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Raízes que florescem: o plano que semeia o futuro da Terra Indígena Koatinemo

Escrito por Neo Mondo | 13 de maio de 2025

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Povo Asurini celebra marco histórico - Foto: Jéssica Santana

POR - OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO

Com apoio da Norte Energia, povo Asurini lança plano de gestão que une tradição, autonomia e sustentabilidade no coração da Amazônia

No coração vibrante da Amazônia, onde os rios traçam caminhos de memória e as árvores guardam histórias que sussurram ao vento, o povo Asurini celebra um marco histórico. Em um gesto coletivo de sabedoria, resistência e esperança, foi lançado o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Koatinemo, no Sudoeste do Pará.

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Mais do que um documento técnico, o PGTA é uma carta viva da ancestralidade. Um roteiro traçado com os pés na terra e os olhos voltados para o futuro — futuro este que respeita os ciclos da natureza e a autonomia dos povos originários. O plano foi elaborado com o apoio da Norte Energia, por meio do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI) da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e simboliza um momento de profundo reencontro entre saber tradicional e planejamento estratégico.

Durante o III Intercâmbio Cultural Asurini, realizado na aldeia Ita-aka, lideranças, jovens e anciãos reuniram-se para oficializar a entrega do PGTA. Ali, onde a floresta é mestra e a oralidade molda gerações, o cacique Kwain Asurini expressou com orgulho:

“Esse documento é uma garantia dos nossos direitos. Ele assegura nosso modo de viver, de praticar a nossa cultura. Demorou anos para ficar pronto e, com a parceria da Norte Energia, o Povo Asurini teve essa conquista. Estamos muito felizes de receber esse documento tão importante para a Terra Indígena Koatinemo.”

Um plano escrito com o tempo, a escuta e a floresta

O PGTA da TI Koatinemo é resultado de um processo construído coletivamente, que começou em 2023 e percorreu quatro etapas: sensibilização e mobilização, diagnóstico territorial, planejamento com rodas de conversa e validação final pelos próprios indígenas.

O plano reflete o olhar do povo Asurini sobre temas vitais: saúde, educação, cultura, atividades produtivas, proteção do território e fortalecimento institucional. É também uma ferramenta de implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), prevista no Decreto nº 7.747/2012.

Mais que orientar o uso dos recursos naturais e a preservação do patrimônio cultural — material e imaterial —, o documento propõe ações concretas para melhorar a qualidade de vida das cerca de 90 famílias que vivem em sete aldeias da região, a aproximadamente três horas de barco de Altamira.

foto do indígenas asurini, na terra indígena  Koatinemo
Plano de Gestão Territorial e Ambiental protege modos de vida que resistem há séculos - Foto: Jéssica Santana

Território vivo, cultura em movimento

Com 340 habitantes e uma rica herança cultural, o povo Asurini — ou Awaeté, como se autodenominam — vive na Terra Indígena Koatinemo, homologada em 1996. O território é coberto por floresta ombrófila aberta e enfrenta desafios como desmatamento, pressões externas ilegais e a ameaça da perda de saberes.

Segundo Sabrina Brito, gerente Socioambiental do Componente Indígena da Norte Energia, a entrega do plano materializa um esforço conjunto de escuta e ação:

“A construção do PGTA é um exemplo de processo participativo e reflete o compromisso da companhia com a proteção ambiental e territorial e o respeito aos povos indígenas. Entregar essa publicação no III Intercâmbio do Povo Asurini simboliza os bons frutos da parceria. O plano mostra como os indígenas se veem e como querem se ver ao longo do tempo. É uma semente para as próximas gerações.”

Um caminho que inspira o Brasil

Este é o segundo plano apoiado pela Norte Energia. O primeiro foi o dos povos Juruna (TI Paquiçamba) e Arara (TI Arara da Volta Grande do Xingu), lançado em 2019. Agora, com o PGTA da TI Koatinemo, mais uma iniciativa ganha vida, ampliando a perspectiva de governança territorial indígena e fortalecendo o elo entre autonomia e sustentabilidade.

Mais do que preservar florestas e rios, trata-se de proteger modos de vida que resistem há séculos, com sabedoria, leveza e firmeza.

Que este plano floresça — regado pelo conhecimento dos anciãos, pela força da juventude Asurini e pelo compromisso coletivo com um Brasil mais justo, plural e enraizado em sua verdadeira riqueza: a diversidade dos povos e de suas terras.

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