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POR – OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
“Olá! Sejam muito bem-vindos(as) a mais uma entrevista especial do portal NEO MONDO, onde discutimos os caminhos da sustentabilidade com quem está na linha de frente da transformação.
Hoje, temos a honra de receber uma das vozes mais relevantes na construção de uma nova economia mais justa, colaborativa e regenerativa.
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Nossa convidada é Lígia Camargo, diretora de Sustentabilidade do Grupo HEINEKEN no Brasil — uma liderança que acredita que sustentabilidade não é diferencial competitivo, mas uma essência corporativa para um futuro possível.
Vamos falar sobre ação climática, transformação de cadeias produtivas, inovação social e o papel do setor privado rumo à COP30. Prepare-se para uma conversa profunda, inspiradora e cheia de provocações construtivas.”
Lígia é publicitária de formação, com sólida trajetória em comunicação corporativa e sustentabilidade. À frente da área no Grupo HEINEKEN, ela tem liderado estratégias que integram metas climáticas ambiciosas com impacto social real. É idealizadora do ecossistema Heineken SPIN, e tem sido uma das principais articuladoras do setor privado em direção a uma economia mais colaborativa, justa e regenerativa.
Acompanhe a entrevista abaixo:
“Lígia, para começar, queria que você compartilhasse com a gente como a sustentabilidade se transformou de um tema periférico em um eixo central da estratégia do Grupo HEINEKEN no Brasil.“
Para o Grupo HEINEKEN, a agenda ESG sempre orientou as tomadas de decisão da companhia. Desde a chegada do grupo no país, o tema esteve no centro de nossa estratégia de negócio, transversal a todas as áreas e apoiando um dos nossos principais valores que pauta o respeito e o cuidado com pessoas e meio ambiente, sem deixar o resultado de lado. O “como fazemos” é tão importante como o nosso “o que fazemos”, e cada vez mais, sustentabilidade passou a ser uma área de grandes oportunidades para o negócio, garantindo eficiência, mitigando riscos, promovendo orgulho e aumentando nossa reputação.
Em junho de 2021, revisamos nossa estratégia e compromissos, e fomos a primeira grande cervejaria a anunciar a ambição de ser net zero em toda a cadeia de valor até 2040. Mais do que um compromisso, esse movimento foi um ponto de virada no nosso momento enquanto companhia. Em 2022, criamos a vice-presidência de Sustentabilidade & Assuntos Corporativos para colocar a pauta nas discussões da alta liderança e acelerar iniciativas que visam reduzir os nossos impactos.
Em 2024, para dar ainda mais força para as ações de ESG que já vinham sendo desenvolvidas pelo Grupo e enfatizar que a estratégia de Sustentabilidade da companhia é parte fundamental do crescimento dos negócios, lançamos HEINEKEN SPIN, nosso ecossistema de negócios de impacto. Ele nasceu como uma resposta ainda mais ágil aos desafios climáticos, conectando clima, água e comunidades. Vai além da produção de cerveja: é um ecossistema que nos conecta a parceiros estratégicos referências em suas áreas de atuação para trabalhar em frentes como circularidade de embalagens (com ênfase no vidro), agricultura regenerativa (com foco em carbono e água), transição energética e aceleração de marcas com propósito.
“Vamos falar do SPIN. Você menciona que ele é uma resposta concreta aos desafios do nosso tempo. Como esse ecossistema tem ganhado força e quais são os aprendizados dessa jornada de colaboração?“
HEINEKEN Spin nasce com um objetivo claro: inverter a lógica do modelo de negócios, desenvolvendo soluções para os desafios inerentes à nossa operação. Acreditamos que a roda dos negócios não precisa parar de girar, ela precisa somente de um novo sentido. E a única maneira de fazer isso com escala, impacto e velocidade, é atuando em colaboração com parceiros que entendem dos assuntos.
Desde o início, projetamos HEINEKEN SPIN como um ecossistema, não como um projeto isolado. Hoje, temos parceiros estratégicos como Ambipar, Rizoma, Ultragaz, Better Drinks, CUFA, entre outros. Cada um traz uma expertise complementar: da regeneração do solo à circularidade do vidro, energia renovável e aceleração de marcas de impacto. Esse é um dos principais aprendizados até agora: colaboração de verdade exige abertura, escuta e confiança. Não se trata só de unir marcas, mas de construir uma agenda comum, onde cada parceiro entra com o que faz de melhor — e todos ganham com o resultado coletivo.
Em pouco mais de um ano, SPIN já mostra seu potencial transformador de regenerar áreas da Mata Atlântica com sistemas agroflorestais produtivos, melhorar a retenção de água no solo, reduzir emissões, gerar empregos locais e ativar cadeias de logística reversa onde elas praticamente não existiam.
O que estamos construindo aqui é um modelo de negócio regenerativo e colaborativo. Um modelo que entende que o setor privado pode — e deve — liderar soluções que vão além da sua operação direta. E isso, para mim, é o futuro da sustentabilidade.
“A transição não é só energética, é também material. O vidro, por exemplo, tem um desafio histórico de reaproveitamento. Como vocês estão enfrentando isso de maneira estruturante?“
Esse é um dos principais desafios, de fato. O vidro é um material altamente sustentável, e infinitamente reciclável, mas que ainda enfrenta barreiras estruturais enormes no Brasil: baixa capilaridade da coleta, gargalos logísticos, remuneração pouco atrativa e, em muitos lugares, cadeia de reciclagem praticamente inexistente.
O que estamos fazendo, com SPIN, é atuar nesse problema de forma sistêmica, desenvolvendo a cadeia de circularidade do vidro onde ela não existe ou não se sustenta sozinha. Estamos trabalhando com a Ambipar para criar hubs logísticos de beneficiamento do material, estruturar rotas, melhorar o escoamento e garantir que a reciclagem aconteça na prática. A nossa meta é tratar 500 mil toneladas de vidro por ano até 2030. E mais do que volume, a gente quer garantir que esse processo seja economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo. Isso significa remunerar melhor quem está na ponta, dar escala aos sistemas e integrar toda a cadeia.
Esse olhar estruturante é fundamental. A transição para uma economia mais circular não vai acontecer com pequenas ações isoladas. Ela depende de colaboração, investimento e visão de longo prazo. E é exatamente isso que estamos construindo.
“A COP30 será um divisor de águas para o Brasil e para o mundo. Como o setor privado pode deixar um legado real e não apenas institucional nesse evento histórico?“
A COP30 é, sem dúvida, uma oportunidade histórica para o Brasil, mas também um chamado à responsabilidade. O setor privado precisa mostrar como está contribuindo na prática para transformar o discurso em ação e acelerar as soluções que o mundo – e a humanidade – precisam.
Pra HEINEKEN, o papel da empresa vai além do discurso institucional. Estamos falando de deixar legado, especialmente para a cidade que vai sediar a conferência. Isso significa projetos que continuem gerando impacto depois que os holofotes se apagarem: regeneração ambiental, inclusão social, cadeias produtivas mais resilientes, novas formas de colaboração.
A transformação não vem de compromissos futuros, vem de ações atuais. Decidir o que as o setor privado vai levar para a COP é tão importante quanto a decisão sobre o que o setor privado vai deixar para a COP. Esse é o tipo de ambição que move a gente.
“É inspirador ver uma Diretoria de Felicidade em uma grande corporação. Como esse cuidado se conecta com uma nova forma de fazer negócios, mais humana e regenerativa?“
A Diretoria da Felicidade nasceu da nossa convicção de que o verdadeiro sucesso das empresas começa pelas pessoas. No Grupo HEINEKEN, temos como foco cuidar das nossas pessoas, e isso inclui olhar para a saúde e bem-estar integral dos colaboradores, além de promover um ambiente seguro para que eles possam ser quem são e tenham suas questões e necessidades acolhidas, gerando um olhar de empatia com o outro. E o resultado disso é um time mais engajado, mais criativo e mais produtivo.
Isso se traduz em ações estruturadas, com base na psicologia positiva e em uma metodologia reconhecida e criada pelo psicólogo Martin Seligman, o PERMA-V, que trabalha pilares como emoções positivas, propósito, vitalidade e relacionamentos saudáveis. Mas não é só sobre bem-estar — é sobre performance sustentável. A Diretoria da Felicidade é um desdobramento natural da nossa cultura que consolida nosso compromisso com um modelo de liderança empático, humano e estratégico.
“Lígia, para encerrarmos, gostaria que você deixasse duas mensagens: uma para as lideranças empresariais que ainda enxergam ESG como custo, e outra para os jovens que desejam trabalhar com sustentabilidade e fazer a diferença.“
Gandhi já dizia:
“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação, mas se você não fizer nada, não existirão resultados.”
Hoje em dia, não fazer nada é mais caro do que fazer alguma coisa.
Para as lideranças empresariais: Sustentabilidade não é custo — é estratégia de futuro.
Empresas que ainda tratam ESG como um centro de despesa, e não como uma alavanca de valor, correm o risco de se tornarem obsoletas. O mercado está mudando — investidores, consumidores, talentos e reguladores estão cada vez mais atentos à responsabilidade ambiental, social e à governança corporativa.
Adotar práticas sustentáveis significa reduzir riscos operacionais e reputacionais, aumentar a resiliência diante de crises climáticas e sociais, e abrir portas para fontes de capital mais qualificadas e conscientes. Além disso, ESG bem integrado gera ganhos reais de eficiência, inovação e diferenciação competitiva.
Negócios sustentáveis não apenas sobrevivem — eles lideram. O futuro será liderado por empresas capazes de antecipar tendências, alinhar propósito a performance e gerar valor para todos os seus stakeholders.
Para os jovens: O futuro da Sustentabilidade precisa do seu talento, da sua coragem e do seu propósito.
Estamos vivendo um ponto de inflexão: o mundo precisa urgentemente de soluções para desafios ambientais e sociais complexos — e isso abre espaço para novas vozes, novas ideias e novas lideranças. Sustentabilidade não é apenas um setor: é uma mentalidade que precisa estar presente em todas as áreas — da engenharia ao marketing, do direito à tecnologia.
Se você sente inquietação diante das injustiças, se quer atuar com impacto real, saiba que há uma demanda crescente por profissionais comprometidos com transformação. Estude, conecte-se com iniciativas, pratique escuta ativa e construa repertório. Não espere “virar especialista” para começar — o mundo real é o melhor laboratório.
Coragem, ética e visão de longo prazo serão os principais diferenciais do profissional do amanhã. E o amanhã começa agora.
“Lígia, muito obrigado por compartilhar essa visão tão potente e coerente com os desafios do nosso tempo. Fica evidente que o futuro se constrói com colaboração, coragem e consistência — e é inspirador ver empresas como a HEINEKEN assumindo esse protagonismo com ações concretas.
Para quem nos acompanha, seguimos com a missão de dar voz às soluções, às pessoas e aos projetos que estão redesenhando os caminhos da sustentabilidade.
Essa conversa estará disponível no portal NEO MONDO e nas nossas redes sociais. Até a próxima!”