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Ciência é vital para conter aquecimento global e a perda de florestas e de biodiversidade

Escrito por Neo Mondo | 17 de junho de 2025

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Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, e Eva Nguyen Binh, diretora do Instituto Francês: instituições firmaram memorando de entendimento para a realização de simpósios conjuntos entre pesquisadores do Estado de São Paulo e da França - Foto: Elton Allison/Agência FAPESP

Por - Elton Alisson, de Paris | Agência FAPESP / Neo Mondo

Avaliação foi feita por Bárbara Pompili, embaixadora francesa do meio ambiente, na abertura de fórum no Museu Nacional de História Natural de Paris; evento integra a programação da FAPESP Week França

Dez anos depois do Acordo de Paris, assinado em 2015 na capital francesa por 194 países e a União Europeia com o objetivo de limitar até o fim deste século o aumento da temperatura média global abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, tem sido observada uma série de retrocessos para atingir essa meta.

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A fim de promover o avanço dessa agenda climática e conter a crise do aquecimento global – que está interligado com a perda de florestas e da biodiversidade –, é preciso resgatar e recentralizar o papel da ciência.

A avaliação foi feita por Bárbara Pompili, embaixadora do meio ambiente, na abertura do Fórum Brasil-França sobre Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas, que acontece até amanhã (18/06) no Museu Nacional de História Natural (MNHN) de Paris.

Organizado pela FAPESP em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), o evento integra a programação da FAPESP Week França, iniciada em 10 de junho em Toulouse, na capital da região da Occitânia, no sul do país europeu.

“Dez anos após o Acordo de Paris, muitos ainda continuam a questionar a origem antrópica das mudanças climáticas ou duvidam da existência desse problema em si. Essas mesmas pessoas também minimizam a importância da perda da biodiversidade e seus impactos e rejeitam a ligação do meio ambiente com a nossa saúde, por exemplo. Não contentes, decidem atacar o termômetro, ou seja, a ciência e os cientistas”, disse Pompili.

“Por isso que fóruns como esse são importantes, porque reúnem os principais atores sociais nos quais podemos nos apoiar, que são os cientistas. Nesse sentido, devemos continuar a trabalhar juntos, além de nossas fronteiras, para podermos entender melhor a magnitude desses problemas e nos prepararmos melhor para o futuro”, avaliou.

Na opinião de Rita Mesquita, secretária nacional de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, as melhores soluções para enfrentar a mudança do clima são baseadas na natureza e, principalmente, na biodiversidade.

“Se quisermos ser capazes de enfrentar o aquecimento global, teremos de discutir biodiversidade no âmbito da mudança do clima e reconhecer que manter a natureza significa conservar a base de sustentação da vida na Terra”, pontuou.

Desafios às florestas

De acordo com Giles Bloch, diretor do MNHN, há uma grande variedade de florestas tropicais, boreais, mediterrâneas e temperadas no mundo e, como todas as formações vegetais, estão sujeitas a múltiplas influências, como do clima, formação de solo, altitude e até mesmo do tempo.

“Isso significa que a floresta é um ecossistema complexo que oferece numerosos hábitats para diversas espécies e populações animais, plantas e microrganismos que mantêm relações de interdependência. Isso nos convida a refletir sobre as ameaças que pesam sobre as florestas e, ao mesmo tempo, destaca a urgência de sua conservação”, afirmou.

“As florestas, além da notável biodiversidade, também desempenham um papel central na regulação do clima e funções econômicas essenciais, e estão sujeitas a fortes pressões ligadas às atividades humanas e às mudanças ambientais. Mantê-las, portanto, representa um grande desafio”, avaliou.

Esse desafio é especialmente maior para países como o Brasil, que possui mais da metade de seu território coberto por florestas, sublinhou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.

“São quase 5 milhões de quilômetros quadrados. Essas florestas e matas estão mais concentradas na região amazônica, mas, de fato, estão distribuídas em todas as regiões do Brasil, inclusive no Estado de São Paulo”, apontou.

Zago destacou que a FAPESP é responsável pelos maiores e mais bem-sucedidos programas estratégicos de pesquisa sobre biodiversidade, mudanças climáticas globais e energias renováveis no Brasil.

“A FAPESP já financiou mais de 5,7 mil projetos relacionados com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável [da Organização das Nações Unidas] 6, sobre água potável e saneamento, além de quase 4 mil projetos sobre o ODS 13, de ação contra a mudança climática global, e 1,8 mil sobre o ODS 15, relacionado à vida terrestre. O programa BIOTA-FAPESP, iniciado há 25 anos em São Paulo, é conhecido como um instituto virtual da biodiversidade, reúne mais de 1,2 mil pesquisadores de todo o país e já financiou mais de 350 projetos”, elencou.

“Estamos aqui para discutir, pensar juntos soluções para as questões das relações das florestas, da biodiversidade e de suas populações com a sociedade em geral. A FAPESP sempre estará disponível para apoiar essas pesquisas, em especial aquelas feitas em colaboração entre São Paulo e a França”, disse o dirigente.

foto ilustrativa gerada por ia, mostra 2 mulheres e 2 homens conversando tendo ao fundo foto do planeta terra, remete a matéria Ciência é vital para conter aquecimento global e a perda de florestas e de biodiversidade
Imagem gerada por IA - Foto: Ilustrativa/Divulgação

Colaboração com a França

A FAPESP é uma das principais agências de fomento parceiras da Agência Nacional de Pesquisa (ANR) da França, destacou Claire Giry, presidente da instituição.

“Nossa parceria com a FAPESP se insere em uma abordagem compartilhada entre as duas instituições voltada a promover a excelência científica. Pesquisadores dos dois países têm trabalhado juntos em temas de interesse comum, em um sistema de avaliação científica de projetos realizada pela ANR desde 2011 que permite que os resultados de projetos aprovados por uma agência parceira sejam reconhecidos, em última instância, por outra.”

O apoio a projetos de pesquisas conjuntas sobre florestas pela FAPESP possibilitou que a ciência brasileira desse uma contribuição importante nos últimos 30 anos no avanço da compreensão sobre a relação histórica profunda entre as populações indígenas e tradicionais e a vida na floresta amazônica, disse Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP).

Até o final da década de 1990 havia uma hipótese corrente para explicar a antiguidade da presença indígena na Amazônia baseada na ideia de que a floresta era uma região insalubre e inóspita e que nunca tinha sido densamente ocupada no passado.

Por meio de pesquisas arqueológicas realizadas por pesquisadores do MAE e do Museu Paraense Emilio Goeldi, em Belém, em alguns casos em parceria com colegas franceses, foi possível demonstrar que a Amazônia é ocupada há pelo menos 13 mil anos pelos povos indígenas e que é um local muito importante de produção de água e biodiversidade.

“Plantas que são consumidas no mundo inteiro foram cultivadas primeiro na Amazônia pelas populações indígenas. As cerâmicas mais antigas do Novo Mundo foram produzidas primeiro lá, e os povos indígenas modificaram a floresta, de modo que a floresta que conhecemos hoje não é só patrimônio ecológico, mas também biocultural”, afirmou.

“Existe uma contribuição intelectual fundamental feita pelas populações tradicionais que criou essa Amazônia que a gente conhece hoje e, portanto, não existe futuro para a floresta sem contemplar esses conhecimentos sofisticadíssimos que foram exercidos na promoção dessas paisagens”, sublinhou.

Durante o evento, a FAPESP assinou um memorando de entendimento com o Instituto Francês que possibilitará a realização de simpósios conjuntos entre pesquisadores do Estado de São Paulo e da França.

“Alguns dos temas prioritários são clima e transição ecológica, o diálogo com a África e democracia e globalização justas, que também estão intimamente ligados”, disse Eva Nguyen Binh, diretora do instituto.

Também participaram da abertura do evento André Maciel, ministro conselheiro da embaixada do Brasil em Paris, e Jean-Pierre Clamadieu, presidente do grupo Engie.

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