A presidente da Ação Socioambiental (ASA) e Coordenadora Executiva do Projeto Guapiaçu, Gabriela Viana, fala sobre o Projeto Guapiaçu, que trabalha reflorestamento de áreas degradadas para restauração da Mata Atlântica, monitoramento de espécies e educação ambiental – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
Gabriela Viana, Presidente da Ação Socioambiental e Coordenadora Executiva do Projeto Guapiaçu, explica como o projeto está restaurando áreas degradadas, fomentando a biodiversidade e transformando vidas com apoio da Petrobras
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos e biodiversos do Brasil, abrigando o maior número de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção no país. Distribuído por 17 estados, cerca de 70% da população brasileira reside em áreas da Mata Atlântica. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 71,6% desse bioma foi desmatado, e quase 80% das áreas remanescentes estão em propriedades privadas, conforme a Fundação SOS Mata Atlântica. Nesse cenário, o Projeto Guapiaçu, com o apoio da Petrobras, desempenha um papel crucial na recuperação e preservação dessas áreas, promovendo a sustentabilidade ambiental e social. Conversamos com Gabriela Viana, presidente da Ação Socioambiental e Coordenadora Executiva do Projeto Guapiaçu, para entender melhor a importância desse trabalho e seus impactos na região de Cachoeiras de Macacu.
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Gabriela, muito obrigado por nos receber. Para começar, você poderia nos contar um pouco sobre o Projeto Guapiaçu e sua atuação na recuperação da Mata Atlântica?
Claro, é uma satisfação enorme recebê-los aqui. O Projeto Guapiaçu teve sua primeira fase iniciada entre julho de 2013 e janeiro de 2016, com o objetivo de restaurar 100 hectares de Mata Atlântica degradada. Nosso foco principal é trabalhar em parceria com proprietários rurais para reflorestar suas terras, promovendo a biodiversidade e melhorando a qualidade da água na região. O foco é criar corredores ecológicos que conectem áreas preservadas, como o Parque Estadual dos Três Picos, com áreas reflorestadas, permitindo que animais e plantas se estabeleçam e prosperem. Até agora, já plantamos mais de 500 mil mudas em 300 hectares, o que trouxe consideráveis benefícios ambientais e sociais para Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro.
Quais foram os principais desafios que vocês enfrentaram ao mobilizar proprietários para participar do projeto?
Convencer os proprietários rurais foi um grande desafio. Muitos tinham receio de perder terras produtivas. Nosso trabalho envolve muito diálogo, visitas, tomando cafezinho com os proprietários, mostrando os benefícios da restauração. Nos últimos seis anos, visitamos mais de 1.000 propriedades na região, apenas 200 nos receberam e 16 de fato aceitaram a parceria, o que demonstra como é difícil conquistar a confiança e mudar percepções. No entanto, quando um proprietário vê os resultados — água de melhor qualidade, sombra, aumento da biodiversidade — ele acaba inspirando outros a aderirem.
Como a parceria com a Petrobras tem sido importante para o desenvolvimento do Projeto Guapiaçu?
A Petrobras tem sido uma parceira fundamental, fornecendo recursos financeiros e logísticos que nos permitiram expandir significativamente nossas ações. Com o apoio deles, cobrimos os custos de reflorestamento, que variam entre R$ 60 mil a R$ 90 mil por hectare, sem que isso recai sobre os proprietários. Além disso, a Petrobras nos ajudou a estabelecer conexões com outras instituições e a fortalecer nossa rede de apoio, tornando o projeto mais robusto e eficaz.
Poderia nos detalhar os benefícios ambientais observados com o reflorestamento das propriedades?
Com o reflorestamento, conseguimos reduzir significativamente a erosão do solo e aumentar a retenção de água, melhorando a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos na região. As árvores plantadas também protegem o solo e produzem sombra, o que torna o ambiente mais agradável e contribui para a regulação térmica local. Além disso, a biodiversidade aumentou consideravelmente. A presença de polinizadores, como abelhas e pássaros, está em crescimento, e espécies como tamanduás tiveram retorno, o que indica que o ecossistema está se recuperando de forma saudável.
Como o projeto impacta a comunidade local em termos sociais e econômicos?
O impacto social e econômico é bastante positivo. Criamos empregos para coletores de sementes e produtores de mudas, além de oferecer tecnologia técnica para proprietários e suas famílias. Isso fortalece a economia local e promove um desenvolvimento mais sustentável. Em propriedades menores, como as de Bruno (PI Kombucha Tropical), mesmo um hectare replantado pode fazer a diferença, como por exemplo, restaurar uma fonte de água que estava seca. Além disso, promovemos a educação ambiental nas escolas públicas, sensibilizando as crianças sobre a importância da conservação ambiental e garantindo que o conhecimento seja transmitido para as futuras gerações.
Você dá ênfase e se preocupa com os corredores florestais. Poderia explicar como eles funcionam e sua relevância para a Mata Atlântica?
Os corredores florestais são essenciais para conectar fragmentos de floresta, permitindo que a fauna e a flora circulem livremente e mantenham a diversidade genética. Em Cachoeiras de Macacu, o Parque Estadual dos Três Picos é uma área crucial, responsável por dois terços das florestas e 60% das águas do parque. Ao reflorestar propriedades nas proximidades, criamos um corredor que une áreas de preservação e reflorestamento, facilitando o deslocamento dos animais e a dispersão das sementes. Isso fortalece o ecossistema e aumenta a resiliência da Mata Atlântica frente às mudanças climáticas.
Quais são os próximos passos do Projeto Guapiaçu?
Queremos ampliar nossa atuação para mais propriedades privadas e continuar criando corredores florestais. Nosso objetivo é restaurar mais 300 hectares nos próximos anos e aumentar a biodiversidade na região. Também estamos trabalhando na criação de um pomar de sementes para garantir a diversidade genética das espécies plantadas e em projetos de agroflorestas em assentamentos de reforma agrária, promovendo uma integração entre produção agrícola e conservação ambiental. Continuaremos a promover a educação ambiental e a sensibilização da comunidade para que a restauração da Mata Atlântica seja um esforço coletivo e sustentável.
Para finalizar, o que te motiva a continuar com esse trabalho?
Para mim, plantar uma árvore é um ato de generosidade. Plantei um jequitibá com as cinzas do meu avô (momento de comoção), e sei que não vou sentar à sua sombra, mas deixei esse legado para meus filhos e netos. Saber que estamos contribuindo para um futuro mais sustentável e para a preservação de um bioma tão importante me dá esperança. Apesar da crise climática, acredito que ainda dá tempo de salvar as florestas e, por consequência, a humanidade.
Gabriela, muito obrigado por compartilhar sua experiência e insights. O trabalho do Projeto Guapiaçu é inspirador. Desejamos muito sucesso nas próximas etapas.
Eu que agradeço. É fundamental termos esse espaço para conscientizar mais pessoas sobre a importância de cuidar da nossa casa comum, na Mata Atlântica.
O Projeto Guapiaçu, liderado por Gabriela Viana, demonstra como a colaboração entre o setor privado e iniciativas socioambientais pode gerar impactos significativos na preservação de biomas tão específicos como a Mata Atlântica. Com a participação ativa de proprietários rurais e o apoio de grandes parceiros como a Petrobras, o projeto não apenas promove a restauração ambiental, mas também fortalece a economia local e a conscientização ambiental, mostrando que é possível conciliar o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade.
*Oscar Lopes, publisher de NEO MONDO, viajou para Cachoeiras de Macacu (RJ) a convite da Petrobras
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