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ARTIGO
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Por – Danilo Maeda, head da Beon, consultoria de ESG da FSB Holding, especial para Neo Mondo
Enquanto as principais lideranças econômicas e políticas do mundo se reuniam em Davos, nos Alpes Suíços, para o Fórum Econômico Mundial, a organização da sociedade civil Oxfam divulgou seu relatório “Desigualdade S.A.”, no qual ficou evidenciado o agravamento do tema e a urgência de estratégias que revertam a tendência de concentração de riquezas e poder em poucas mãos. Desde o início da década, por exemplo, a fortuna dos cinco bilionários mais ricos do mundo mais do que dobrou, enquanto 60% da humanidade ficou mais pobre.
A desigualdade crescente não é exatamente uma novidade. O próprio relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial sinalizava, há dois anos, temas como “erosão da coesão social” e “crises de subsistência” entre as dez maiores preocupações de lideranças e especialistas em riscos. O crescimento das desigualdades era apresentado como um fator relevante de instabilidade. Em outras palavras, o abismo atual é tão grande que rupturas sociais se tornaram um risco relevante para o mundo dos negócios.
A desigualdade global se manifesta em todas as esferas da vida social e econômica. Por exemplo: Segundo a Oxfam, o 1% mais rico do mundo detém 43% de todos os ativos financeiros globais e emite tanto carbono quanto os dois terços mais pobres da humanidade. Enquanto isso, populações pobres são as mais expostas aos riscos e impactos das catástrofes que tem se agravado como consequência da emergência climática – por isso temas como justiça e racismo climático são tão fundamentais.
No Brasil, o problema é ainda mais profundo. Conforme o Relatório Global de Riqueza de 2023, produzido por UBS e Credit Suisse, nosso país lidera a lista de 14 economias relevantes em concentração de riqueza pelo 1% do “topo da pirâmide” com 48,4% em 2022, 7 pontos percentuais acima da Índia, que ocupa o segundo lugar da lista com 41% e 12 pps acima dos Estados Unidos, que registrou 34,2%. O Brasil também tem o maior coeficiente Gini (que mede o grau de concentração de renda em uma escala de 0-100) do grupo pesquisado, com pontuação de 88,4 em 2022, 4 pontos acima do registrado em 2000, o que representa o crescimento da desigualdade no País nas últimas duas décadas.
Para além da concentração, o crescimento das desigualdades gera consequências sociais importantes para quem está na base da pirâmide. Segundo a Oxfam, nas últimas duas décadas “os preços estão aumentando mais do que os salários em todo o mundo, com centenas de milhões de pessoas vendo seus rendimentos comprarem menos todos os meses e suas perspectivas de um futuro melhor desaparecerem”.
Do outro lado, o crescimento da riqueza extrema tem acelerado. “Os bilionários estão 3,3 trilhões de dólares – ou 34% – mais ricos do que no início desta década de crise, com um patrimônio que cresce três vezes mais rapidamente do que a inflação”, relata a organização internacional. Adicionalmente, os compromissos com qualidade de vida e justiça econômica ainda são raros: “apenas 0,4% das mais de 1.600 maiores e mais influentes empresas do mundo se comprometeram publicamente com o pagamento de salários dignos a seus trabalhadores e apoiam isso em suas cadeias de valor”.
Há dois anos, quando o Fórum Econômico Mundial mapeou temas ligados à desigualdade como riscos relevantes, escrevi que o mercado parecia ter percebido como está tudo interligado. À época, o grupo já havia mapeado que tal cenário “criará tensões — dentro e além das fronteiras — que podem piorar os impactos em cascata da pandemia e dificultar a coordenação necessária para enfrentar desafios comuns como ação climática, segurança digital, restauração de meios de subsistência e a coesão social”.
Diagnóstico certeiro que antecipou de certa forma os conflitos armados deflagrados desde então, mas que não foi suficiente para orientar decisões e medidas práticas para redução das tendências atuais de concentração de riqueza e poder às custas de condições de vida mais duras para a maioria da população.