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greenTalks entrevista Silvia Massruhá, a primeira mulher a assumir a presidência da Embrapa

Escrito por Neo Mondo | 5 de fevereiro de 2024

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A jornalista Eleni Gritzapis (esq) e a presidente da Embrapa Silvia Massruhá gravando para o greenTalks - Foto: Oscar Lopes/Neo Mondo

Por - Eleni Gritzapis, especial para Neo Mondo

A temporada 2024 do videocast greenTalks - uma iniciativa pioneira entre a green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável - tem início com uma convidada muito especial, Silvia Massruhá. Ela é a primeira mulher a assumir a presidência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), um importante reconhecimento num ambiente com uma prevalência tão masculina quanto o setor agropecuário nacional.

Silvia Massruhá é doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mestre em Automação pela Unicamp e graduada em Análise de Sistemas pela PUC-Campinas. Mineira de Passos (MG), ingressou na Embrapa em 1989 e já liderou projetos na área de engenharia de software, inteligência artificial e computação científica aplicada à agricultura.

Num bate papo descontraído com a jornalista Eleni Gritzapis, Silvia fala sobre sua carreira disruptiva dentro da Embrapa, conectividade no campo, inclusão digital e as inovações tecnológicas emergentes que podem transformar ainda mais o setor agrícola brasileiro nos próximos anos, tendo a tecnologia como ferramenta indispensável para disseminar práticas mais sustentáveis na agropecuária. “Esse ano completo 35 anos de Embrapa e fico muito orgulhosa de ter sido convidada a ser a primeira mulher a ser presidente da entidade. Mais do que o reconhecimento da minha trajetória, sei da grande responsabilidade que tenho”, destaca.

Confira a entrevista na íntegra no greenTalks abaixo:

https://youtu.be/AdjKo48-Edc?si=eQk8ESEhIyUqzzP5

(greenTalks) Poucos sabem que a Embrapa tem trabalhado fortemente na inclusão digital para aumentar a sustentabilidade da agropecuária brasileira, especialmente para pequenos produtores rurais, que normalmente têm mais dificuldade de acesso a informações e a soluções tecnológicas. Inclusive, a Embrapa e parceiros vão desenvolver ações de inclusão digital em dez municípios brasileiros. Você pode nos contar mais sobre este projeto?

Antes de assumir a presidência da Embrapa, já vínhamos trabalhando junto ao Ministério da Agricultura, Ministério de Ciência e Tecnologia e o Comitê Gestor da Internet em iniciativas para trazer a internet para o pequeno e médio produtor rural, de uma forma mais estruturante para aumentar a competividade do pequeno e o médio produtor rural. É um projeto que visa mostrar como a tecnologia pode contribuir para agregar valor ao pequeno e médio agricultor, ajudando-o a reduzir custos, melhorar a gestão da propriedade e até mesmo trazer um selo de sustentabilidade. Nosso objetivo é criar 10 núcleos no Brasil, trabalhando com toda a cadeia produtiva.

Já temos um piloto no município de Caconde (SP), com a associação de produtores e cooperativas de café, em que primeiramente levantamos as necessidades daquela comunidade, identificamos os gargalos de pesquisa e inovação, em um trabalho conjunto entre a Embrapa e parceiros, como a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), e trabalhamos no modelo de conectividade mais adequado para a região do projeto.

Contemplamos três dimensões: pesquisa e inovação, conectividade e capacitação. Caconde, por exemplo, é uma região montanhosa, com diversos desafios e demandas para produtores de café, entre eles o de ter uma certificação para a produção. Por isso, envolvemos também startups, universidades e provedores de internet, ajudando, desta forma, a movimentar o ecossistema local. Além de capacitar os produtores naquela área, temos outros cinco subprojetos, entre eles um de monitoramento do impacto econômico, ambiental e social da inserção de novas tecnologia na produção. Temos ainda um grupo trabalhando com inteligência artificial e geotecnologia; outro com agricultura de precisão; outro com rastreabilidade e certificação e assim vamos agregando mais valor no sistema de produção de café na região.

Além de Caconde, temos pilotos com hortifruticultura em São Miguel Arcanjo (SP) e com sistema agroflorestal na região Norte, perto da ilha de Marajó. São realidades completamente diferentes, mas a ideia é criar modelos economicamente autossustentáveis ao término de cada projeto.

(greenTalks) Nos últimos tempos o agro brasileiro tem sido alvo de muitas críticas com relação à sustentabilidade. Sabemos que há também um grande desconhecimento da população urbana sobre a agropecuária, cercando o setor de mitos e inverdades. A informação é chave para combater estes mitos. Você pode compartilhar conosco alguns exemplos de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa que tem contribuído para implementar e disseminar práticas mais sustentáveis na agropecuária no Brasil?

Muito se fala da evolução da agricultura nos últimos 50 anos. Passamos de importador para grande produtor e exportador de alimentos, em três grandes ondas: a expansão da soja e grãos da década de 70; sistemas integrados consorciados, como a ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta); e hoje falamos de uma agricultura de base biológica e bioinsumos, evoluindo para uma agricultura mais multifuncional, onde a gente já não fala mais só de alimentos, mas também de fibras e energia, tudo de forma integrada. E a Embrapa tem papel fundamental nesta evolução sustentável.

Temos o desafio de aumentar a nossa produção e a nossa produtividade de forma sustentável com base em todas as três dimensões (econômica, ambiental e social). O Brasil é referência em agricultura tropical e temos que usar a tecnologia para também medir e mostrar índices de sustentabilidade. Hoje temos modelos para calcular essas métricas. A Embrapa já vem trabalhando com o cálculo da pegada de carbono para várias culturas há muitos anos. Conseguimos
pegar esses índices e tropicalizá-los para que não fiquemos refém de indicadores da América do Norte e da Europa, a partir da nossa experiência em agricultura tropical nesses últimos 50 anos. Ou seja, não adianta só falarmos que a nossa agropecuária é sustentável, temos que trazer números, métricas e indicadores, e tecnologia é muito importante para isso.

(greenTalks) Na sua perspectiva, quais são as inovações tecnológicas emergentes que podem transformar ainda mais o setor agrícola brasileiro nos próximos anos?

Hoje temos quatro grandes desafios. O primeiro é a transição nutricional, o consumidor está muito mais preocupado com nutrição e saúde e origem dos alimentos que consome. Ele quer transparência do processo de produção, e isso exige novas tecnologias de rastreabilidade, como blockchain.

Transição energética é segundo, ou seja, modelos de matriz de produção de energia limpa em que não haja competição com a produção de alimentos. Aí entra o etanol de segunda geração, por exemplo; o Brasil é o único país no mundo que tem duas, três safras de milho, o que não impacta a disponibilidade alimentar.

 A transição climática é outro obstáculo. Estamos tendo eventos climáticos extremos, como seca na região Norte e inundações no Sul, e a agricultura é uma das áreas que mais tem interferência do clima. Quando pensamos em pegada de carbono, a atividade agropecuária é o único setor da economia que pode sequestrar CO2. Um exemplo é a ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta), que possibilita um balanço negativo na questão de emissão de gases de efeito estufa.

Transição digital e adoção de novas tecnologias completam o quatro desafio, mostrando como todos estão completamente interligados. Sem inovações tecnológicas, não conseguimos fornecer dados e novos modelos para simular cenários futuros que impactem a produção a partir de informações de tendências de microclima, e até mesmo facilitar o acesso a sensores para pequenos e médios produtores utilizarem estações por biométricas e agrometereológicas que possam auxilá-los na tomada de decisões que impactem suas lavouras e produtividade,  só para citar alguns exemplos.

REALIZAÇÃO

LOGO DO GREEN4T, REALIZADOR DO GREEN TALKS

JORNALISTA RESPONSÁVEL

ELENI GRITZAPIS

PRODUÇÃO

logo grupo canat, produção do podcast green talks
imagem mostra banner do greentalks
Imagem - Divulgação


           

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