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Cientistas desenvolvem solução capaz de otimizar a resposta das plantas à crise climática

Escrito por Neo Mondo | 17 de junho de 2025

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Foto: Divulgação

POR - REDAÇÃO NEO MONDO

A iniciativa adota como base a nanotecnologia e integra o projeto paranaense de restauração da Mata Atlântica

Em uma dinâmica que se retroalimenta, o desmatamento da Mata Atlântica está entre os principais fatores de desregulação climática nas regiões Sul e Sudeste do Brasil — e é essa mesma desregulação que impede que uma parcela significativa do processo de restauração florestal de áreas desmatadas do bioma se concretize. Segundo o MapBiomas, o estresse abiótico — provocado por questões climáticas como déficit hídrico e elevadas temperaturas — compromete cerca de 46% das iniciativas de reflorestamento no Brasil, dificultando que o país alcance a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, objetivo estabelecido em 2017 pelo Decreto Nacional nº 8.972.

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Diante dessa realidade, o NAPI Biodiversidade: RESTORE (natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation) tem investido em “nanoaliados” capazes de ajudar as plantas a produzir uma resposta otimizada a diferentes tipos de estresses ambientais. A solução do RESTORE baseia-se na técnica de encapsulação de doadores de óxido nítrico — molécula que desempenha um papel crucial como sinalizadora em diversos processos biológicos nas plantas — por meio da utilização de nanomateriais biodegradáveis, como a quitosana, subproduto da indústria pesqueira. A nanoencapsulação permite que a planta beneficiada aproveite os efeitos do óxido nítrico por um período mais prolongado, tornando-se mais resistente.

Durante experimentos recentes conduzidos por membros do RESTORE, a aplicação de nanopartículas de quitosana contendo compostos de óxido nítrico foi testada em mudas de três espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica: jatobá-da-mata (Hymenaea courbaril), amburana (Amburana cearensis) e jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa). As mudas, após um período de aclimatação em sombra moderada, foram submetidas a diferentes concentrações das nanopartículas e do composto livre. Os resultados revelaram que a formulação nanoencapsulada é capaz de desencadear efeitos positivos sobre parâmetros fisiológicos, como fotossíntese, condutância estomática e acúmulo de biomassa. Embora as respostas tenham variado entre as espécies, a maior parte dos tratamentos superou as respostas das plantas que não foram beneficiadas pela solução, demonstrando o potencial do óxido nítrico — especialmente em sua forma nanoestruturada — como indutor de mecanismos protetores em espécies florestais sob condições adversas.

foto de solo degradado, remete a matéria Cientistas desenvolvem solução capaz de otimizar a resposta das plantas à crise climática

Esse tipo de abordagem é especialmente relevante quando se considera que 70% das áreas destinadas à restauração no Brasil apresentam solos degradados, baixa disponibilidade hídrica e presença de espécies invasoras que competem com as nativas. Segundo o coordenador do NAPI RESTORE, professor Halley Caixeta de Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), nesse cenário o uso de bioinsumos nanotecnológicos pode funcionar como um “impulso inicial”, garantindo que as plantas jovens consigam atravessar o estágio mais vulnerável de seu desenvolvimento. “Ao melhorar a eficiência no uso da água e otimizar a capacidade fotossintética, esses compostos ajudam a compensar as deficiências do ambiente a ser restaurado e a acelerar a regeneração ecológica”, pontua.

Além disso, a utilização de nanopartículas à base de quitosana traz vantagens adicionais em termos de sustentabilidade. Por se tratar de um polímero natural, biodegradável e de baixo custo, obtido a partir de resíduos da indústria pesqueira, a quitosana oferece uma alternativa ecologicamente responsável para a liberação controlada de moléculas bioativas. Essa característica não apenas reduz os impactos ambientais da intervenção, como também alinha a tecnologia aos princípios da economia circular, unindo inovação, conservação e reaproveitamento de recursos naturais.

“Ao fortalecer a resiliência fisiológica de mudas nativas frente ao estresse hídrico e térmico, os 'nanoaliados' representam não apenas uma inovação científica, mas uma ponte promissora entre a biotecnologia e a regeneração dos ecossistemas ameaçados”, reforça o coordenador do NAPI RESTORE.

Clique AQUI e conheça essa e outras iniciativas do NAPI.  

Sobre o NAPI Restore

O projeto NAPI Biodiversidade: RESTORE — sigla para natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation — representa uma resposta à demanda de iniciativas de restauração florestal, baseada em ciência, tecnologia e cooperação institucional. Coordenado pelo professor Halley Caixeta de Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o projeto reúne uma rede de diversas instituições, incluindo pesquisadores do estado de São Paulo, da França e da Alemanha, e conta com o aporte da Fundação Araucária e da SETI (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná). Seu foco principal é desenvolver soluções inovadoras para a produção de mudas mais resilientes e para a restauração de solos degradados em áreas de reflorestamento ecológico.

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