Faixada principal da casa – Foto: Divulgação
POR – LÉA PENTEADO*, ESPECIAL PARA NEO MONDO
Em 1948 quando Oscar Americano concebeu e desenvolveu o projeto de uma casa fora do centro de São Paulo, no longínquo bairro do Morumbi, ainda não havia o sentimento de preservação ambiental que se espalharia pelo mundo décadas depois. Pioneiro, escolheu uma área para construir a casa onde viveu por 20 anos com a família que, após o falecimento da esposa Maria Luisa Ferraz Americano, transformou em fundação. Quando desbravou a zona oeste, encontrou como vegetação pinheiros e eucaliptos. Foi aí que ele implantou um rico e diversificado parque onde estão as principais árvores da flora brasileira.
O paisagista Otávio Teixeira Mendes foi escolhido para projetar e implantar o parque, e o contrato estabelecia que seus serviços seriam pagos “por árvore de qualidade, plantada e vingada”. Hoje quem caminha pelos 74 mil ms2 do parque, uma das mais importantes reservas ecológicas da cidade de São Paulo, encontra jacarandás, sibipirunas, angicos, paus-ferro, paus-brasil e muitos outros, retrato vivo e condensado da extensa riqueza natural do Brasil. Um espaço que oferece ao público a oportunidade de passear, ler, meditar, brincar com as crianças em meio a natureza, e também apreciar obras de arte, assistir concertos e palestras literárias ou fazer uma refeição no Salão de Chá.
A casa projetada pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke em 1950, transformada em Fundação Maria Luisa e Oscar Americano em 1974 e, seis anos depois, quando foi aberta ao público, já era praticamente um museu. Com algumas adaptações internas de modo a permitir a distribuição organizada do acervo para visitação, a coleção inicial teve como base os objetos de arte pertencentes a família, tais como pinturas, esculturas, porcelanas pratas e móveis. Ao longo do tempo, foram sendo adquiridas novas peças, de natureza e épocas distintas, que vieram a formar o acervo atual, composto dos seguintes núcleos principais: Brasil Colônia (mobiliário, prataria, exemplares de arte sacra brasileira e pinturas do artista Holandês Frans Post), Brasil Império (esculturas, pinturas, gravuras, louças, móveis, pratas, comendas e adereços que retratam usos e costumes do período) e Mestres do Século XX (obras de Victor Brecheret, Lasar Segall, Alberto da Veiga Guignard, Di Cavalcante e Cândido Portinari).”
Foi também nesta época que surgiram os concertos de música de câmara e hoje, além dos presenciais, com a pandemia surgiram os online, ambos trazendo uma gama de reconhecidos músicos nacionais e internacionais. As apresentações são aos domingos às 11h30 no auditório da casa (agenda no https://www.concertosfmloa.com/) e em 2022, com o retorno presencial 45 artistas, mais de 1100 minutos de música, em 18 espetáculos foram assistidos por aproximadamente 10 mil pessoas, presenciais e online.
A literatura ganhou espaço no ano passado com a criação da Série Literária que, a cada dois meses, homenageou autores em datas comemorativas como Shakespeare, Fenando Pessoa, Nelson Rodrigues, José Saramago e Clarice Lispector, debatidos, apresentados e comentados por 25 estudiosos. Acompanhando os encontros a Série Literária os homenageados foram retratados em exposições que permaneceram abertas apreciadas ao longo dos meses.
Este ano a Série Literária já reverenciou Shakespeare em abril e Machado de Assis em junho. Nos próximos meses os assuntos serão voltados para as obras de Cora Coralina, em agosto, Vinicius de Moraes em outubro e Adélia Prado em dezembro. E ainda num projeto em parceria com a Academia Paulista de Letras serão realizadas quatro palestras, duas já aconteceram em maio e junho reunindo Ignácio de Loyola Brandão e Gabriel Chalita; e Maria Adelaide Amaral e Antonio Penteado Mendonca, e em setembro Jorge Caldeira a Mary Del Priore falarão de “São Paulo dos Primórdios à Revolução de 32”, e em outubro “A Música e São Paulo” será o tema para uma boa conversa entre os maestros Julio Medaglia e João Carlos Martins.
A História do Brasil se faz lembrada em palestras com curadoria de Paulo Rezzutti que já trouxe a obra de Tarsila do Amaral, e dia 8 de julho trará como tema “Princesas Isabel e Leopoldina”, em 2 de setembro a “Imperatriz D. Amélia”, e em 11 de novembro “Condessa de Barral”. A Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, tem como diretor cultural Eduardo Monteiro um dos mais atuantes pianistas brasileiros e está aberta de terça a domingo, das 10 às 17h30, o ingresso é R$ 20,00 (estudantes e maiores de 60 anos: R$ 10,00) e todas as terças-feiras a entrada é gratuita. Através de seu compromisso com a preservação do meio ambiente, promoção da cultura e realização de eventos de alta qualidade, continua a se destacar como um oásis no coração da maior capital da América Latina.
Léa Penteado é jornalista e vice-presidente do conselho de turismo de Santa Cruz Cabrália.