cada árvore que cai, o planeta se torna menos capaz de capturar carbono, de manter o ciclo da água, de sustentar a biodiversidade.
É o início de um círculo vicioso infernal: o clima aquece, as florestas queimam, o carbono se acumula, o clima aquece ainda mais.
Promessas descumpridas, futuro em risco
Durante a COP26, em Glasgow, mais de 140 países — Brasil incluído — assinaram um compromisso solene: parar e reverter a perda florestal até 2030.
Três anos depois, o que temos é um rastro de cinzas e promessas esvaziadas.
Especialistas alertam que estamos nos aproximando de pontos de não retorno ecológicos, como o colapso da Amazônia, que pode se transformar em savana irreversível — uma transição silenciosa, mas catastrófica.
Belém, COP30 e a última chance
Com a realização da COP30 em Belém, o Brasil volta ao centro das discussões climáticas internacionais.
Mas se quiser ser reconhecido como potência ambiental, precisará primeiro deixar de ser a principal engrenagem da devastação florestal global.
Essa será, talvez, a última oportunidade de o país virar o jogo e liderar uma agenda séria, estruturada e corajosa de regeneração ecológica.
Os números de 2024 não são apenas estatísticas — são epitáfios verdes de um sistema em colapso.
Cada hectare perdido é uma sentença escrita no futuro da humanidade.
A floresta, quando cai, não grita. Mas seu silêncio sepulcral é o prenúncio de um mundo mais quente, mais seco, mais injusto.
Ainda é possível recuar. Mas a janela está se fechando — e o tempo da hesitação acabou.