Esportes

Lições de vida.

Escrito por Neo Mondo | 2 de maio de 2017

Compartilhe:

POR - REDAÇÃO NEO MONDO
O que impressiona nesse brasileiro é a habilidade de utilizar a seu favor as situações adversas que a vida lhe impôs. Reverter o jogo da vida é, de fato, uma qualidade dos fortes. Morador da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, ex-militar, viu sua vida transformada após um acidente – foi atropelado por um carro, enquanto andava na calçada -, que o deixou com semi paralisia. Após dois anos de hospitalização e a amputação da perna esquerda, chegou em casa com as difíceis tarefas de reaprender a andar e planejar uma vida com mais limitações.
Reaprender a andar ele cumpriu, num processo lento e de sofrimento. Quanto à vida de limitações, nem pensar. Por orientação médica, começou a se envolver com atividades físicas para obter condicionamento. Iniciou caminhadas com muletas, passou às corridas de até 15km, praticou ginástica em academia, patinação, natação, surfe, frescobol, futebol, caça submarina e tornou-se mergulhador pro?ssional. A partir de 1984, descobriu a bicicleta como forma de lazer e, daí para as corridas de ciclismo e de mountain bike, sua grande paixão, foram poucos passos, aliás, muitas pedaladas. Alarico mantém um ritmo intenso de treinamento, utilizando a bicicleta como meio de transporte e estilo de vida. Pedala diariamente cerca de 70 km. “Em 1994, ?liei-me à Confederação Brasileira de Ciclismo e à Federação Estadual de Ciclismo e passei a participar o?cialmente de vários eventos de ciclismo, dando início assim a uma série de conquistas”. Um detalhe é que não participava como de?ciente físico, ele competia com atletas que tinham as duas pernas, na categoria sênior. Ele coleciona não apenas vitórias esportivas. Entre os troféus e medalhas que forram sua prateleira, estão histórias e prêmios muito mais valiosos. O envolvimento com o esporte, que por si só já agrega a inerente condição de superação, acabou despertando a atenção das pessoas por onde passava. Seu temperamento ajuda nesse sentido. Extrovertido e brincalhão, Ala impressiona por sua vitalidade e determinação. “Fui tomando, lentamente, a consciência de que podia de alguma forma, com a minha deficiência física e postura positiva diante da vida, influenciar e beneficiar outras pessoas.” – disse ele. Isso foi se tornando evidente durante os passeios e treinos, pelas ruas e praias cariocas. “Pedalando com uma única perna, chamava a atenção dos que passavam e comecei a ser parado na rua por desconhecidos que pediam minha ajuda. Solicitavam que eu conversasse com parentes e amigos que passavam por momentos difíceis de reabilitação, recuperação de doenças ou depressão” – contou ele. E mesmo que no começo, sem se dar conta, apenas vivendo intensamente, praticando atividades físicas e exercitando os mais difíceis exercícios que são o bom humor e o otimismo constante, Alá serve de estímulo e motivação para muitos. “Ouvi uma vez um depoimento que me marcou profundamente. Fui da minha casa na Ilha do Governador até a Barra, de bicicleta (cerca de 100 km). E parei para descansar em um lugar que sempre frequento. Um senhor, taxista, se aproximou, puxou conversa e me disse que há muitos anos me via por ali, praticando esportes. Ele relatou que um há tempo passou por um momento de grande depressão e que só não fez nenhuma besteira porque, na hora, lembrou de mim. Me dei conta da responsabilidade e da in?uência que exercemos simplesmente pelo modo como vivemos” – disse. Quem conhece Ala percebe, com nitidez, sua alegria de vida que permite, inclusive, que brinque com sua condição. “Sou um mutante, como o Volverine” – relata ele, seguido de uma gargalhada. Ele diz que agradece a Deus por tudo que lhe aconteceu, pois sua de?ciência lhe permitiu enxergar de outro modo a vida. “Antes, eu era uma pessoa sem noção. Não tinha responsabilidade com nada, com o próximo, com o meio ambiente, com a família. Quando me vi na condição de de?ciente físico, descobri o grande poder que possuo como ser humano. Todos nós somos importantes para o mundo. Hoje, só peço a Deus que me ajude a corrigir meus inúmeros defeitos” – afirmou ele. Alá é um homem de muitas habilidades, é heptacampeão carioca de mountain bike. Foi ainda seis vezes campeão brasileiro e um dos escolhidos para carregar a tocha dos Jogos Parapanamericanos, disputados no Rio de Janeiro em 2007. É também diretor paradesportivo da Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro (Facierj). Dentre suas atividades diárias, está a de artista plástico autodidata e premiado. Umas das suas mais importantes atuações é a de ativista da responsabilidade social, voluntário em uma instituição filantrópica, o GEID - Grupo Espírita Irmão Demetrius - que ampara cem famílias cadastradas com cesta básica, visitas a asilos e hospitais e amparo a moradores de rua. “A vida me ensinou que há tempo para tudo, para cuidar do corpo, da mente e também do nosso próximo”. Muito requisitado para ministrar palestras motivacionais sobre superação e transformação do homem, ele fala e se movimenta com desprendimento diante do público, por até 3h consecutivas. Se esse vigor e exemplo não motivarem os expectadores, o que o fará? “Em vez de sofrer e de me lamentar, agradeço a Deus pela vida fantástica que eu tenho. Ser diferente é normal. Eu acordo muito feliz para a minha rotina de trabalho, porque eu levanto da cama todos os dias com o pé direito” – concluiu o bem-humorado Alarico.

Compartilhe:


Artigos anteriores:

Grande Final da Taça das Favelas Brasil 2024 acontece na Arena Pacaembu, em São Paulo

Com foco na economia azul, painel de debates da SP Ocean Week 2024 reunirá especialistas em empreendedorismo sustentável e promoverá encontro entre startups e investidores

“Vamos buscar o oceano para todos”


Artigos relacionados