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Escrito por Neo Mondo | 18 de junho de 2025
Imagem gerada por IA - Foto: Divulgação
POR - OSCAR LOPES, PUBLISHER DE NEO MONDO
A menos de cinco meses da COP30, o governo brasileiro deu um passo controverso: leiloou 19 blocos para exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, ampliando a área concedida de 5,7 mil km² para 21,9 mil km². Simultaneamente, anunciou o Balanço Ético Global, uma iniciativa climática que soa como contrapeso simbólico a uma decisão que desafia a coerência ambiental do país.
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Dos 47 blocos ofertados na Margem Equatorial, 19 foram arrematados por um total de R$ 844 milhões, com ágio de 534%. As gigantes Petrobras, ExxonMobil, Chevron e CNPC estão entre as empresas vencedoras. No total, 34 blocos em cinco bacias sedimentares foram concedidos, rendendo ao governo quase R$ 1 bilhão.
Enquanto isso, do lado de fora do hotel na zona oeste do Rio de Janeiro onde ocorria o leilão, cerca de 250 manifestantes — incluindo lideranças indígenas e representantes da sociedade civil — ergueram faixas, cantaram palavras de ordem e denunciaram o que chamaram de "leilão da destruição".
O paradoxo é gritante: enquanto o Brasil se posiciona como líder na luta contra as mudanças climáticas, aprofunda sua dependência dos combustíveis fósseis justamente na região amazônica. Claudio Angelo, do Observatório do Clima, classificou o leilão como um ato de "dupla sabotagem": ambiental e diplomática. As potenciais emissões dos blocos concedidos, segundo ele, podem chegar a 11 bilhões de toneladas de CO2 equivalente — quase o dobro do que os EUA emitem por ano.
Para Ninawá Huni Kui, líder indígena acreano, a mensagem é clara: "O Brasil pode ser parte da solução, mas isso exige coragem política para dizer não aos leilões fósseis e sim à proteção permanente dos biomas".
A diretora interina da ANP, Patrícia Baran, afirmou não haver contradição em expandir a exploração de petróleo enquanto se promove a transição energética. Para ela, é possível "alcançar no futuro o nível de emissões que a matriz energética brasileira já possui hoje". A frase, no entanto, escancara uma lógica circular: como justificar mais extração de fósseis para manter um patamar de emissões já elevado?
Se por um lado o leilão andou, por outro mostrou a força da pressão popular: apenas 23 dos 118 blocos considerados sensíveis foram arrematados. Nenhum dos blocos sobrepostos a áreas de influência direta de terras indígenas foi vendido. Para Nicole Oliveira, diretora da Arayara, isso demonstra que a mobilização da sociedade civil tem impacto real.
No mesmo dia do leilão, o governo lançou o Balanço Ético Global, uma iniciativa para convocar diferentes segmentos da sociedade global a contribuírem com a agenda climática rumo à COP30. A proposta, entretanto, soa como um contraponto simbólico — quase um gesto de compensação discursiva — frente às escolhas feitas horas antes.
O leilão de blocos na Foz do Amazonas reabre uma ferida no discurso ambiental brasileiro. É possível liderar uma transição climática global e, ao mesmo tempo, expandir fronteiras fósseis em território sensível? As respostas precisam ir além das palavras e se refletirem em ações claras, corajosas e, sobretudo, coerentes com a urgência climática que vivemos.
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