Raquel Machado e araras – Foto: Divulgação
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
A alteração, planejada pela fundadora da instituição, médica e ativista ambiental, é uma homenagem a seu avô, defensor do bioma amazônico desde a década de 1940, quando ainda nem se falava em conservação no país
Em 2023, quando comemora três anos de atuação (a serem completados em outubro), o Instituto Raquel Machado expande suas fronteiras, define novos objetivos e projetos, estabelece metas e muda de nome. A partir de agora passa a se chamar Instituto LiBio, uma homenagem da médica dermatologista que até agora emprestava sua identidade à instituição a seu avô, Líbio Vieira Machado. Capixaba conhecedor da Amazônia, defendia a natureza e a necessidade de se preservar o bioma desde a década de 1940, quando ainda nem estava em uso corrente a palavra conservação nem hasteadas as bandeiras em prol do meio ambiente .
Mas não se trata apenas de uma mudança de razão social. A partir de agora, a entidade, fiel a seus eixos de atuação – reabilitação de animais, educação ambiental e criação e gestão de refúgios –, amplia seus horizontes, fincando raízes em diferentes regiões do país e expandindo seu portfólio de atividades. Nesse sentido, dá continuidade a seu permanente propósito de combater o tráfico de animais silvestres, trabalhando para reabilitá-los, promovendo a devolução a seus ambientes naturais e defendendo o fim do desmatamento em diferentes ecossistemas brasileiros, os hábitats originais de inúmeras espécies da fauna nacional. A mesma motivação de Líbio, de quem Raquel herdou, apesar da pouca convivência (ela tinha 9 anos de idade quando ele faleceu),a consciência de se manter a floresta de pé e os animais livres em seus ambientes de origem.
Diante de uma nova fase que se inicia, a fundadora do instituto afirma: “2022 foi um ano desafiador, mas repleto de conquistas. Hoje, abrimos espaço para o início de um novo momento, um período que começa trazendo a sensação de renovação e nos preenchendo de otimismo e esperança. Com a virada de ano iniciamos um capítulo de nossa história cheio de possibilidades e novos voos, para trabalhar ainda mais pela preservação da nossa fauna e alcançar melhorias efetivas para o meio ambiente e para a conservação da natureza”, antecipa Raquel.
Trajetória de desafios e conquistas
Para chegar a esse momento de ampliação do raio de ação do instituto, há de se compreender a trajetória dessa médica e ativista ambiental. Nascida e criada em Belo Horizonte (MG), mudou-se em 2004 para São Paulo, onde reside e clinica. Vivendo na metrópole paulistana, sentia falta de um contato mais próximo com a natureza. Encantada pelo Rio Tietê na região de Sorocaba, adquiriu um sítio em Porto Feliz, onde, inicialmente, pretendia trabalhar pela proteção da área. Mas se deparou com um papagaio em cativeiro, deixado pelo antigo proprietário, fato que a indignou.
Ao procurar entidades responsáveis para saber como lidar com a situação da ave, tomou conhecimento sobre a realidade de espécies silvestres, uma situação em que poucas conseguem ser reabilitadas. Devido ao grande número de animais recebidos ou resgatados pela Polícia Ambiental e Ibama, que não dispunham de espaços para mantê-los de forma adequada, a ativista se sensibilizou e decidiu construir recintos direcionados à manutenção da vida silvestre.
“Hoje, com o mantenedor, buscamos fornecer a esses animais a oportunidade de uma vida mais saudável e justa, onde são cuidados de maneira profissional com o respeito que merecem”, afirma Raquel. No local – que tem capacidade para abrigar 150 animais – há vários exemplares da fauna silvestre vítimas de tráfico, maus tratos e atropelamentos que são acolhidos para um lento processo de reabilitação. “Trabalho para proporcionar qualidade de vida para eles e meu sonho é reinserir todos na natureza”, diz.
Ainda no mantenedor, a presidente do instituto desenvolve um projeto permanente de educação junto às escolas da rede municipal de ensino de Porto Feliz. “Atuamos no sentido de educar para conservar. Para que tenhamos adultos conscientes, precisamos sensibilizar os jovens hoje. Espécies silvestres devem permanecer soltas na natureza. Animal não é entretenimento nem pet de estimação”, afirma Raquel.
Nessa contínua trajetória, a criação do instituto, em 2020, ocorreu como uma decorrência face à necessidade de informar a população sobre a realidade da vida silvestre, promovendo conscientização sobre a urgência da conservação da natureza e da biodiversidade do país. Hoje, a entidade administra o mantenedor de Porto Feliz e duas RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural) no Mato Grosso do Sul, as Reservas Saci e Santuário. No sul do Pará, na região amazônica do Rio Azul, implementa uma iniciativa de ecoturismo voltada à conservação de um importante corredor ecológico que integra os rios Azul e São Benedito. A intenção é promover expedições guiadas para difundir a necessidade de preservação, assim como angariar recursos e estabelecer parcerias.
A iniciativa de Raquel, que tem por missão promover a proteção da fauna silvestre brasileira via o manejo responsável, acolhimento, reabilitação, soltura na natureza e educação ambiental visando inibir o tráfico e a caça, além de atuar na proteção de ambientes naturais e recuperação de áreas degradadas, tem como alicerce valores que se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, com destaque para o 15º, que prevê: “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável de ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade”.
