Baleia-jubarte – Foto de Leonardo Merçon ( Últimos Refúgios)
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Três expedições em alto mar devem ser realizadas este ano para registrar a “fila indiana” de jubartes rumo ao Nordeste brasileiro
A temporada de migração das baleias-jubarte teve início com muitos registros de indivíduos no litoral carioca em meados de junho, incluindo as praias da zona sul. Mas, essa é apenas a ponta do iceberg: o verdadeiro corredor migratório, usado anualmente durante o inverno para alcançar os criadouros na região Nordeste do Brasil, ocorre em alto mar. É onde as jubartes adultas nadam em alta velocidade rumo ao nordeste do país, onde irão se reproduzir. Embora conhecido, esse corredor nunca foi estudado profundamente – e é exatamente esse o objetivo das pesquisas do Projeto Ilhas do Rio, conduzido pelo Instituto Mar Adentro – com a curadoria técnica do WWF-Brasil e patrocínio da Associação IEP e JGP.
“As baleias-jubartes mais jovens se aproximam mais da costa do Rio de Janeiro e, por isso, são as mais avistadas pelos banhistas, remadores e barcos de passeio. Mas, a grande maioria dos animais, especialmente as adultas, passam mais afastados do litoral, em alta velocidade e em “fila indiana” – um fenômeno que já foi observado, mas nunca explorado pela ciência”, explica a Drª Liliane Lodi, bióloga do Projeto Ilhas do Rio e especialista em cetáceos. “Agora teremos a chance de registrar algo inédito”, destaca. Para favorecer a investigação científica, os cruzeiros incluirão cinegrafista com drone para captura das imagens aéreas da migração das baleias, a partir do final de julho.
Há tempos que os pesquisadores monitoram os padrões de ocorrência, distribuição, comportamento e movimentos dos cetáceos. O estudo, em andamento, já registrou a ocorrência de seis espécies de cetáceos: baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae); baleia-de-bryde (Balaenoptera brydei); baleia-franca-austral (Eubalaena australis); orca (Orcinus orca); golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis); e o golfinho -nariz-de-garrafa-comum (Tursiops truncatus).
Todas essas espécies estão no litoral carioca, mais especificamente na unidade de conservação federal, Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MONA Cagarras) e na área compreendida entre a barra da Baía de Guanabara, praias da zona sul, ilhas e adjacentes. Esta região é reconhecida pela aliança internacional Mission Blue como um Hope Spot – extensão com grande abundância e diversidade de espécies, habitats ou ecossistemas, com populações raras, ameaçadas ou endêmicas que carecem de proteção – pois é crítica para a saúde dos oceanos.
Baleia-jubarte – Foto: Liliane Lodi
“Esse estudo do corredor migratório é muito importante, pois gera dados de ocupação de seis espécies de baleias e golfinhos que ocorrem dentro da Unidade de Conservação e entorno. Além disso, são levantados dados sobre interação entre os golfinhos e baleias com o lixo flutuante, o que representa um risco para a fauna marinha. Os resultados sobre ocorrência e fidelidade dos cetáceos nesta Unidade de Conservação e áreas adjacentes serão apresentados ao órgão gestor”, detalha a Drª Lodi.
Vinicius Nora, analista de conservação do WWF-Brasil, explica que essas informações devem auxiliar em políticas públicas, de forma a diminuir a captura acidental, as colisões com embarcações e o vazamento de lixo plástico e outras formas de poluição, colaborando com a preservação das espécies. “O habitat marinho vem sofrendo de maneira crônica inúmeros impactos. Os dados da pesquisa corroboram a necessidade de olharmos atentamente e propor ações efetivas para a preservação da vida desses cetáceos, tão importantes do ponto de vista ecológico e para o engajamento da sociedade pela manutenção das unidades de conservação”, afirma.
Desenvolvido desde 2004 pela Dra. Lodi, este acompanhamento é hoje a linha de pesquisa com a maior série temporal na região, contendo dados e imagens de seis espécies de cetáceos que ocorrem na região fluminense. O monitoramento é realizado por meio de saídas em barco para as ilhas do MONA Cagarras e entorno para atualização do catálogo fotográfico dos animais individualmente identificados através de marcas naturais; análise do histórico de avistagem e reavistagem para determinar a fidelidade de área, residência e movimentos. Esse trabalho permite a ampliação da análise espaço-temporal da ocorrência, através da plotagem de informações em mapas, possibilitando uma interpretação da sua distribuição, a indicação de áreas importantes para a conservação e a conexão de dados com outras pesquisas e projetos.
As fotografias são examinadas para comparação com as pré-existentes no catálogo de indivíduos identificados através de programas de computador especializados. Os dados das avistagens são georreferenciados para a elaboração de mapas as áreas preferencialmente utilizadas pelos cetáceos. Além disso, os pesquisadores fazem análise das ameaças – interações com redes de pesca, a captura acidental de cetáceos devido à intensa atividade de pesca industrial e artesanal na área costeira, o tráfego intenso dos navios que causam poluição acústica, e ainda o lixo flutuante.
O estudo desenvolvido pela equipe da Drª Liliane foi tema de artigo publicado recentemente na revista Marine Ecology Progress Series. O texto destacou a influência de variáveis ambientais e antropogênicas no uso do habitat por baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) e baleias-bryde (Balaenoptera brydei) na costa da cidade brasileira do Rio de Janeiro. Os autores usaram técnicas de SIG (Sistema de Informação Geográfica) para modelar o uso do habitat dessas espécies de cetáceos na orla urbana da cidade do Rio de Janeiro, incluindo os ecossistemas insulares (Lodi e colaboradores, em 2020). Ali, os autores destacaram que as baleias jubarte usam o entorno das Ilhas do MoNa Cagarras como um corredor azul quando desembarcam das águas frias da Antártica para migrar para as mais quentes no Nordeste do Brasil.
Vídeo
https://drive.google.com/file/d/1TlxtW3EpOy4szXw1VqoBYY6xL1cJY22k/view
Baleias-jubartes – Foto: Mundo Animal